Por Eduardo Vils*, para o Finsiders
No começo do mês, dezenas de empresas de tecnologia, fintechs e algumas gigantes do setor financeiro se reuniram num evento festivo, com um público descolado, longe das grandes metrópoles, com uma agenda de painéis de debates repleta de novidades financeiras e tecnológicas, para o presente e para o futuro. Mas não, não estou falando do SXSW.
Por enquanto me refiro à nossa 4ª convenção anual, mas em breve seremos o SXSW brasileiro, não duvidem. Afinal, o propósito do evento é trazer mais sinergia para o mercado, proporcionar conexões para que essas empresas possam se plugar e juntas trazer mais inovações e soluções para as empresas que atuam ou fornecem ao varejo.
Conseguimos reunir Davids e Golias, fintechs, software houses e grandes empresas do setor financeiro, inclusive algumas que competem entre si, no mesmo palco, sem terem que brigar, como os antagonistas bíblicos. Muito pelo contrário, praticamos o que nós chamamos de “coopetição” (do termo criado em inglês pelos autores Adam M. Brandenburger e Barry J. Nalebuff, no livro Coopetition: A Revolution Mindset that Combines Competition and Cooperation), empresas que competem e cooperam para evoluir e transformar o mercado, cada vez mais rápido.
Estiveram no mesmo palco empresas como AWS, Itaú, Cerc, Rede, PagSeguro, TecToy, Positivo, Konduto, Bankly, Azion e American Express, que debateram sobre o futuro dos negócios, abordando tendências e realidades do setor.
Nas linhas abaixo, farei um relato com alguns dos destaques desse evento, para transmitir aos leitores do Finsiders um pouco do conhecimento que foi mostrado na nossa convenção:
Como não poderia deixar de ser, esta edição teve muita inovação, jogos, música, cinema e networking com os principais players do mercado. A abertura em grande estilo foi feita pelo diretor-geral da AWS, Cleber Morais, que trouxe o tema “Cloud, Its Now or Never”, que se inspirou em Elvis Presley. A palestra mostrou o quanto a AWS influenciou a evolução e a performance das tecnologias, tornando-as mais acessíveis.
Cleber lembrou que a indústria de tecnologia no Brasil sempre foi um diferencial para o país. Já nos anos 70 conseguimos desenvolver empresas nacionais, que tinham equipes com conhecimento em fabricação de softwares, para atender as altas demandas de segmentos, como o financeiro, por exemplo. Esse background histórico permite que sejamos otimistas com o futuro das empresas de tecnologia no Brasil, mesmo que a curto prazo ainda enfrentemos desafios na economia nacional que não podem ser descolados dos impactos globais.
Mas, no longo prazo, o nosso maior desafio é o gap de capacitação no país. Segundo a Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais), há mais de 400 mil vagas em aberto no mercado de tecnologia. Então há um potencial gigantesco de crescimento que torna a capacitação o grande desafio para as empresas de tecnologia e startups, e precisamos de alguma forma ajudar nesse sentido.
Foi de arrepiar assistir Cleber Morais reforçando que estamos no lugar certo, na hora certa, para continuar fazendo a diferença no mercado, juntando um monte de gente e empresas em torno de um propósito.
Em seguida vieram ao palco o cofundador e CTO da Justa, Felipe Bonezi, e Marcos Cavagnoli, diretor do Itaú Unibanco, para um bate-papo sobre transformação digital, no qual ressaltaram e exploraram as normativas do Banco Central, como arranjo de recebíveis, Open Finance, CBDC (real digital) e pagamentos instantâneos que avançam muito rápido, permitindo que cada vez mais empresas participem do mercado, levando soluções “nichadas” e com tecnologia de ponta. A palavra-chave aqui é ‘escalabilidade’.
Afinal, quanto mais gente estiver utilizando tecnologia e se digitalizando, principalmente no interior do país, o que já é fato, você precisa ter soluções mais escaláveis, com mais tecnologia e mais confiabilidade. Então esse é o desafio — existem empresas de tecnologia, como a AWS, que nos auxiliam nesse modelo.
Mas juntamente com a escalabilidade, vem a experiência do usuário, que está cada vez mais exigente. Qualquer solução tecnológica desenvolvida hoje, para que se torne viável, já precisa nascer com diversas funcionalidades essenciais. A cada dia que passa, a experiência de uso vai ficando mais complexa. Esse é um desafio muito grande que fintechs e startups podem resolver melhor do que grandes empresas, pois são mais ágeis na tomada de decisões.
Depois, compartilharam o palco duas grandes empresas que competem diretamente no setor, mas que também cooperam entre si. Rudof Popper, superintendente de produtos e parcerias da Rede, e Adriana Garbim, diretora executiva de novos negócios na PagBank PagSeguro, falaram sobre os avanços do mercado de meios de pagamento. Adriana pontuou que o segmento está em evolução constante, o que dificulta fazer previsões, mas, se for possível fazer uma, ela destacou a popularização das tecnologias que vão simplificar os meios de pagamentos, como os apps de bancos cada vez mais simples.
Fernando Fontes, fundador da Cerc, também marcou presença ao lado de Marilyn Hahn, COO do Bankly, que falaram sobre o futuro das fintechs, em painel moderado por Edson Santos, coautor do best-seller “Payments 4.0”. Com a visão de quem acompanha o mercado há décadas, Edson observou que estavam ali os maiores bancos e empresas de adquirência, junto com pequenas fintechs e startups, debatendo negócios e tentando entender como poderiam cooperar e cocriar, para oferecer o melhor serviço para o cliente final.
E muito desse cenário de evolução tem a ver com o papel do Banco Central, que não é apenas fixar a taxa básica de juros, como muitos pensam. É interessante notar que foi o BC quem impulsionou a recente digitalização da economia, com inovações como o Pix e o Open Finance, incluindo mais de 50 milhões de pessoas no sistema financeiro.
Por outro lado, defendendo aqui as fintechs e startups, isso só foi possível porque, historicamente, lembrando as palavras do meu amigo Cleber Morais, temos todo um ecossistema de empresas de tecnologia aptas a responder rápido às demandas e desafios que são impostas a elas pelo mercado. Não por acaso, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apontou em pesquisa que o Brasil é o maior mercado de fintechs da América Latina.
Finalizo parafraseando Fernando Fontes, que acredita que o futuro do mercado passa muito por este amálgama que conseguimos criar, misturando, atraindo e plugando tantas empresas e negócios complementares, para tornarmos o setor mais justo. Até breve, nos vemos no FID23!
*Eduardo Vils é sócio-fundador da fintech Justa.
As opiniões neste espaço refletem a visão de founders, especialistas e executivo(a)s de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.
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