Opinião

WEB 3.0 além do hype: princípios e oportunidades

Estamos vivendo um momento de transformação, em que tecnologias emergentes estão ganhando tração e sendo adotadas em escala. Em breve, nossa identidade, propriedades e a forma como nos relacionamos e realizamos pagamentos podem se tornar bem diferentes do que experimentamos hoje.    

Considero importante abordar o tema sem sensacionalismo, explorando o contexto atual e como podemos aproveitar o que está por vir antes que a Web 3.0 se torne mainstream/popular na prática. Precisamos compreender a tecnologia, os conceitos e os casos de uso que têm o potencial de moldar a próxima década.    

Antes de seguir, vale esclarecer a diferença entre a Web 3.0 e o Metaverso. Embora os dois termos sejam frequentemente confundidos, a Web 3.0 é a infraestrutura e a tecnologia que possibilitam uma nova iteração da Internet, enquanto o Metaverso pode se beneficiar dessa nova tecnologia para estabelecer diferentes experiências imersivas que permitem novas formas de interação, compra e movimentação de dinheiro.    

Se a Web 1.0 revolucionou o acesso à informação e a 2.0 modificou por completo a publicação de conteúdo e as interações online, a Web 3.0 tem o potencial de ir além ao capacitar os usuários com transparência, propriedade e portabilidade de ativos digitais, ou seja, o registro de propriedade de um ativo.    

A Web 3.0 pode substituir as plataformas corporativas centralizadas por protocolos abertos e redes descentralizadas gerenciadas por comunidades, combinando a infraestrutura aberta da Web 1.0 com a participação pública da Web 2.0. Se evoluir dessa forma, ela irá se consolidar como o próximo salto da internet, trazendo novas possibilidades e interações para os usuários.    

Um dos principais aspectos dessa nova internet é a transformação da identidade, propriedade, privacidade e gestão de ativos digitais. Ao adotar a abordagem peer-to-peer, a Web 3.0 pode unir tecnologias emergentes como tokens e blockchain para estabelecer relações baseadas em confiança, por meio de transações definidas por código aberto, imutável e descentralizado.    

Um dos desafios é a questão da identidade digital. Atualmente, não existe um protocolo unificado para definir e gerenciar identidades online. Espera-se que, na Web 3.0, os usuários implementem novas formas de armazenamento de dados, protocolos de segurança e propriedade, criando uma internet mais transparente e segura para todos, por meio de credenciais de identidade criptográfica.    

A economia tokenizada – baseada na propriedade de ativos digitais representados por tokens – está no centro das discussões em torno da Web 3.0. Essa abordagem oferece novas oportunidades para monetizar atividades e contribuições de criadores e usuários, permitindo que eles tenham mais controle sobre seu próprio valor.    

Ainda na seara dos ativos digitais, quero avançar um pouco e destacar a importância do gerenciamento desses ativos nessa nova internet que vemos emergir. Nela, os ativos digitais podem assumir diferentes formas, como criptomoedas, tokens, tokens não fungíveis (NFTs), identidades digitais e muito mais. Aqui estão alguns aspectos do gerenciamento de ativos digitais que ilustram soluções que devem fazer parte da Web 3.0:    

  • Propriedade e Controle: permite que os usuários tenham propriedade direta e controle sobre seus ativos digitais por meio do uso de chaves criptográficas. Os usuários têm uma chave privada exclusiva que lhes concede controle e acesso a seus ativos dentro da blockchain. Essa propriedade permite que os usuários transfiram, negociem ou usem seus ativos como acharem melhor, sem depender de intermediários.    
  • Carteiras e gerenciamento de chaves: apresenta carteiras digitais que servem como contêineres seguros para armazenar chaves criptográficas e gerenciar ativos digitais. Essas carteiras podem ser aplicativos, dispositivos de hardware ou até mesmo extensões de navegador. As carteiras permitem que os usuários armazenem e interajam com segurança com seus ativos, assinem transações e gerenciem suas identidades digitais.    
  • Interoperabilidade e portabilidade: se concentra na interoperabilidade, permitindo que os usuários gerenciem seus ativos digitais em várias plataformas e blockchains. Por meio de protocolos padronizados e soluções cross-chain, os usuários podem transferir ou interagir com seus ativos sem fricções em diferentes redes blockchain. Essa interoperabilidade aumenta a portabilidade e a flexibilidade dos ativos digitais dentro do ecossistema.    
  • Gerenciamento de NFT: tokens não fungíveis (NFTs) são ativos digitais exclusivos que representam a propriedade ou prova de autenticidade de um determinado item ou conteúdo. A Web 3.0 fornece ferramentas e plataformas para gerenciar NFTs, incluindo compra, venda, transferência e exibição. O gerenciamento de NFT envolve a interação com mercados descentralizados, plataformas de arte digital, ecossistemas de jogos e outros aplicativos construídos na tecnologia blockchain.    
  • Ativos Programáveis: os ativos digitais podem ser programados, permitindo um gerenciamento mais dinâmico e sofisticado. Os contratos inteligentes viabilizam a automação de funções de gerenciamento de ativos, como distribuir royalties para criadores de conteúdo, criar instrumentos financeiros complexos ou executar transferências condicionais.

Essa onda que promete reestruturar a Web como a conhecemos representa uma nova perspectiva para a identidade, propriedade, privacidade e gestão de ativos digitais. Ao adotar protocolos abertos e redes descentralizadas, ela capacita os usuários com transparência e controle sobre seus próprios dados e valor. A indústria de pagamentos tem a oportunidade de explorar e aproveitar os princípios que estão estruturando a Web 3.0 para criar soluções inovadoras e centradas no usuário, transformando a forma como realizamos transações financeiras e interagimos na era digital.    

  • Diretora de Inovação Visa da América Latina e Caribe