PAGAMENTOS

Por que as fintechs de crédito podem ganhar com o Pix Automático

Mercado de duplicatas também tende a ser impulsionado com o avanço do sistema de pagamento instantâneo, diz Bruno Balduccini

Pix, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central - Imagem: Canva
Pix | Imagem: Canva

A chegada do Pix Automático promete influenciar o crédito, principalmente aquele concedido por fintechs que atendem as classes C, D e E. A avaliação é do advogado Bruno Balduccini, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados e um dos profissionais que ajudaram a construir a regulamentação das fintechs de crédito no País.

A lógica é a seguinte: na hora de cobrar as parcelas dos empréstimos contratados online, as fintechs pagam pelo débito na conta dos clientes, e há um custo por tentativa. “Quando você faz um empréstimo de R$ 100 e paga R$ 5 por tentativa de débito automático, a conta não fecha”, disse o advogado, em evento online da Belvo nesta quarta-feira (9/10). Outra saída é oferecer o pagamento via boleto, o que também traz o risco da inadimplência.

“Quando o Pix Automático entrar em vigor, a tendência é que o débito automático vá embora. Além disso, a certeza de pagamento aumenta porque a fintech não precisará emitir um boleto para o cliente pagar. Então, [o Pix Automático] traz dois benefícios: o custo transacional do empréstimo diminui e o risco de ‘default’ também cai. Esse é um impacto ainda não tão visível, mas que terá um efeito incrível na economia”, afirmou Bruno.

Com previsão de lançamento em junho de 2025, o Pix Automático permitirá cobranças recorrentes de forma automática, mediante autorização prévia do usuário pagador. Assim, a solução deve ser adotada por concessionárias de serviços públicos, escolas, academias, condomínios, planos de saúde, serviços de streamings, entre outros negócios de recorrência.

Para Ana Luiza Martins Castro, responsável pela carteira digital do iFood Pago – banco digital do iFood -, a grande aposta na agenda evolutiva do Pix tem a ver com o crédito. “Hoje, a economia brasileira ainda é fortemente baseada no crédito”, disse. Na visão dela, mesmo com potencial da combinação entre Pix e crédito, existem desafios como liability (responsabilidade) e inadimplência. “É um assunto delicado, mas entendo que é o próximo caso de uso.”

BNPL e duplicatas eletrônicas

Outra modalidade com potencial de crescimento é o buy now, pay later (BNPL), uma espécie de reinvenção do crediário no formato digital. Esse parcelamento é uma alternativa ao cartão de crédito, costuma rodar com Pix e vem sendo cada vez mais oferecido por fintechs. “O BNPL ainda será regulado, mas já existem alguns casos de uso”, citou Bruno, do Pinheiro Neto.

O atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já comentou diversas vezes sobre o potencial da utilização do Pix em operações de crédito. No órgão regulador, o produto recebeu o nome de Pix Garantido e faz parte da agenda evolutiva do sistema de pagamento instantâneo. A solução está em desenvolvimento e não tem previsão data de lançamento.

Além disso, a duplicata eletrônica – cuja implementação está prevista para 2025 – poderá utilizar o Pix como um dos métodos de pagamento. “Imagine um mercado de R$ 3 trilhões que funciona via boleto, com alto risco, e que passa a rodar em um sistema de registro centralizado e com pagamento por Pix. Isso é maravilhoso e beneficia as empresas que emitem as duplicatas”, disse Bruno.

Avanço PJ

Os especialistas também enxergam uma evolução na adesão das empresas ao Pix. A tendência é que isso avance com as novas funcionalidades do sistema, assim como a intersecção entre o pagamento instantâneo e o Open Finance.

“Ao longo do próximo ano, veremos uma difusão maior do Pix para pessoas jurídicas, tanto da ‘porta para fora’ quanto da ‘porta para dentro’. Ou seja, empresas que vão receber mais por Pix e aquelas que utilizam o Pix para gestão financeira, pagamento de salários e fornecedores”, disse Gustavo Lino, diretor-executivo da Init, associação que representa iniciadores de pagamento.

Para Albert Morales, general manager da Belvo no Brasil, as novidades do Pix vão levar o sistema a disputar espaço em posição de mais igualdade com os cartões. “O Pix será ainda mais conveniente. Todas as funcionalidades do próximo ano vão fazer com que o Pix seja um objeto de desejo como é o cartão hoje. E isso ajudará as duas pontas: pagador e recebedor”, afirmou.