Drex: Uma revolução financeira em camadas

A cooperação entre as instituições reguladas, BC e sociedade é fundamental para assegurar o sucesso da moeda digital, escreve Rogerio Melfi, da ABFintechs

Por Rogério Melfi*
O mercado financeiro brasileiro está prestes a vivenciar uma evolução por meio do Drex (nome do projeto do Real Digital). Sob a liderança do Banco Central do Brasil, essa iniciativa busca aprimorar a eficiência e a segurança das transações financeiras, oferecendo novos serviços para pessoas físicas e jurídicas. Mas, assim como o Shrek nos lembra que as cebolas possuem várias camadas, devemos explorar a complexidade e as nuances dessa revolução financeira em camadas.

Na primeira etapa dessa jornada, o Drex está implementando o “Layer 1”, uma infraestrutura fundamental que visa otimizar a comunicação entre o BC e as instituições reguladas. Esta camada pode também promover a comunicação entre o Banco Central do Brasil e outros bancos centrais ao redor do mundo.

O piloto do Drex busca enfrentar, nesta camada, o desafiador trilema entre “descentralização, privacidade e componibilidade” no contexto do mercado financeiro. Ao encontrar soluções que equilibrem esses aspectos, o Drex almeja ser uma infraestrutura que permita maior descentralização, garantindo uma rede mais resiliente e resistente a falhas. Ao mesmo tempo, prioriza a proteção da privacidade dos dados, assegurando que informações sensíveis estejam devidamente protegidas e controladas pelos participantes.

Além disso, a busca por componibilidade visa facilitar a interoperabilidade entre diferentes elementos do sistema, proporcionando uma plataforma coesa e flexível para apoiar uma ampla variedade de serviços financeiros. 

É o alicerce sobre o qual o Drex se sustentará, trazendo benefícios para o sistema financeiro. Ao reduzir custos operacionais e agilizar os processos. Dessa forma, o mercado torna-se mais seguro e confiável, fomentando a confiança dos investidores e impulsionando o crescimento econômico.

Tokenização

Após consolidar a infraestrutura sólida do “Layer 1”, o Drex avança para o “Layer 2”, onde reside a real inovação que torna essa revolução financeira verdadeiramente excepcional. Aqui, o conceito de “Real Tokenizado” é introduzido, permitindo a representação digital de ativos tangíveis e intangíveis em forma de tokens.

Essa tokenização proporciona uma democratização do mercado financeiro, uma vez que os ativos podem ser fracionados e tornados acessíveis a um espectro mais amplo de investidores. Isso resulta, então, em maior inclusão financeira e numa nova gama de oportunidades para investimentos.

Rogerio Melfi, da ABFintechs. Foto: Divulgação
Rogerio Melfi, da ABFintechs. Foto: Divulgação

O Layer 2 viabiliza também a criação de aplicações inteligentes, conhecidas como “smart contracts”. Esses contratos autônomos executam automaticamente cláusulas predefinidas assim que determinadas condições são cumpridas, eliminando intermediários e agilizando processos financeiros, por exemplo, empréstimos e pagamentos.

Desafios

Um dos desafios do Drex é garantir a padronização e interoperabilidade entre as instituições financeiras. A integração fluida entre elas garantirá que a moeda digital criada pelo BC alcance todo o seu potencial.

A cooperação entre as instituições reguladas, Banco Central e sociedade é fundamental para assegurar o sucesso do Drex e sua adoção abrangente no Brasil. Essa colaboração tornará possível a criação de um ecossistema financeiro mais seguro, transparente e acessível.

Com o Drex, o Brasil estará preparado para enfrentar os desafios financeiros do futuro. Com suas camadas cuidadosamente estruturadas, ele nos ensina a valorizar a complexidade e a importância de cada aspecto dessa transformação.

*Rogério Melfi é membro da curadoria de eventos e comunicação da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs).

As opiniões neste espaço refletem a visão de founders, especialistas e executivo(a)s de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.

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