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Enquanto bancos digitais, fintechs de pagamento e plataformas de investimentos disputam clientes, algumas startups apostam em soluções para segmentos não muito ‘sexys’, como tecnologias para gestoras de recursos e aplicativo de cálculo e pagamento de IR. É o caso da carioca Investtools, criada em 2007 com foco em corretoras, mas que se especializou nos últimos anos em soluções para assets. E do Grana Capital, app que nasceu dentro da Investtools.
A empresa iniciou a trajetória entre 2007 e 2008 como uma unidade de negócio da Ideais Tecnologia, adquirida em 2013 pela B2W, dona da Americanas. Em 2014, a Investtools fez spin-off e foi praticamente “refundada”, como diz o atual CEO David Gibbin, que chegou à operação em 2015 e atuou na área de tecnologia do Itaú e do Banco do Brasil (BB).
De lá pra cá, o negócio tem crescido em torno de 50% ao ano, com a maior parte (80%) do faturamento vindo das soluções vendidas para gestoras. O principal produto é o Perform It, software de gestão e controle do fluxo de investimentos das gestoras.
Hoje, a Investtools atende 30 gestoras e processa cerca de R$ 60 bilhões em patrimônio desses clientes — no começo do ano, esse montante era de R$ 40 bilhões, por exemplo.
Agora a startup planeja expandir para outros segmentos dentro do mercado de capitais, como fundos estruturados e fundos de pensão, além de bancos de investimento. “Estamos buscando parceiros e investidores para financiar o crescimento acelerado”, diz Gibbin.
A empresa acaba de ser selecionada, junto com outras 16 startups, para o primeiro batch do programa de aceleração do Hupp!, hub de inovação e tecnologia voltado ao mercado de previdência privada, organizado pela Abrapp, Conecta e LM Ventures.
A expansão do negócio está diretamente relacionado à evolução da indústria de gestão de recursos no Brasil. Basta observar o crescimento nos últimos anos de assets independentes. Ao todo, são mais de 650 gestoras no país, conforme os dados do ranking mais recente da Anbima.
Segundo a entidade, a concentração das dez maiores gestoras caiu 4,5 pontos percentuais em 2019 em relação ao ano anterior. Ainda assim, assets como BB DTVM, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Safra fecharam o ano passado com R$ 3,5 trilhões sob gestão, o que significa 64,2% do total da indústria.
David Gibbin: “Hoje, quando uma gestora vai se credenciar na CVM e se associar à Anbima, precisa construir sistemas de controle. Nós oferecemos esse controle e o principal: know-how.”
Grana Capital
Em conversas com a Ouro Preto Investimentos há dois anos, a Investtools percebeu que havia um novo mercado a explorar: cálculo de Imposto de Renda (IR) para operações de renda variável.
“Junto com a Ouro Preto, fundamos a empresa, eles injetaram capital e começamos pesquisa de mercado para entender o que esse mercado de PF tinha de dor”, conta André Kelmanson, CEO da Grana Capital e sócio da Investtools.
Em vez de ingressar no segmento de consolidação de carteiras, do qual fazem parte nomes como Fliper (comprado pela XP), Gorila e Kinvo, os empreendedores notaram que o IR era um grande problema não solucionado, e muitas pessoas acabam recorrendo a contadores para fazer o cálculo do imposto para operações de renda variável.
O mercado potencial? Até um tempo atrás, menos de 1 milhão de investidores pessoa física na bolsa. Hoje, um número que chegou a quase 3 milhões no fim de agosto, ou mais precisamente 2,98 milhões de CPFs.
De olho nesse público, o aplicativo Grana Capital começou a ser desenvolvido com R$ 500 mil de investimentos em julho do ano passado, em fase de testes com poucos clientes. No início de 2020, ganhou a versão oficial para Android e iOS e hoje soma 1.200 clientes ativos. A ferramenta une, no mesmo app, cálculos, pagamentos e declaração de IR.
André Kelmanson: “Não somos uma calculadora de IR. O que a gente faz vai além disso: absorvemos o problema do investidor pra gente. A pessoa passa as credenciais da bolsa, só para consulta dos dados, e a gente puxa informações. Temos um conciliador diário com equipe de back office, que checa as carteiras dos clientes e bate com dados da bolsa.”
A fintech acaba de concluir uma rodada de R$ 700 mil via equity-crowdfunding em uma captação feita em quatro dias na plataforma SMU (antiga StartMeUP). O objetivo do aporte não foi só trazer dinheiro para a empresa, mas também sócios que tenham algum tipo de proximidade com o negócio, diz Kelmanson.
Com o recurso, a Grana Capital vai estruturar a área de marketing e aumentar a equipe de desenvolvimento. Em menos de um ano, espera uma levantar uma nova rodada.