Tema constante em debates globais e que ganha impulso extra nas proximidades do Dia Internacional da Mulher, a presença feminina no mercado de trabalho há muito deixou de ser uma meta a se cumprir longo prazo para se tornar uma necessidade urgente.
Parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, agenda para 2030, a igualdade de gênero passa obrigatoriamente pela garantia da “participação plena e efetiva das mulheres e pela igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública”.
A mobilização em prol da equidade corporativa nos últimos anos vem atingindo inegáveis resultados, mas os desafios persistem. Conforme o estudo da PwC Women in Work Index 2023, que analisa países membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o ritmo de crescimento na igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho segue muito lento. Levando em conta o cenário atual, seriam necessários mais de 50 anos para o fim da disparidade salarial entre homens e mulheres, avalia o levantamento.
Quando se analisa o Brasil, segundo aponta o Benchmarking de Capital Humano, da PwC Brasil, observa-se a tendência de aumento de 5,9% ao ano da presença feminina em postos de liderança geral. Em cargos de liderança executiva, a alta é de 7,6% ao ano, entre 2013 e 2019. No entanto, a partir da pandemia, detectou-se um recuo importante nessa evolução.
Tecnologia e finanças
Em áreas historicamente associadas aos homens, como tecnologia e finanças, nas quais construí minha carreira, recortes recentes dão uma ideia dos obstáculos que ainda precisam ser enfrentados.
De acordo com o Relatório de Diversidade no Setor TIC da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), em 2021, o setor contava com apenas 39% de presença feminina. Nos cargos de diretoria e gerência, o percentual era ainda menor — 36%. Já um estudo do Fesa Group em meados de fevereiro mostrou que somente 33% dos cargos de alta liderança em bancos e fintechs no Brasil têm mulheres.
Diante dos dados e do fato de que somos 51,5% da população brasileira, o panorama se mostra longe do ideal. Mas é preciso reconhecer que estamos avançando.
O papel da educação
Há duas décadas, quando comecei a atuar no setor de tecnologia, posteriormente trabalhando com a área financeira, era comum ser a única presença feminina em uma sala de reunião. Com o passar dos anos, notadamente com o aumento da escolaridade e participação cada vez maior das mulheres no ensino superior, a situação foi se alterando. Ou seja, já não estava mais sozinha. Prova disso é que, na empresa em que hoje ocupo a posição de head de vendas do Brasil, 45% das lideranças globais são femininas. Localmente, aliás, as mulheres representam 50% do time.
Não por acaso, na última década, com cada vez mais frequência e naturalidade, as meninas passaram a demonstrar interesse e ter maior acesso às chamadas carreiras STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática), o que não era muito comum anteriormente. Isso porque as jovens tendiam a ser incentivadas a buscar áreas consideradas “mais femininas”. Como boa parte dos desafios sociais globais, a educação pode ser considerada a responsável por essa nova perspectiva que vem se afirmando.
E a consolidação desse cenário dependerá diretamente dos investimentos da sociedade civil, governos e empresas voltados à capacitação de meninas e mulheres. Segundo a Unesco, apenas 35% de todos os estudantes das áreas de STEM são mulheres.
A entidade destaca, ainda, a educação como um dos fatores-chave para mudar a situação. Só com acesso ao conhecimento, as interessadas em se tornarem executivas do segmento estarão aptas a exercerem funções de alto valor agregado não só em tecnologia ou em finanças, mas em todas as áreas que desejarem.
*Patrícia Matheus é head de vendas da Provenir no Brasil.