
Recém-contratado pelo Nubank, Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central (BC), saiu em defesa do Pix em sua primeira aparição pública como vice-chairman do banco digital. A declaração vem num momento em que o sistema de pagamento instantâneo brasileiro está na mira do governo norte-americano de Donald Trump. Na visão de Campos Neto, os recentes ataques ao Pix são um “provavelmente um barulho passageiro”. E até mesmo quem critica a modalidade perceberá como o sistema transformou o Brasil, disse ele no “Nu Videocast“, veiculado nesta terça-feira (5/8) – assista ao vídeo completo ao final do texto.
“O Pix é um bem público. Ele não foi criado para acabar com a concorrência, nem para o Banco Central ficar rico porque o BC nem ganha dinheiro com isso. Também não foi criado para o governo arrecadar impostos. [O Pix] foi criado para empoderar as pessoas. Para que os pequenos vendedores nas ruas pudessem vender de forma mais eficiente, segura e transparente”, afirmou Campos Neto.
Ao lado do fundador e CEO do Nubank, David Vélez, o ex-presidente do BC comentou que o Pix se tornou uma “inspiração” para diversos países na América Latina e também em outras regiões. Campos Neto citou casos como México, Colômbia e Coreia do Sul. Em quantidade de transações per capita, de acordo com ele, o Pix supera até mesmo sistemas de pagamentos instantâneos pioneiros no mundo, como o UPI da Índia.
“No final das contas, acho que o Pix cumpriu muitos dos seus objetivos. Está sendo reconhecido como um bom sistema. E acredito que esse barulho que estamos vendo agora é passageiro. No fim, cada vez mais pessoas, até mesmo aquelas que hoje criticam o Pix, vão perceber que ele promoveu uma transformação muito importante para um país como o Brasil”, disse Campos Neto.
Segundo Vélez, o Pix sempre foi uma prioridade para o Nubank, desde o lançamento do sistema, há quase cinco anos. Atualmente, entre 25% e 30% de todas as transações via Pix passam pelo Nubank, citou o CEO do banco digital. “O Pix criou a oportunidade de digitalizar o sistema, de eliminar o dinheiro em espécie – o que significou, para nós, acelerar nosso impacto e alcançar mais clientes.”
IA e tokenização vieram para ficar
Os executivos traçaram, ainda, algumas tendências, como o uso crescente de Inteligência Artificial (IA) e a tokenização de ativos (financeiros ou físicos). Para ambos, o Brasil está em posição de destaque quando o assunto é inovação em serviços financeiros.
Na visão de Vélez, enquanto os bancos digitais permitiram o acesso de milhões de brasileiros a produtos e serviços financeiros, a IA pode democratizar o conhecimento financeiro e os investimentos. “O banco digital proporcionou inclusão porque, com as vantagens de custo e eficiência do nosso modelo, conseguimos chegar a 100% da população. Mas o banco digital não resolveu o problema da educação financeira”, apontou.
O CEO do Nubank citou algumas situações. Por exemplo, ainda não há um conhecimento financeiro disseminado entre a população sobre como investir de forma eficiente, ou ainda ter ‘poder de barganha’ para negociar um empréstimo com dez bancos. “Esse conhecimento ainda está concentrado em uma pequena parcela da população. E é aí que a Inteligência Artificial pode entrar.”
Para Campos Neto, o registro de ativos financeiros e físicos precisa ser transformado, e a tokenização traz vantagens nesse sentido. “Ainda temos que ir a um cartório para registrar um imóvel, e precisamos voltar lá toda vez que fazemos uma transação no banco”, exemplificou. “Não é aceitável a quantidade de dinheiro que nós pagamos e a fricção que existe no registro dos ativos.”