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Por Jaques Rafael Motta*, com exclusividade para o Finsiders
Globalmente, a expansão do segmento de fintechs é uma realidade traduzida em números. O estudo “Pulse of Fintech H2´21”, publicado pela KPMG em janeiro deste ano, revela que, em 2021, o volume total de investimentos em fintechs estabelecidas nas Américas bateu mais um recorde: foram 2.660 negócios, somando US$ 105 bilhões em investimentos.
A tendência para 2022, apontada pela KPMG, é um incremento dos negócios movimentados por fintechs, sobretudo na América Latina. Nessa região, uma particularidade chama atenção dos investidores. Trata-se de uma geografia em que os negócios com foco em soluções digitais se destacam pela variedade de aplicações e soluções voltados a públicos cada vez mais diversos.
No Brasil, a estrada rumo ao crescimento exponencial do setor de fintechs desbrava caminhos para o avanço de soluções digitais em setores muitas vezes reconhecidos como mais tradicionais, como o mercado de logística.
O rápido desenvolvimento das logtechs tem ressaltado a demanda latente do mercado logístico por inovação. Nessa toada da digitalização do setor de logística, é fundamental pensar em soluções para democratizar o acesso a produtos e serviços financeiros compatíveis com a realidade dos diversos atores desse segmento.
O caminho para a democratização dos serviços financeiros no Brasil tem sido considerado um dos mais avançados no mundo. Esse crescimento e evolução dos produtos criados por fintechs e bancos digitais no mercado brasileiro estão diretamente atrelados à capacidade dos times em identificar dores de determinados grupos de clientes, que quase sempre estiveram à margem dos serviços financeiros ofertados por instituições tradicionais.
Mais ágeis e inovadores, fintechs e bancos digitais conseguem entregar produtos mais personalizados e com custos mais enxutos. O fértil ecossistema de parcerias das fintechs também aumenta a quilometragem dos serviços digitais na corrida pela fidelização dos clientes, sobretudo aqueles com dificuldade de acesso a crédito e outros produtos financeiros.
No setor logístico, fintechs e bancos digitais estão com os radares acionados para entregar soluções financeiras mais customizadas, principalmente aos caminhoneiros.
Dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) mostram que o número de motoristas autônomos ultrapassa 860 mil e há aproximadamente 1,2 milhão de profissionais que são funcionários de frotistas.
De acordo com um levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), a renda média dos motoristas autônomos é de R$ 5.011,39. No caso de frotistas, a renda média é de R$ 3.720,56.
Nas estradas brasileiras, diariamente cerca de 2 milhões de motoristas padecem com a mesma dor financeira: gastos excessivos com combustíveis e diminuição de poder aquisitivo. Cerca de 60% dos gastos mensais dos caminheiros correspondem a despesas efetuadas nos postos de combustíveis.
Atentas a esse cenário, logtechs têm desenvolvido soluções financeiras moldadas a necessidades básicas de caminhoneiros, como linhas de crédito, produtos de seguros e arranjos financeiros que tornam a jornada mais segura.
Com novos produtos financeiros, os caminhoneiros aumentam o poder de compra, adquirindo equipamentos, acessórios, itens de segurança e serviços de manutenção. Essa dinâmica produz um círculo virtuoso positivo no setor de logística.
Ao customizarem a oferta de serviços próprios para solucionar demandas dos caminhoneiros, o mercado de logtechs ganha tração. Além de fidelizarem um público que estava à margem do sistema financeiro e da inovação, as logtechs trazem valor para toda a cadeia logística, do transportador aos postos de combustíveis.
As logtechs, porém, não inventaram a roda. O diferencial delas está na escuta ativa, expressão que tem ganhado voz em tempos de valorização do “S” dos fatores ESG (expressão do inglês para ambiental, social e governança).
Ao contrário de instituições financeiras tradicionais, que historicamente sempre desenvolveram produtos para públicos mais heterogêneos, o segredo da engrenagem das fintechs está na personalização.
Para ter sucesso na oferta de um serviço financeiro disruptivo, não basta identificar um determinado público-alvo, é preciso entender como solucionar suas dores e estabelecer uma relação de confiança. A inovação só faz sentido quando se mostra eficiente para solucionar problemas, de qualquer tamanho e natureza.
O ambiente de fintechs, em todas as verticais do país, é fértil e está nas lentes dos investidores internacionais. O Brasil ainda tem muitos nichos e consumidores carentes de serviços financeiros personalizados, mas o país apresenta um mercado muito dinâmico, competitivo e surpreendente.
Para acumular quilometragem e continuar na rota que leva à expansão do capital, não basta embarcar tecnologia e inovação, é preciso abrir a boleia, escutar atentamente todos os públicos e se interessar, de fato, por suas dores.
*Jaques Rafael Motta é head de pagamentos da Tmov, logtech de transporte de cargas fechadas.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.
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