Muito em breve você terá a opção de comprar o seu próximo carro elétrico usando um financiamento pré-aprovado pelo seu aplicativo favorito. A próxima fase das fintechs possibilita que produtos complexos possam ser consumidos com apenas um clique e de qualquer app.
Independente de quão complexo é o operacional de um produto financeiro, este está caminhando para um oferta simples, com apenas um clique. Pode parecer um absurdo, mas em economias desenvolvidas como a dos Estados Unidos, muitos profissionais ainda recebem salário por cheque físico via correios e muitas transferências custam até US$ 30 e demoram até 2 dias para compensar.
Aqui no Brasil, aliás, ainda temos muito caminho para percorrer também. A grande verdade é que o Open Finance não escalou ainda. Não escalou pois a experiência do usuário é complexa. Além disso, os participantes financeiros ainda estão aprendendo a tomar decisões com as novas informações.
Evolução dos registros
Para entendermos com profundidade o momento que estamos hoje, é importante voltar um pouco na história. No passado, as transações financeiras eram registradas com papel e caneta, em livros físicos de registros contábeis. Afinal, uma transação financeira passou a ser apenas registro.
Durante os anos de padrão ouro, o registro de uma operação A necessitava a transferência física de reservas. Isso porque a quantidade de ouro físico de uma nação compunha o lastro as reservas financeiras. A partir do momento em que se criou a convenção de lastro a partir da confiança, os registros passaram a ser apenas registros, ou seja, sem a necessidade de trocas físicas.
Atualmente, quando realizamos uma transação via Pix, o que acontece nos sistemas bancários são apenas registros dessa transação. Em outras palavras, um registro de subtração do valor na conta pagadora e outro registro de adição de valor na conta recebedora. Claro que estamos simplificando ao extremo o processo e impacto. Porém, o que importa é analisarmos como esse processo de registro evoluiu.
Os livros físicos ficaram no passado. Dessa forma, sistemas de registros privados foram criados, basicamente digitalizando o livro físico. Novamente, a confiança é fator fundamental. Portanto, um cliente ao confiar o seu dinheiro a instituições financeiras, está confiando que os registros dessas empresas estão atualizados e são confiáveis.
Nesse sentido, uma transação por Pix nada mais é do que um registro em um sistema. Contudo, precisamos ir além. Um Pix é apenas uma parte de uma relação comercial. Por exemplo, ao comprar um carro, o Pix é apenas a etapa de pagamento. Para que o cliente tenha confiança de realizar o pagamento, é necessário ocorrer a transferência do veículo. Aqui entram os contratos.
O papel dos contratos
O contrato é a formalização de ações que devem ocorrer entre os envolvidos. Na venda de um carro, o contrato prevê a transferência do veículo em contrapartida ao recebimento do pagamento. E muitas vezes essa operação ocorre fisicamente, para que haja segurança no processo.
Então, contratos precisam ser seguros e garantir que as transações aconteçam. Já que toda operação é apenas um registro, a tecnologia evoluiu para criar um contrato inteligente que recebe o Pix do comprador do veículo, aguarda até que o veículo seja transferido. Daí, então, libera o Pix para o vendedor. Com a segurança e certeza de que caso o Pix não seja realizado, a transferência do veículo não acontece. E se a transferência do veículo não é concluída, o Pix volta para a conta do comprador.
A melhor forma para entender esse contrato inteligente é imaginar que o sistema funciona como um juiz. O vendedor entrega o documento do carro para o juiz, enquanto o comprador entrega o dinheiro para o juiz. Se ambos cumprirem com a sua parte do contrato, a transação e os registros acontecem. Caso qualquer uma das partes não cumpra com o contrato, a operação não acontece e ninguém sai penalizado.
A grande magia dos sistemas inteligentes é que eles garantem que as condições do contrato sejam cumpridas. Além disso, tudo fica disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, incluindo histórico de transações publicamente, sendo auditável por qualquer participante do mercado.
No coração das fintechs, números e tecnologia são apenas parte do processo. Na prática, pessoas e confiança são as chaves necessárias para a escala e sucesso. Já estamos no meio da nova onda das fintechs. Nela, produtos financeiros estruturados e complexos estarão disponíveis em um clique no seu aplicativo favorito.
*Marcelo Bentivoglio é cofundador da QI Tech, fintech de infraestrutura tecnológica para serviços financeiros.
Este é um espaço editorial, com análises e opiniões de especialistas de mercado e executivo(a)s com temas de interesse do ecossistema de fintechs. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações do texto.
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