A Klavi agora tem a "chave" do Open Finance regulado

Em parceria com o Iniciador, fintech migrará em janeiro para o ecossistema regulado; o plano é crescer entre 3 e 5 vezes em 2024, diz CEO

Em operação desde o início de 2020, a Klavi vem crescendo com soluções de inteligência de dados e analytics a partir do Open Finance não regulado e já conectou quase 15 milhões de contas — 9 milhões somente neste ano. Agora, a fintech passará a ter conexões no ambiente regulado, ou seja, usando as APIs do Banco Central (BC). Assim, poderá coletar, tratar e enriquecer dados extraídos de conta corrente, cartão de crédito, investimentos e contratos de crédito.  

“Até hoje, fizemos conexões por meio do ‘screen scraping’. A partir de janeiro, migraremos os clientes atuais e os novos para a conexão regulada”, revela Bruno Chan, CEO e cofundador da Klavi, com exclusividade ao Finsiders. “O Open Finance regulado é um ambiente mais controlado e dá sensação de mais segurança para os usuários no compartilhamento dos dados. E tem o lado operacional também porque sabemos que o ‘scraping’ é uma tecnologia cara e com problemas.”

A Klavi não é uma instituição participante do Open Finance. Então, para colocar de pé essa novidade, a startup fechou uma parceria com a fintech Iniciador para coletar dados e operar a iniciação de pagamentos. A expectativa é que os serviços estejam rodando no próximo mês. “Primeiro, vamos lançar a parte de coleta de dados e, em seguida, a iniciação”, diz Chan. Em paralelo, a Klavi também aguarda sua licença própria de ITP. 

Com a entrada no ecossistema regulado, os clientes da startup terão acesso a um escopo mais amplo de dados do Open Finance, além da possibilidade de compartilharem dados a um número maior de instituições financeiras, explica o CEO. “O maior problema nesses quase três anos de Open Finance foi ter casos de uso. E isso começa a ser resolvido com startups entrando no regulado porque o Open Finance não pode só ficar nos bancos.”

Crescimento e expansão para outros países

A própria Klavi vem evoluindo para se posicionar como uma startup que desenvolve soluções analíticas usando dados do Open Finance. “Essa mudança de mindset combinada com o acesso a dados regulados com certeza vai aumentar muito o nosso faturamento. Em 2024, esperamos crescer entre 3 e 5 vezes”, projeta o CEO, que não abre números absolutos. 

Com um crescimento de 10 vezes em 2022, a startup não conseguiu repetir o ritmo neste ano, reconhece Chan. “Dado o contexto geral de mercado em 2023, inclusive com a saída de alguns players de soluções de Open Finance, a gente ter crescido foi bom. Por isso, estou otimista para o ano que vem”, afirma o CEO. 

Segundo ele, neste ano a Klavi deu mais foco para a criação de novos casos de uso dentro dos clientes e menos para a expansão da base. Atualmente, a startup soma cerca de 50 clientes ativos, estável em relação a um ano atrás, quando o CEO deu entrevista ao site parceiro Startups

A empresa atende players como os bancos BV e Pan, as fintechs de crédito Qista, Simplic e a operadora de telefonia Vivo. Tanto o BV quanto a Vivo, por meio do corporate venture capital (CVC) Vivo Ventures, são também investidores da Klavi. “Nosso público-alvo são empresas que tenham base B2C grande. Pode ser telco, birô, banco, startup de crédito.”

O fundador garante, ainda, que o plano de expansão — revelado por ele ao Finsiders em maio — continua de pé para 2024. “Não sei dizer para qual país vamos primeiro, mas temos essa estratégia para o ano que vem”, diz Chan. Com esse movimento, na prática, a Klavi passaria a competir ainda mais de frente com a Belvo, que tem operações em três países — Brasil, México e Colômbia. 

Nova era de gestores financeiros

Na visão de Chan, uma das grandes barreiras ainda para o avanço do Open Finance é a pessoa precisar dar consentimento toda vez que quiser compartilhar os dados. “O que falta, de verdade, é simplificar as coisas e ter menos fricção. O mundo ideal no Open Finance é o ‘opt-out’, como aconteceu com o Cadastro Positivo”, defende o empreendedor.

Para ele, há oportunidade também para o surgimento de uma “nova era” de gestores financeiros pessoais (lembra do saudoso Guiabolso?) e para empresas, além de inúmeros casos de uso. “Por exemplo, com o acompanhamento do saldo e da movimentação da conta diariamente, é possível desenvolver soluções de cobrança mais inteligentes”, cita. “Tem, ainda, um potencial transformador com a iniciação de pagamentos e as ‘sweeping accounts’ [também chamadas de transferências inteligentes].”

Mercado

Com mais de 40 milhões de consentimentos ativos e uma média de 1,2 bilhão de dados sendo transferidos por semana, o Open Finance é um terreno fértil para novas empresas e novos modelos de negócios. Nessa arena, empresas como a Klavi não jogam sem enfrentar competição, por óbvio. 

A Belvo, por exemplo, acaba de se tornar apta a operar iniciação de pagamento. A Lina Open X já obteve também sua licença de instituição de pagamento (IP) e está em fase de homologação para estar plenamente operacional com esse serviço nos próximos meses. Já a Pluggy, que aguarda sua aprovação como ITP, lançou um “conector” ao Open Finance regulado em outubro. A Celcoin, por sua vez, comprou em fevereiro deste ano a Finansystech para avançar no Open Finance. 

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