Voltz evolui e quer ser mais do que uma conta digital da Energisa

Do ano passado para cá, os produtos da fintech deixaram de atender apenas a cadeia de energia para permear segmentos como gás e saneamento

“São das necessidades que surgem as melhores ideias”, já dizia um famoso dito popular. Foi assim com a Voltz, fintech do Grupo Energisa criada em 2018. Até aquele momento, a Energisa era a 5ª maior distribuidora de energia do país. Sua atuação chegava a 862 cidades de 11 Estados, somando 25% do território nacional e um faturamento de R$ 30 bilhões por ano.

O problema é que quase 70% (dois terços) dos clientes costumavam pagar as contas em dinheiro nas lotéricas, principalmente em regiões mais afastadas. Além de eventuais entraves com atrasos nos pagamentos, o processo acarretava em mais custos.

“É muito ruim ter um cliente que tem uma jornada sofrida. Esse é um dos pontos mais importantes. Se você sair na rua no Rio de Janeiro ou em São Paulo, você vai ver um banco. Mas em uma cidade distante no Mato Grosso, isso fica mais longe”, diz Daniel Orlean, fundador e co-CEO da Voltz, durante o “Fintech View”, evento que reuniu especialistas no sistema financeiro nesta quinta-feira (31).

A resposta, então, surgiu com a introdução de tecnologia. Ao avaliar os dados, descobriu-se que 80% dos clientes da companhia utilizavam o WhatsApp para se comunicar, meio que poderia ser empregado para o envio das faturas. Entretanto, não dava para ser apenas mais uma conta digital na praça. Para isso, era preciso ter vida própria e atuar de forma segmentada.

“A gente não era uma conta digital da Energisa, mas uma fintech do grupo. Entre 2021 e 2022, começamos a ser procurados por outras empresas de utilities, com clientes com dificuldades para pagar suas contas ou tomar recursos. Surgimos porque havia um problema real”, afirma Daniel, acompanhado do também fundador e co-CEO Tiago Compagnoni.

Com o tempo, a Voltz também entendeu que os bancos ganhavam dinheiro em diversos momentos da jornada dos clientes. Em uma pesquisa, 80% dos consumidores se mostravam insatisfeitos e não sabiam os benefícios que poderiam ter junto às suas instituições financeiras tradicionais.

Oportunidade

As dores estavam concentradas em capturar os ganhos para empresas do segmento de utilities, melhorar a experiência de uso, desenvolver novas soluções financeiras para parceiros e empresas e realizar a inclusão financeira e digital.

Resolver tais questões produzia uma espécie de ganha-ganha: para a Energisa, significa a redução de despesas; para a Voltz, aumento de receita e a geração de novos negócios.

Para não partir para o ‘mar aberto’ e competir com os bancos, a Voltz deu os primeiros passos com a antecipação de recebíveis, crédito empresarial lastreado no contrato, conta para pessoas físicas e jurídicas e um portal de pagamentos. 

“O fornecedor ficava com medo de falar para o seu cliente que precisava de antecipação [de dinheiro], mas não para a empresa financeira do mesmo grupo”, conta Daniel. Dessa forma, a Voltz já antecipou mais de R$ 1 bilhão em recebíveis. “Em 2020, faturamos R$ 1 milhão e, hoje, faturamos R$ 1 milhão a cada seis dias.”

Renegociação de débitos e inadimplência

Segundo os fundadores, 21,4% dos inadimplentes têm pelo menos uma dívida com empresas de utilities, como energia elétrica, gás, telecom e água e saneamento. “São dívidas de produtos essenciais”, afirma Daniel. Ou seja, são serviços básicos para os consumidores, em que dever não é uma escolha.

Assim, a segunda fase de implementação da fintech foi trabalhar com a renegociação de débitos e partir para cima da inadimplência, com o parcelamento de faturas de forma flexível. Apenas com os empréstimos a cerca de 22 mil fornecedores da Energisa, a Voltz já concedeu em torno de R$ 72 milhões em crédito. E a sua conta digital soma mais de 1 milhão de usuários. 

Do ano passado para cá, a empresa começou a ganhar outros caminhos. Os produtos deixaram de atender apenas a cadeia de energia para permear segmentos como gás e saneamento. A startup ainda não conta com nenhuma licença própria para operar serviços financeiros. “O que não quer dizer que não teremos”, afirma Tiago. Hoje, a fintech utiliza diversos parceiros de infraestrutura bancária, entre eles, BMP, Bankly e banco BV.

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