TecBan estuda novos serviços de cripto na rede Banco24Horas

"Não devemos parar no saque", disse Luiz Fernando Lopes, gerente de plataformas digitais da TecBan, ao portal Blocknews

A TecBan, responsável pelos 24 mil caixas eletrônicos Banco24Horas no Brasil, está em conversas com sete empresas com foco em criptomoedas que querem fornecer o serviço de saques em reais nos ATMs. Hoje, Banco Capitual e Transfero oferecerem o serviço e a SmartPay se prepara para isso, como noticiou o Blocknews.

“Temos visto um aumento da procura desse perfil de empresas nos últimos dois anos”, afirma Luiz Fernando Lopes, gerente de plataformas digitais da TecBan. Segundo ele, esse é um dos sinais de que o objetivo da empresa de trazer fintechs e instituições de pagamentos (IPs) para seu ecossistema está se concretizando. “Nenhuma empresa dura 40 anos sem inovação.”

Mas nem só de saque poderá viver o usuário de cripto nos ATMs da TecBan. De acordo com Lopes, a empresa estuda “outras ideias e deve evoluir em breve. Não devemos parar no saque”, disse o executivo ao portal especializado em blockchain Blocknews, parceiro de conteúdo do Finsiders.

Segundo ele, a entrada de empresas de moedas digitais nos caixas eletrônicos da TecBan é uma tendência. Portanto, em isso se confirmando, os usuários de criptomoedas terão cada vez mais acesso a uma das maiores redes de ATMs do mundo. Além disso, é a maior independente em termos de saques. Uma concorrente da TecBan nesse serviço é a Coin Cloud, que possui ATMs em lojas Carrefour.

Real digital

Ao disponibilizarem saques em real, as empresas de criptomoedas facilitam a vida dos usuários que querem usar as moedas digitais para algum fim, e não apenas manter na carteira. Curiosamente, também ficam lado a lado com os cerca de 150 bancos e fintechs que usam o sistema, disputando espaço com quem Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin, queria tirar como intermediário das transações financeiras. E permitem saque em dinheiro físico, o que Nakamoto não previu no seu white-paper.

Só que no atual cenário de aproximação entre os dois mundos, esse serviço de conversão de criptomoedas para possibilitar saques nos caixas eletrônicos faz sentido. Ainda mais porque as transações diretas entre duas partes — chamadas de peer-to-peer (P2P) — são as que os brasileiros menos fazem. Em geral, há alguma empresa intermediando a operação no Brasil, que é um dos maiores em uso de criptomoedas do mundo.

Há, ainda, um outro braço de criptomoedas na qual a TecBan está atuando, que é o do real digital. A empresa está num dos projetos do Lift Challenge, o programa de testes da moeda digital do Banco Central (BC) brasileiro. O projeto inclui usar IoT (sigla em inglês para internet das coisas) para identificar que uma compra em e-commerce foi entregue num local seguro. E então, ocorre o pagamento.

A ideia é usar armários (lockers) como os que a empresa está usando em projeto com os Correios. A pessoa compra no e-commerce e pede para a entrega acontecer num locker. Quando for aberto, o pagamento ocorre. Isso facilita a entrega e pagamento em locais como favelas. O projeto com o real digital começou com foco no uso de Ethereum. No entanto, a TecBan está também trabalhando com interoperabilidade entre diferentes redes blockchain, como é a demanda do BC.

Brasileiro quer dinheiro na mão

Do lado da TecBan, o saque em dinheiro faz todo o sentido. Lopes diz que não se pode ignorar o perfil de uso de dinheiro no país. Num mundo cada vez mais digitalizado, isso pode parecer cada vez mais estranho. Mas é estranho só para uma parte da população. Em especial a que tem mais renda e mora nos maiores centros urbanos, segundo um estudo que o Banco24Horas encomendou ao Instituto Locomotiva. Os mais pobres são menos digitalizados e são os que mais recebem renda em dinheiro – 22% dos entrevistados.

Um dos dados da pesquisa é o de que 86% dos 1.182 entrevistados em todas as regiões utilizam ATMs. Isso equivale a 136 milhões de pessoas. Desse total, 53% usam o ATM no mínimo uma vez por mês, 42% fazem saques no dia a dia e 41% para emergências. A pesquisa mostrou, ainda, que 93% dos entrevistados têm conta em banco. E que 86% dos internautas têm mais medo de ter o celular roubado do que a carteira.

Mas, além da segurança, o uso de meios digitais emperra no Brasil por fatores como a conexão. A média dos entrevistados que deixaram de fazer alguma transação como compra ou transferência por causa de uma conexão ruim é de 75% dos entrevistados. No Norte, o índice é de 87%.

Portanto, considerando o mundo das criptomoedas — que nasceu na internet e vive de software — são informações que podem ajudar a explicar a demanda do segmento por ATMs. E tem mais: o principal motivo para o uso de dinheiro no país é porque há lugares que só aceitam dinheiro (20% dos entrevistados). Os outros dois maiores motivos são costume de usar dinheiro (16%) e descontos para pagamentos em dinheiro (15%).

Inovação

Em meio a esse cenário de uso do dinheiro, da digitalização e da criação de IPs e fintechs, a TecBan começou, em 2018, a pensar num plano de inovação. Em 2019, a empresa lançou o Hub Digital. A ideia é integrar os diferentes perfis do mercado no ecossistema, o que inclui IPs e fintechs. Com isso, dos 150 usuários dos ATMs, em torno de 40 fazem parte do hub. Todas essas empresas geram 2,1 bilhões de transações processadas ao ano. Em valores, isso equivale a 5% do PIB brasileiro.

Em geral, quem está no hub usa a infraestrutura de um fornecedor. Isso dá mais flexibilidade para entrar no ecossistema do Banco24Horas, tornando o embarque mais barato e rápido. Portanto, o hub é mais alinhado ao perfil das startups do sistema financeiro. A SmartPay, por exemplo, vai usar a infraestrutura da Celcoin para custódia e saque dos reais e está em fase de homologação do serviço no hub digital.

Além disso, a TecBan tem criado novos serviços nos caixas eletrônicos, como o saque digital, em 2018. Nele, o cliente usa o celular e um QR Code ao invés do cartão para tirar o dinheiro. E embarcou no Open Finance, o sistema de compartilhamento de dados que deve permitir mais concorrência entre as instituições financeiras e, espera-se, melhores serviços e taxas mais competitivas para os clientes. E é possível fazer outras operações como recarga de telefone e serviços com foco em B2B.

*Este conteúdo foi originalmente publicado pelo portal parceiro Blocknews.

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