Movimento fintech ganha força em logística e transportes

Foto: Sven Brandsma/Unsplash
Foto: Sven Brandsma/Unsplash

“Toda empresa será uma fintech”. A famosa frase profética de Angela Strange, sócia do fundo de Venture Capital Andreessen Horowitz (a16z), parece fazer cada dia mais sentido, em diferentes áreas e segmentos. Um deles é o de logística e transportes. Recentes movimentos apontam para uma tendência maior de ‘fintechzação’ do setor, levando produtos e serviços financeiros para transportadores e caminhoneiros estradas afora.

O Urbano Bank, braço financeiro do Grupo H&P – que controla a Braspress, uma das companhias líderes no transporte de encomendas – foi criado há dois anos como instituição de pagamentos (IP) e agora se prepara para ampliar sua atuação, conforme conta com exclusividade ao Finsiders Tayguara Helou, CEO do Urbano Bank e diretor de desenvolvimento e novos negócios do grupo Braspress.

“Hoje temos uma conta de pagamentos que roda na nossa IP e o funding vem de um FIDC. Já aplicamos no Banco Central (BC) para formar uma SCFI”, revela o executivo. Como o leitor deve saber, as sociedades de crédito, financiamento e investimento (SCFIs) são mais conhecidas no mercado como financeiras.

Para avançar na frente de serviços financeiros, o Urbano Bank acaba de adquirir a PayShopX, plataforma de banking as a service (BaaS) integrada via APIs e em conformidade com as regulamentações do BC. O valor e os termos da operação não foram revelados. A equipe da PayShopX e seu laboratório de desenvolvimento de sistemas e tecnologias no setor financeiro já estão sendo integrados ao Urbano Bank.

Plataforma Urbano Bank (Divulgação)
Plataforma Urbano Bank (Divulgação)

A empresa já colocou para rodar a primeira versão da plataforma, e testou a solução com 100 clientes originando R$ 90 milhões em crédito. “Temos nove clientes atualmente operando com desconto de duplicatas”, diz Tayguara. Nas próximas semanas, a plataforma será liberada para toda a base de clientes da Braspress, que hoje tem uma carteira com 200 mil empresas e opera com 106 filiais próprias pelo país e realiza cerca de 60 mil entregas por dia.

A meta do Urbano Bank é chegar ao final deste ano com uma base de 100 mil contas e cerca de R$ 350 milhões liberados em crédito. “E no segundo semestre, ter nossa SCFI no ar, e aí já acessar o SPB [Sistema de Pagamentos Brasileiro] diretamente”, afirma Tayguara.

Além da conta digital, o Urbano Bank irá oferecer cartão pré-pago, capital de giro, antecipação de recebíveis, seguros, entre outros produtos e serviços que estão sendo desenvolvidos. O objetivo é atender diferentes empresas do setor de logística e transporte de cargas, e não apenas sua base de clientes, colaboradores, parceiros e fornecedores.

“A gente acredita que o Urbano Bank tem potencial de ser tão grande ou maior que a transportadora Braspress. Nosso espírito é viabilizar os negócios dos nossos clientes, e o Urbano Bank é mais uma ferramenta para ajudar na gestão deles”, explica o executivo. “Estamos vindo para melhorar a última milha.”

Números do grupo dão pistas do tamanho da oportunidade. Anualmente, cerca de R$ 60 bilhões em valor de mercadorias são transportados pela Braspress. “Em dois anos, com o Urbano Bank, devemos chegar próximo a 5% dessa movimentação. Estamos falando de R$ 3 bilhões”, prevê Tayguara.

Hoje, o grupo opera com 3,5 mil caminhões, sendo a maior parte (2,5 mil) terceirizados. A ideia é facilitar a gestão dessa cadeia de fornecimento, com produtos e serviços financeiros. “Queremos ajudar os clientes e fornecedores, e também os colaboradores. A maior parte do nosso quadro, algo como 75%, é operacional. Queremos ajudá-los na gestão financeira.”

Em seguros, por exemplo, a ideia é oferecer produtos empresariais, proteção de frota, prestamista. Também estão sendo desenvolvidos seguros de saúde e odontológico. No grupo há, inclusive, uma corretora de seguros própria, a Digilog, o que deve facilitar o desenho de soluções no segmento.

Jornada do frete

A EmiteAí quer melhorar a jornada do frete, com um software completo de emissão de documentos e soluções financeiras, como antecipação de recebíveis, conta digital para transportadores, conta digital e cartão de débito para motoristas.

O negócio tende a ganhar tração também com a criação do DT-e (Documento Eletrônico de Transporte), que vai unificar diversas documentações relacionadas a transporte de cargas, incluindo o valor do frete e de seguros contratados.

Para acelerar, a startup acaba de levantar a primeira rodada de investimentos, no valor de R$ 750 mil, em uma captação liderada pela Bossanova Investimentos e acompanhada por um investidor-anjo, de nome não revelado. A notícia está sendo divulgada com exclusividade pelo Finsiders.

Por parte da Bossanova, os recursos vieram de dois pools, o de de fintech e o de mobitech. É o 13º cheque assinado pelo pool de fintechs do micro VC, que espera montar um portfólio com 15 a 20 empresas.

O grupo, criado em 2020 conforme mostrou o Finsiders, é liderado por João Bezerra Leite, ex-CTO do Itaú Unibanco, e tem ainda Carlos Augusto de Oliveira, ex-CIO do Banco Original, atual CEO da Certdox e colunista do Finsiders; Marco Antunes, VP do banco bmg; Priscila Drebes, diretora da Lebes Financeira, entre outros executivos do setor.

“Sempre olhamos muito para as pessoas por trás dos negócios. A EmiteAí começou com fundadores experientes e complementares entre si, que passaram por empresas de tecnologia e logística, nas áreas financeira e comercial. Dentro de um negócio em estágio inicial, isso é muito importante”, aponta Miguel Araújo, analista de investimentos da Bossanova, em entrevista ao Finsiders.

O produto e o setor de atuação foram outros itens que despertaram interesse da Bossanova. “O DT-e abre uma porta para o que a EmiteAí quer fazer, que é entregar toda a jornada do frete, com uma plataforma one-stop-shop dos embarcadores até a ponta”, diz Miguel.

Competição

Não faltam nomes nos setores de logística e transportes com soluções financeiras. A FretePago, fintech do grupo Frete.com — criado a partir da fusão entre CargoX e FreteBras — prevê aumentar em 15x o volume de crédito concedido em 2022. A empresa está estruturando um FIDC que deverá ser aberto para investidores entre o final deste trimestre e o início do próximo, contou o diretor da fintech, Thiago Chueiri, em entrevista recente ao Finsiders.

Em dezembro último, a Greenpass, empresa de soluções white-label de mobilidade, uniu-se à Mastercard para lançar a primeira carteira digital white-label do país com foco em caminhoneiros.

Quem também decidiu embarcar em serviços financeiros digitais foi a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), que lançou o Trucker Pay, ‘banco digital’ para facilitar transações realizadas por frotistas, transportadoras e caminhoneiros, inclusive os autônomos.

A lista de players inclui, ainda, a TruckPad, com sua TruckPad Pay; a Target Bank; e a Rodobank.

(Colaborou Fernanda Bompan)