André Mello*
As transformações no setor financeiro se intensificaram nos últimos anos, com o PIX e o Open Banking, por exemplo, e apontam para um futuro mais conectado. Na pandemia tivemos um crescimento expressivo dos bancos digitais, contribuindo para a popularização dessas instituições. Em termos de serviços financeiros, hoje é possível realizar tudo de forma digital, desde a adesão a uma nova instituição até o pagamento, e isso vai se potencializar com a chegada do Open Finance, que já é uma realidade.
Esse movimento irá reforçar, no setor financeiro, principalmente a necessidade de soluções de segurança da informação. À medida que todos passam a utilizar serviços bancários de forma digital, é necessário garantir a proteção dos dados que circulam. Isso vai de encontro com o Open Finance e a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que deve ser exigida neste ano. Além disso, muitas empresas do mercado financeiro adotaram o trabalho remoto ou híbrido em 2020 por conta da pandemia, um modelo que deverá ser mantido e fazer parte dessa nova realidade.
Esse contexto de mudanças cria um ambiente favorável para a crescente adoção da nuvem no mercado financeiro. Há um caminho a ser percorrido para que cada vez mais instituições estejam preparadas para realizarem essas migrações. Segundo dados de pesquisas feitas pela Gartner e pelo IDC, a tendência de crescimento no uso de cloud ainda é bem expressiva. Embora o mercado financeiro tenha esta preocupação maior com o trato dos dados, ainda há muito espaço para ampliação no uso da nuvem, principalmente por parte das instituições financeiras mais tradicionais.
Para além das soluções em cloud, é fundamental que o setor esteja preparado para acompanhar as movimentações geradas pelas novas fases do Open Finance. Segundo o cronograma do Banco Central para o Open Banking, as instituições ainda estão começando a trabalhar com informações consideradas sensíveis, ou seja, dados relacionados a informações mais íntimas dos clientes. O principal movimento agora é preparar essa infraestrutura, tanto nos bancos, quanto nas fintechs, para funcionar conforme o que a LGPD exige, baseado no consentimento e com uma forte proteção dos dados, porque existe a possibilidade de penalizações graves em casos de vazamentos.
Quando tudo estiver funcionando corretamente, a tendência será de crescimento do uso de serviços bancários digitais, especialmente em investimentos e crédito, nichos bem aproveitados pelas empresas do setor.
Nesse cenário, a segurança da informação vai ser cada vez mais importante, até para o desenvolvimento do mercado. As pessoas hoje podem acessar informações bancárias de qualquer lugar por conta da digitalização e, se não houver uma infraestrutura para garantir a integridade das informações que serão acessadas, isso irá gerar um grande problema. Se começam a existir casos recorrentes de vazamento de informações, todo mundo começa a frear.
Para realizar essa prevenção, é preciso ter mecanismos tradicionais como firewall e criptografia, por exemplo. Em 2021, a RTM firmou uma parceria com a Kryptus e com a Ecoscard para oferecer um HSM (Hardware Security Module) como um serviço na nuvem, o que torna o custo bem mais acessível para as pequenas e médias empresas. Além disso, adotar novas tecnologias, como SD-WAN, que possibilita um melhor gerenciamento de redes, também ajuda a reforçar esta proteção. As instituições vão precisar se preocupar cada vez mais com o trato e tráfego do dado e em garantir a autorização do dono da informação para tais fins.
É possível afirmar que o mercado financeiro brasileiro segue um caminho promissor, com modernizações e avanços importantes. A RTM, principal hub integrador desse segmento no país, acompanha esse desenvolvimento de perto. Neste ano, por exemplo, passará a oferecer para o país uma plataforma para a integralização das cotas de fundos de investimento. Esse novo serviço atenderá uma demanda até então desassistida no Brasil. Hoje em dia esse processo costuma ser feito manualmente ou, na melhor das hipóteses, semiautomatizado. No entanto, esta indústria aumentou exponencialmente nos últimos anos e isso gera um gargalo operacional para as empresas que estão crescendo. O que esta nova plataforma oferece é a possibilidade de agilizar esse processo entre os participantes do mercado de fundos, ou seja, gestores, distribuidoras, administradores e custodiantes.
Já no primeiro momento, essa comunicação será padronizada e automatizada, sem exigir que as empresas precisem adaptar seus sistemas internos. Outra função que estará disponível é a liquidação pela Clearing (B3). As instituições poderão utilizar o mesmo processo para liquidação de ativos de renda fixa e renda variável para cotas de fundos de investimento, simplificando a estrutura operacional. Além disso, a plataforma também vai agregar a possibilidade de portabilidade de fundos, que hoje é feita manualmente e dificulta para o investidor saber com precisão quando seu dinheiro foi migrado de uma instituição para outra. Será um grande upgrade em relação às operações de compra e venda.
Quem também cumpre papel importantíssimo dentro do crescimento do setor são as fintechs. Essas empresas, mais enxutas, ágeis e que oferecem taxas mais competitivas, principalmente para pequenas e médias empresas, microempresários e pessoas físicas, têm papel importante na oferta de crédito e bancarização dos brasileiros. Como o Brasil é um país muito grande, com uma população enorme, ainda há espaço para este crescimento acontecer.
É claro que todo movimento de entrada tão grande de novos participantes no mercado passa por um período de acomodação, mas este é um fluxo que veio atender uma demanda, seja por inclusão bancária ou por crédito mais acessível, e que tem grande capacidade de transformação futura. O país tem muito a ganhar com a possibilidade de mais empresas se desenvolverem e gerarem inovação.
Novamente, nesse caso, cabe às fintechs um papel importante. Isso porque elas conseguem capturar dores, necessidades e dificuldades da população em geral, que não estavam sendo supridas pelas instituições tradicionais. Elas são uma fonte de inovação extremamente relevante para o país junto com a comunidade que as engloba, como as aceleradoras e as empresas que praticam o venture capital. Todo este mundo tem um peso enorme para a descoberta de ações inovadoras. Por isso, desde 2016, a RTM tem um projeto de inovação em parceria com a aceleradora Darwin Startups, tendo ajudado a acelerar mais de 60 startups desde então. Este é o caminho para tornar o setor financeiro mais ágil, dinâmico e acessível.
Também é preciso citar as iniciativas do Banco Central, que vem implementando uma série de mudanças no setor, como o PIX e o Open Banking. Isso proporciona um estímulo a criação de soluções inovadoras e aumento da competitividade no mercado financeiro.
*CEO da RTM, hub integrador do mercado financeiro