"Logo veremos duas ou três fintechs com status de banco grande, entrando no grupo S1. Este é nosso sonho", diz Damaso, do BC

“Logo veremos duas ou três fintechs no grupo S1, com status de banco grande. Este é nosso sonho”. A previsão foi feita por Otávio Ribeiro Damaso, diretor de Regulação do Banco Central, durante evento para comemorar os cinco anos de vida da registradora CERC, nesta sexta-feira (6/10) em São Paulo.

Damaso diz que a primeira tentativa do Brasil de aumentar a competição no mercado financeiro foi incentivar a entrada para bancos de varejo estrangeiros, no final dos anos 1990. Eles chegaram querendo conquistar espaço literalmente, abrindo milhares de agências, o que não deu muito certo – a maioria bateu em retirada alguns anos depois.

“Nos últimos dez anos, principalmente desde 2015, as fintechs vêm transformando de fato a cara do sistema financeiro nacional, mesmo sem abrir uma agência sequer: já temos mais de 100 fintechs de crédito preenchendo nichos onde os bancos antes não entravam, isso sim aumentou a competição”, disse.

Dez anos das fintechs

No dia 9/10, a aprovação da Lei 12.865 faz 10 anos. Foi ela que regulamentou as atividades dos arranjos e instituições de pagamento, e permitiu o desenvolvimento das fintechs no país. 

Marcos Lisboa (esq) e Rodrigo Maia durante evento CERC Connect

Damaso acrescentou que o crescimento do cooperativismo de crédito também foi importante para dar suporte ao setor agro e levar o crédito para o interior: “Hoje as cooperativas representam 10% dos ativos; juntas já são o quinto maior banco do país”.

O diretor do BC apontou, ainda, a descentralização da antecipação de recebíveis com o advento das registradoras como fundamental para a concorrência. Para Damaso, é a inovação que vai continuar proporcionando oportunidades para crescimento do crédito – o registro de garantias, por exemplo, é um exemplo desse avanço.

Damaso estava presente, online, no painel Impacto das inovações regulatórias no crédito, que teve a mediação de Marcos Lisboa, economista e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e a participação de Rodrigo Maia, da Confederação Nacional das Instituições Financeiras.

“Boleto inteligente”

No segundo painel, o assunto foi a inovação no mercado de crédito que a tecnologia vem fomentando. Fernando Fontes, presidente da CERC disse que a próxima fronteira a superar é o sistema de liquidação: “Registro e negociação estão equacionados, falta a conexão dos sistemas de liquidação ao ambiente das registradoras, o que vai implicar em alterações dos meios de pagamento em geral”. Segundo ele, a agenda de liquidação é “o próximo passo para a higidez de todo o processo”.

Fontes revelou que está em negociação um projeto de Lei para criar o boleto “inteligente”. Hoje, o boleto tem uma linha digitável com uma conta corrente associada. A linha digitável vai mudar dinamicamente para o credor certo, se a duplicata atrelada ao boleto for usada como garantia. “Se o banco A emitiu o boleto e o cliente for negociar isso como garantia de empréstimo junto a uma fintech, a conta dessa fintech passa a ser a conta credora”.

Mario Mello, vice-presidente Pessoa Física e Digital do Banco Safra e Raphael Linares, diretor Jurídico e de Frota da Azul, também participaram do debate. Linares contou como a empresa conseguiu reestruturar sua dívida com ajuda da CERC no registro dos recebíveis dados como garantia aos credores.

“O exemplo da Azul demonstra o potencial que existe nos recebíveis, quando viabiliza soluções ágeis e novas. O Safra tem tradição em trabalhar com o segmento de middle market, com metodologia própria. Queremos capturar esse movimento de inovação para continuar líderes no segmento, aproveitar essa oportunidade não como defesa mas como ataque”, disse Mello.

No final do evento, a CERC anunciou que fechou uma parceria com a Google Cloud, mas ainda não deu detalhes.

Leia também

Brasil entrou tarde na era das inovações financeiras, diz BC