Rogério Melfi*
As reuniões online, o contato com os amigos via aplicativos de mensagens, o streaming de música e as lives fazem parte de nossa vida. De maneira ainda mais intensa se considerarmos os últimos meses. Todas essas atividades só são possíveis por meio da utilização da internet. No entanto, se pensarmos em como eram as conexões há pelo menos 15 anos, os eventos transmitidos ao vivo pela rede eram impensáveis, já que os recursos disponíveis não permitiriam tantas possibilidades como as que vemos atualmente. A transformação do mercado financeiro em termos de competitividade e inovação poderá ser comparável a esse exemplo.
As mudanças que serão trazidas na prática com o Open Banking, que passa por sua primeira fase de implementação, poderão ser mensuradas a uma revolução na maneira com a qual o brasileiro lida com seus dados bancários. Em três ou quatro anos estaremos tão habituados aos produtos e soluções do mercado financeiro que nem vamos lembrar das dúvidas que tivemos sobre o Open Banking. Quando fizermos um pagamento por meio de um comando de voz, poderemos acreditar que isso sempre existiu, da mesma maneira com a qual nos esforçamos para lembrar como era a vida sem um telefone celular, por exemplo.
Hoje, estamos mais próximos da segunda fase de implementação do Open Banking, prevista para começar em 15 de julho. Nessa etapa, os consumidores terão o controle para compartilhar dados com as instituições de sua preferência e quando quiserem. É a fase em que será possível a criação de novos produtos e serviços, a partir de dados cadastrais, operações de crédito e informações sobre contas e cartões, desde que exista o consentimento do usuário.
Nessa fase, instituições financeiras de todos os portes trabalham intensamente para desenvolver soluções que atendam às necessidades do Open Banking, com foco especial nas APIs abertas – que são as instruções e padrões de programação para acesso a um aplicativo ou software. Estamos adaptando ao sistema e características brasileiras de acordo com o cronograma previsto pelo Banco Central e, em linhas gerais, as APIs são um tipo de especificação de como funciona a comunicação entre as instituições, que podem ser comparadas de maneira bem didática a uma tomada e a um plug: as APIs definem a entrada e a saída esperadas para que a comunicação aconteça de maneira adequada.
Basicamente, três blocos de informação estarão liberados nessa etapa: dados cadastrais, de contas e de operação de crédito. Como pessoa física, posso compartilhar essas informações com outras instituições, desde que exista o meu consentimento. Assim, as instituições poderão ter uma visão geral de como estão minhas operações financeiras, facilitando inclusive a negociação de produtos. Por isso é tão importante contar com uma jornada padronizada, o que envolve desafios de segurança para as transações, para que seja garantida a eficiência desse ecossistema. É como se todos falassem a mesma língua, e inclusive as mesmas gírias, o que facilita a comunicação entre as instituições, trazendo eficiência ao usuário final.
As medidas de segurança também precisam considerar a gestão do consentimento do cliente para o compartilhamento de seus dados entre as instituições bancárias. O usuário poderá autorizar o uso de suas informações por um prazo definido e, mesmo que ele libere a utilização por 12 meses, ele pode alterar esse prazo quando quiser. Assim, quando alguém dá o consentimento, ele cria uma espécie de linha do tempo, que precisa ser corretamente gerida pelas instituições. A ideia é que a interface seja intuitiva, com o menor número possível de etapas a serem cumpridas, mas com clareza sobre o que acontecerá sobre os dados informados, para que o usuário sinta segurança na operação.
Com o trabalho intenso realizado pelas mais diversas instituições, o cronograma proposto pelo Banco Central tem tudo para ser atendido plenamente. Essa movimentação pode inclusive ajudar a acelerar a economia do país em um momento tão desafiador, criando oportunidades ao promover ainda mais dinamismo ao mercado financeiro. É um processo desenvolvido a muitas mãos, que tem respeitado as particularidades das mais diversas instituições do país, e que pode marcar uma movimentação decisiva para outros setores. Pode ser o início do conceito de Open Finance em um país que tem recebido tão bem as mais diversas novidades financeiras para o dia a dia, sempre em convergência com os meios já existentes.
*Consultor de Novas Plataformas da TecBan