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“Ano difícil favoreceu tese do crowdfunding”, diz CEO do Kria; plataforma está prestes a estrear o seu mercado secundário com startup de impacto

“Este tem sido um ano difícil, mas a escassez de recursos favoreceu a tese do crowdfunding”. A opinião é de Camila Nasser, CEO do Kria – uma das primeiras plataformas de financiamento coletivo a startups do Brasil. “Antes estava mais difícil ser investidor do que empreendedor, agora inverteu, estamos vendo um ‘deal flow’ de empresas muito qualificadas”.

Um exemplo recente citado pela CEO é o da positiv.a, marca de produtos de limpeza e autocuidado ecológicos, que abriu a sua rodada de equity crowdfunding no Kria em setembro mirando captar R$ 9 milhões, a um valuation de R$ 45 milhões. Segundo Camila, esta é a maior rodada já levantada em crowdfunding. A empresa fatura R$ 15 milhões e os recursos levantados serão usados para integração e transformação da fábrica, vendas recorrentes, aquisição e comunidade, inovação e evolução do portfólio e capital de giro. “Superamos 70% da meta em uma semana, e podemos chegar a R$ 11 milhões até o fechamento, em novembro”.

Lançado em 2014, o Kria está agora prestes a estrear o seu mercado secundário, o crowdmarket: “Estamos selecionado a startup dentro do nosso portfolio, em breve anunciaremos o nome. Só posso dizer que será do segmento de impacto social”, adianta. Segundo Camila, no entanto, não será a positiv.a.

Retornos

A Resolução nº 88 da CVM , de julho do ano passado, atualizou a legislação das plataformas de crowdfunding, permitindo, por exemplo, que atuem como intermediadores de transações de compra e venda de valores mobiliários já emitidos publicamente pelas empresas que já tenham realizado ao menos uma oferta pública de distribuição no ambiente da plataforma.

A executiva explica que o lançamento do crowdmarket tem como objetivo proteger as empresas de oscilações de mercado, em um ambiente mais controlado, mas sem visar a formação de preços. “Com o mercado de negociação secundária, muda o paradigma da liquidez no mercado de startups, o investidor que investe hoje consegue listar seu investimento”.

Toda empresa que já está na plataforma poderá entrar – Camila diz que já passaram mais de 100 negócios pelo Kria, dos quais 14 já saíram, com retornos que superaram 10 vezes o investimento em seis anos, em alguns casos.

Ela cita três perfis de investidores que podem se beneficiar do mercado secundário: os que entraram cedo e querem encurtar ciclo; compradores que “perderam o bonde” do lançamento e querem entrar agora; e investidores que entraram no lançamento e queiram aumentar a participação.

Segundo Camila, a diferença do crowdmarket do Kria em relação aos projetos desenvolvidos dentro do SandBox da CVM pela BEE4 e SMU, por exemplo, é uma maior liberdade de estruturação, já que nessas iniciativas oficiais o valor das empresas pode acabar sendo determinado por fatores exógenos. “Na nossa bolsa, as oscilações serão limitadas, as empresas serão mais protegidas” contra especulações.

Plano B

O mercado secundário é a terceira vertical explorada pelo Kria. A segunda foi a KRS, plataforma de “equity crowdfunding as a service” que nasceu em 2021. Os sócios perceberam que podiam lucrar com sua experiência e, ao mesmo tempo, fomentar o desenvolvimento do mercado oferecendo infraestrutura tecnológica para novos entrantes.

“Quando começamos, ainda com o nome Broota, precisamos ‘cortar mato’, o mundo era muito diferente. Dois anos depois, em 2016, ainda existiam só 16 plataformas de crowdfunding no Brasil. Hoje são mais de 600 – e 15% delas estão na nossa comunidade “.

A KRS cobra uma mensalidade fixa ou mensalidade mais uma taxa de performance para “compartilhar nossa infraestrutura robusta, governança e estrutura jurídica”. Hoje, Camila acredita que o potencial de escala do Kria está, exatamente, no sucesso da KRS.