A fintech de infraestrutura CRT4, a primeira registradora de títulos totalmente digital do país, vai ampliar o leque de ativos “registráveis”. Autorizada a funcionar pelo Banco Central em maio de 2020, a CRT4 tem como sócios 31 bancos pequenos e médios, que registram e custodiam títulos como Letras de Câmbio, CDB e RDB. Cerca de duas dúzias de instituições financeiras já levaram 100% dos seus estoques desses títulos para a CRT4.
“O próximo passo é passar a registrar derivativos, LCI e LCA”, diz Jorge Sant’Anna, presidente do Conselho da CRT4. O executivo é presidente do BMG Seguros e foi, nos anos 2000, diretor da Cetip – a registradora foi comprada pela B3 em 2017. Para o ano que vem, estão previstas as entradas de cotas de fundos, debêntures, CRA, CRI e debêntures. “Estamos avaliando também o registro de ativos digitais, como criptomoedas e tokens”. Segundo Sant’Anna, somente em CDB há mais de R$ 1,2 trilhão: “Certamente, temos potencial para atrair algumas dezenas de bilhões desse total”, diz.
A CRT4 começou a operar com capital de cerca de R$ 15 milhões. A ideia da Central surgiu em 2018 na Associação Brasileira de Bancos (ABBC). O objetivo era funcionar como opção aos bancos menores, para os quais os custos cobrados pela Cetip/B3 – a única que atuava nesse mercado no Brasil até 2020 – eram muito altos. Por ser totalmente digital e tecnológica, a CRT4 conseguiu reduzir esses custos “a uma fração” dos cobrados pela concorrente. Da mesma forma, o executivo acredita que bancos digitais, para os quais também custo é uma variável muito relevante, vão cada vez mais aderir à CRT4. Sant’ Anna, porém, diz que o objetivo da CRT4 não é “brigar por preço”, mas oferecer alternativa “rápida, eficiente, democrática e segura, com a melhor experiência para os usuários”.
O executivo garante, também, que a CERT4 não vai entrar na disputa com as três registradoras de recebíveis (além da CIP, atuam nesse mercado a Cerc e a TAG, recém criadas): “Acredito em especialização por nichos. Não dá para fazer tudo”. Mas, ainda assim, Sant’ Anna espera alguma sobreposição entre as centrais.
A Central está aberta a receber capital de novos investidores, mas Sant’ Anna avisa que liquidez não é um problema no momento: “Para se juntar aos sócios, o investidor precisa aportar muita tecnologia inovadora”.
A entrada da CRT4 no mercado foi possível pela queda de três barreiras: queda dos custos de infraestrutura, viabilizado pela tecnologia; alto custo para mudança dos bancos e falta de interesse do regulador. “Hoje tudo mudou, inclusive, o regulador é o maior incentivador da concorrência no mercado financeiro”.
A ABBC representa instituições financeiras de pequeno e médio porte no País. Entre seus sócios estão o Citi, Safra, ABC e BMG. O objetivo da CRT4 é atender a todo o segmento. A participação societária na central é de, no máximo, 5,25%, uma forma de não criar um único dono ou poder de voto diferenciado, frente aos demais.