Credix anuncia US$ 60 milhões em crédito para fintechs latinas

A iniciativa focará em oferecer sustentação para entre 7 a 10 fintechs da região, a maioria no Brasil

A Credix, marketplace de empréstimos que atua com DeFi (finanças descentralizadas, em inglês), está anunciando uma linha de crédito de US$ 60 milhões (cerca de R$ 300 milhões) para financiar as operações de pequenas e médias empresas (PMEs) na América Latina. O movimento foi viabilizado por um fundo de impacto social dos Estados Unidos que possui US$ 3 bilhões sob gestão. Por enquanto, os investidores são mantidos em sigilo. 

De acordo com o desenho da estratégia, a iniciativa focará em oferecer sustentação para entre 7 a 10 fintechs locais que trabalham com duplicatas, ‘buy now, pay later’ (BNPL), plataformas de e-commerce, software as a service (SaaS) e ‘embedded finance’. Desse montante, cerca de 6 a 8 empresas brasileiras devem receber os recursos. 

“Para nós, obviamente é um marco importante e estratégico. Estamos trabalhando já há um bom tempo com esse fundo especializado em tecnologia e escalabilidade. Eles estavam buscando parceiros para fazer esse tipo de financiamento na América Latina com foco em crédito de impacto”, afirma Chaim Finizola, cofundador e diretor de governança corporativa da Credix, ao Finsiders

Com os recursos disponibilizados, a Credix terá a tarefa de colocar o capital na rua. Aliás, uma das empresas já recebeu o capital. É uma fintech de Uberlândia, cujo nome não é revelado pelo empreendedor. Outras “três ou quatro” fintechs já estão engatilhadas para receber os aportes.

Metas

Até agora, a Credix já originou R$ 200 milhões às fintechs brasileiras. Com os R$ 300 milhões oferecidos agora, a conta alcança a casa dos R$ 500 milhões. Mas a empresa não deve parar por aí. Os empreendedores já miram a marca simbólica de R$ 1 bilhão. “Não deve ser o único fundo ou capital que a gente vai botar na rua no próximo ano. Teremos outros fundos similares. E vamos ver como conseguimos ampliar a própria operação com esse fundo”, diz Chaim.

A proposta acontece justamente em um momento em que a torneira de recursos foi fechada pelos VCs e os empreendedores se deparam com mais exigências para captar recursos. Segundo Chaim, as mudanças na regulamentação de ativos virtuais e digitais pelo Banco Central contribuem para um ambiente mais favorável à captação de recursos do exterior para solucionar, pelo menos em parte, a escassez de dinheiro. 

“Lá fora existe esse apetite em diversificar no Brasil justamente por causa dessas mudanças regulatórias. Acredito que é um movimento importante porque, aqui, estamos vendo o contrário. O mercado de crédito está se fechando e as fintechs têm dificuldades para captar recursos”, afirma o empreendedor. 

Impacto

Um dos pontos que favorece o crescimento do crédito privado para as fintechs são os juros altos tanto no Brasil, quanto nos EUA. O outro, nas palavras do cofundador da Credix, é o investimento de impacto. 

“É o investidor que realmente para e fala: ‘cara, a gente tem que investir com impacto, é importante’. Com isso, conseguimos captar, às vezes, até mais barato nesse sentido, também”, afirma. “É uma tendência bem grande que devemos ver mais e mais.”

Thomas Bohner, Maxim Piessen e Chaim Finizola, fundadores da Credix (Divulgação)
Thomas Bohner, Maxim Piessen e Chaim Finizola, fundadores da Credix (Divulgação)

Por outro lado, isso não significa que a decisão de conceder para uma ou outra startup não observe aspectos como a saúde financeira das empresas. Para controlar a inadimplência, por exemplo, são levados em conta os dados de crédito, além das informações tradicionais concedidas pelos birôs, visando entender quem são os clientes na ponta das empresas financiadas. 

“Temos um processo de conversar com as empresas, entender o negócio, testar, ter o pitch deck delas. Depois, integramos com os sistemas para puxar os dados, ter memorandos de investimentos e comitês públicos. Então, tem toda essa esteira para definir a base de empréstimos, o ‘overcollateral’ (a garantia sobre o saldo devedor), a taxa de inadimplência e a concentração”, diz. 

Movimentações

Desde que os belgas Thomas Bohner, Maxim Piessen e Chaim Finizola decidiram pelo desembarque da Credix no Brasil com um cheque de US$ 2,5 milhões (em torno de US$ 14,2 milhões), em dezembro de 2021, a fintech de crédito por meio de DeFi vem avançando no país. 

Em setembro do ano passado, por exemplo, fez uma Série A de R$ 60 milhões para novas contratações, desenvolvimento de produtos e expansão da carteira, trazendo para dentro de casa fundos como Motive Partners, ParaFi, Valor Capital, Abra e Fuse Capital, além de anjos como Marcelo Claure (um ex-Softbank de respeito) e Ricardo Villela Marino (chairman do Itaú Latam).

Outra iniciativa importante foi o primeiro pool de recebíveis segurado, por meio de uma stablecoin, para disponibilizar crédito a produtores rurais na Colômbia – um passo dado com a Clave, fintech de empréstimos, e investidores como Solana Foundation e Keyrock.

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