América Latina é destino estratégico para pagamentos alternativos

A Revolut, comandada aqui no país pelo ex-BTG Glauber Mota, enxerga o Brasil como um hub para expansão na América Latina

Nos últimos dois anos, a América Latina tem sido palco para o desenvolvimento acelerado do comércio eletrônico. Essa expansão funciona também como pano de fundo para o crescimento da oferta de meios de pagamentos alternativos, que vêm disputando a preferência dos consumidores com os tradicionais cartões de crédito e débito.

A região é vista, ainda, como promissora para o mercado de fintechs e o surgimento de unicórnios. Isso se deve aos baixos índices de população bancarizada e ao contexto fértil para o desenvolvimento de tecnologias disruptivas. Há uma combinação de uso massificado da internet e rápida adoção de novas tecnologias pela população, favorecendo os ganhos em escala.

Esse cenário da América Latina pontuou as conversas a apresentações durante o Web Summit Rio, realizado no início do mês pela primeira vez no Rio de Janeiro. Um dos cofundadores da Rappi, Juan Pablo Ortega, hoje cofundador e CEO da fintech colombiana Yuno, ressalta as oportunidades para o crescimento dos meios alternativos de pagamento na América Latina.

Segundo o empreendedor, Colômbia, El Salvador e Brasil despontam entre os países com maiores volumes em transações de e-commerce. Os três países estão à frente de Peru, México e Argentina. Entre as alternativas ao pagamento com cartão de crédito, Juan Pablo destaca o uso de carteiras digitais na Argentina (28%) e no México (27%).

No cenário de pagamentos alternativos, ele também aponta o papel do Pix no Brasil (24%), enquanto o cartão de crédito tem 39% de penetração. O empreendedor observa, ainda, a adoção do sistema de transferência em tempo real usado na Colômbia (23%). Ao contrário do Pix, o Transfiya foi criado no ambiente privado pela fintech Minka, com sede em Bogotá, e a ACH Colombia, câmara de compensação automatizada entre bancos.

“Os meios de pagamentos alternativos têm crescido rapidamente por serem fáceis de usar, porque trazem conveniência e segurança, principalmente”, afirmou o CEO da Yuno. “A relevância dos meios de pagamentos alternativos está diretamente atrelada às vantagens que eles proporcionam para o ecossistema de transações financeiras. Reduzem custos, melhoram a experiência do cliente e aumentam a base de usuários.”

Os meios de pagamentos alternativos também atuam como ferramenta de inclusão. Eles atingem a população desbancarizada, disse o empreendedor. O crescimento de fintechs e, consequentemente, o desenvolvimento do mercado que fomenta novos meios de pagamento abrem caminho para inclusão financeira, afirmou Rafael Stark, fundador e CEO da fintech brasileira Stark Bank. Na visão do empreendedor, o Brasil está na dianteira desse movimento na América Latina.

Para Bruno Chan, CEO da Klavi, o Brasil desponta no mercado da América Latina, não apenas pelo tamanho do mercado, mas por apresentar avanços significativos na regulação. “Quem consegue criar uma solução vencedora no Brasil consegue levar essa solução para outros países da América Latina”, afirmou.

Já Glauber Mota, CEO do Revolut no Brasil, observa que houve um investimento muito forte em formar uma equipe no mercado brasileiro capaz de entender a maneira de trabalhar da empresa, que nasceu no Reino Unido, e reproduzir isso com a característica local. “É o grande diferencial competitivo da Revolut, porque eles são capazes de traduzir a experiência global no serviço local. É assim que a gente vai entregar o valor aqui”, afirmou.

A Revolut enxerga o Brasil como um hub para expansão na América Latina. Segundo o executivo, com presença no Brasil e no México, a fintech já cobre cerca de 70% do mercado latinoamericano.

“Estamos lançando no Brasil que a conta offshore com 27 moedas e um cartão internacional para permitir o cliente diversificar em moeda estrangeira e fazer investimentos no exterior. Isso também é uma demanda de vários países da América Latina. Então é replicável, porque na verdade toda a plataforma está acontecendo, na maior parte da operação, no exterior, e não em cada um dos países.”

*Suzana Liskauskas é a jornalista convidada pelo Finsiders para cobrir o Web Summit Rio


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