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SMU vai lançar nova área para alta renda e institucionais - Finsiders

Fundada há quase dez anos, a SMU foi pioneira no crowdfunding de investimentos, um mercado que cresceu 22x entre 2016 e 2021 e acaba de ganhar uma nova regulamentação. Assim como o segmento, a empresa — que já fez 42 captações na plataforma e soma aproximadamente 6 mil investidores ativos — também evoluiu e agora está ganhando musculatura.

Entre as novidades está o lançamento nos próximos meses de uma nova área dedicada a investidores de alta renda e institucionais, como family offices. Até o fim de agosto, a SMU também vai tirar do papel o projeto de mercado secundário, aprovado dentro do sandbox da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Em entrevista exclusiva ao Finsiders, o sócio-fundador Diego Perez — recém-alçado a CEO — fala sobre esta nova fase da empresa, detalha os planos e projetos para o ano, e comenta ainda sobre a crise que assola o ecossistema de startups. “O ano não está muito favorável para as startups, mas ao mesmo tempo mercado em baixa representa oportunidades”, diz.

Finsiders: Você acaba de assumir como CEO, e o Rodrigo Carneiro vai liderar um projeto com foco no B2B. O que muda, na prática?

Diego Perez: Estamos expandindo a atuação da SMU para que não seja somente plataforma, e a ideia é redirecionar para algo mais tecnológico. Então, estou direcionando mais minha atuação para absorver [esse novo momento]. O Rodrigo [Carneiro, também cofundador da SMU] vai desenvolver uma nova área dentro da SMU, com certa autonomia, para atender investidores de alta e institucionais. E a nova regulamentação vai exigir adaptações tecnológicas. Por exemplo, a plataforma também vai atuar como uma espécie de escriturador, e isso vai exigir desenvolvimento tecnológico. Ao mesmo tempo, fomos aprovados no sandbox da CVM para fazer uma espécie de ‘secundário soft’, o que demanda controles tecnológicos e vai exigir uso intensivo de tecnologias, algumas disruptivas e emergentes como blockchain e ‘matching engine’.

Finsiders: Como vai funcionar essa nova área para institucionais e alta renda?

Diego Perez: Na nova área, estamos mirando pessoas de alta renda, ou seja, que têm recursos disponíveis para investir cheques maiores, ou ainda os family offices. Vamos entregar para esse perfil de investidor uma nova classe de ativos, ou organizar o formato de investimento nessa classe. E isso começa com a estruturação de um fundo da SMU, e esses investidores entram como cotistas. É uma espécie de micro Venture Capital, mas que vai investir em ofertas públicas de startups nas plataformas. Foi um gap de mercado que enxergamos. Temos investidores que colocam de R$ 300 mil a R$ 400 mil em ofertas da plataforma.

Finsiders: A SMU ficará responsável por selecionar as startups que vão receber investimentos?

Diego Perez: Dentro da estratégia e regulamento do fundo, a SMU vai selecionar startups para receber investimentos. Provavelmente o veículo será um FIP [Fundo de Investimento em Participações]. Ainda não definimos os detalhes, o fundo está em construção. Mas provavelmente vamos ter um veículo principal, e podemos criar veículos debaixo, por exemplo, um que invista em fintechs, outro em healthtechs. Tudo seguindo o regulamento da CVM.

Finsiders: E o projeto do secundário, como está o andamento?

Diego Perez: No sandbox, conseguimos aprovação para um ano. [O projeto] começaria em 1º de junho, mas conseguimos prorrogação para que seja iniciado em 30 de agosto.

Finsiders: O prazo agora está confortável? Quais os desafios que enfrentaram?

Diego Perez: O prazo está confortável para lançar um MVP, não a versão completa. Os principais desafios foram atender aos requisitos regulatórios, como elaboração de documentos, o regulamento de como vai funcionar esse mercado, políticas de compliance, combate à lavagem de dinheiro. Estamos seguindo a regulamentação da CVM para mercados organizados. O outro desafio é a integração tecnológica. O projeto está sendo desenvolvido com a nTokens e a Digitra.com, do Rodrigo Batista [que foi um dos fundadores do Mercado Bitcoin]. A Digitra está licenciando a tecnologia de mercado de balcão organizado, a nTokens toda a parte de tokenização e a SMU está desenvolvendo todo o front-end.

Finsiders: Vocês estão ampliando a atuação, mas como está a plataforma, a origem do negócio?

Diego Perez: Temos um portfólio de 42 empresas que captaram cerca de R$ 55 milhões. E atualmente seis estão em captação. Pretendemos até o fim do ano ultrapassar 60 ofertas concluídas. Fizemos projeções conservadoras para, no máximo, igualar o ano passado. Em 2021, foram cerca de R$ 20 milhões captados, com praticamente uma oferta concluída por mês.

Finsiders: Já tiveram eventos de liquidez?

Diego Perez: De 2013 a 2015, ficamos construindo comunidade. Em 2015, saiu a primeira oferta, da própria SMU. Mas os resultados das captações daquela época estão começando a aparecer agora porque a regulação saiu em 2017, com prazo de adaptação para 2018. Daí, sim, as ofertas de crowdfunding de modo geral cresceram. O evento de liquidez mais recente foi o da ExpenseOn, comprada agora pela Flash, mas os números não foram revelados. Tivemos também alguns casos de percepção de valorização da empresa, como a Nuveo, de inteligência artificial, que entregou retorno de 5x. E a Dr. Cannabis, que foi adquirida por outra empresa, mas os investidores receberam participação nesta nova empresa.

Finsiders: E com a nova regulamentação, agora o crowfunding decola de vez no Brasil?

Diego Perez: Diria que o crowdfunding já decolou, os últimos números da CVM mostram isso. Agora [a modalidade] vai amadurecer. O crowdfunding está entrando na “puberdade” para poder alcançar investidores que até então não tinham interesse em investir, assim como atingir empresas e emissores que não consideravam o crowdfunding como alternativa para captação. Houve também o surgimento de mais plataformas, desenvolvendo novos mercados e segmentos.

Finsiders: Lá atrás, existiam a SMU e a Broota (atual Kria), depois vieram Captable, Clearbook e outras plataformas de crowdfunding com foco no investimento em startups. Ou seja, embora o mercado seja grande, a concorrência aumentou. Como vocês estão se diferenciando?

Diego Perez: Desde o começo, compartilhamos o risco e o retorno com os investidores porque lideramos todas as rodadas que entram na plataforma. É o ‘skin in the game’. Fomos também uma das primeiras a adotar o modelo de sindicato, em que agrupamos os investidores num veículo de investimentos, e isso traz eficiências e vantagens, principalmente para o empreendedor. Nos nossos contratos, temos autorizações e mandatos para atuar em nome desses investidores. E isso facilita a negociação em eventos de conversão, recompra e liquidez.

Finsiders: Como você enxerga o cenário atual para as startups?

Diego Perez: Este ano é um ano que não está muito favorável para startups, mas ao mesmo tempo é de oportunidades. Mercado na baixa representa oportunidades. Como trabalhamos com investidores de varejo, a sensação é de que está tudo parado. As captações estão demorando mais para serem concluídas. Mas o investimento não parou, está acontecendo.


Finsiders é uma plataforma de conteúdo especializada no ecossistema de fintechs, fundada pelo jornalista Danylo Martins