Setembro foi positivo, mas ambiente externo inspira "otimismo cauteloso"

O crescente saldo de crédito e o desempenho positivo do volume de concessões reforçam que há espaço para que o segmento de fintechs continue aquecido, escreve o CEO da Análise Econômica

Os dados macroeconômicos referentes ao mês de agosto (últimas informações disponíveis até 6/10) indicam um ambiente de melhora da economia por um lado, devido à queda dos juros e particularmente pela queda da inadimplência de pessoas físicas — a exemplo do que temos visto nos últimos meses.

Por outro lado, os dados trouxeram novas preocupações, em função da aceleração dos preços vista no finalzinho de agosto, mas que ficou mais evidente em setembro. Além disso, o ambiente externo trouxe preocupações extras que demandam cautela — ainda por problemas com o combate à inflação e à geopolítica. 

O que os dados mostram?

A variação total do volume de crédito em agosto foi a maior em 2023 até o momento. O saldo para pessoas jurídicas variou +1,26%, enquanto para pessoas físicas subiu 0,9%. O saldo total, por sua vez, registrou o maior patamar da história (R$ 5,524 trilhões), alta de 1,1% em agosto. 

Esse desempenho foi fruto da melhora nas concessões mensais de crédito, que registraram forte aceleração em agosto.

O desempenho geral foi resultado da alta para pessoas jurídicas (+11,2%) e de elevação em ritmo menor para pessoas físicas (+8,0%). A tendência de expansão do ritmo de concessões permanece acompanhando a queda da Selic, ainda que com bastante volatilidade. 

Contudo, dados da Serasa Experian apresentaram alta do número de pessoas inadimplentes, revertendo parte da melhora dos meses anteriores.

O número de inadimplentes aumentou 0,46% em agosto, para 71,74 milhões de pessoas (+320 mil no mês). O número trouxe certo receio, especialmente em função do prosseguimento do Programa Desenrola e mostra que o problema da inadimplência ainda não encontrou uma solução. 

O que tudo isso significa?

O crescente saldo de crédito e o desempenho positivo do volume de concessões reforçam que há espaço para que o segmento de fintechs continue aquecido, especialmente das fintechs de crédito. 

Nesse sentido, os investimentos no setor devem continuar positivos, como já vem se mostrando nesse segundo semestre.

O volume de crédito concedido deve continuar crescendo à medida em que se dissipam os riscos financeiros associados à taxa básica de juros excessivamente elevada. Entretanto, o ambiente externo continua a pesar mais no cenário. Nas palavras do Comitê de Política Monetária (Copom), “o ambiente externo mostra-se mais incerto”. 

Adicionalmente, as taxas de juros não devem cair mais rapidamente, pois isso demandaria surpresas na trajetória da inflação — o que não parece ser verdadeiro. 

A reversão da queda tímida do número de inadimplentes acendeu um sinal de alerta. Portanto, o “otimismo cauteloso” que se propagou nos últimos meses no Brasil deve permanecer. 

*Franklin Lacerda é CEO e cofundador da Análise Econômica (AE), consultoria especializada em análise da economia brasileira. No Finsiders, ele assina a coluna “Visão Macro”, breve leitura da macroeconomia e dos desdobramentos sobre o segmento de fintechs no Brasil.


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