Leia as edições anteriores da Finsiders
A fintech chilena Compara (novo nome da ComparaOnline) começou o ano otimista e empolgada. Também pudera: vinha de um crescimento de 40% em 2019, acima do projetado (35%), fruto de novos investimentos como o movimento de expansão em países como Brasil e Colômbia — em setembro de 2018, a startup comprou a colombiana ComparaMejor, líder em seguro auto no país.
Com a pandemia do novo coronavírus, o marketplace de comparação de preços de seguros e produtos financeiros viu o faturamento de seguro viagem zerar, sem contar uma perda de 50% nas vendas de seguro auto. “Estamos caindo 15%, muito impactados pelo seguro viagem, produto que acabou”, conta Paulo Renato Marchetti, general manager da Compara no Brasil, em conversa com a Finsiders por telefone. Ainda assim, a fintech já enxerga uma recuperação e prevê um crescimento na ordem de 20% a 30% para 2020.
“Estávamos capitalizados e, como precaução, tomamos uma linha de crédito no Chile, com prazo de 18 meses de carência e risco assumido pelo governo chileno. Acabamos ficando com caixa bastante recheado.”
Para enfrentar a crise, a startup precisou mexer na operação brasileira, hoje com 70 pessoas. Segundo Marchetti, 30% dos funcionários foram ou cortados, ou realocados. “Mantivemos plano de saúde por três meses para quem foi desligado”, exemplifica. Agora que se vislumbra uma retomada, a empresa começou a recontratar algumas pessoas.
Mercado
Com 23 seguradoras parceiras (13 em viagem e 10 em auto), a Compara observou maior movimentação de algumas seguradoras dispostas a experimentar novas soluções digitais. Ao mesmo tempo, para outras companhias que já eram parceiras, houve uma segmentação na oferta, com preferência por determinadas praças, por exemplo.
Sobre a figura do corretor, o executivo acredita que esse profissional não perderá importância. Muito pelo contrário. Terá um papel cada vez mais consultivo. Para Marchetti, a grande ameaça do mercado não é o digital, e sim a informalidade, com o avanço de associações ou cooperativas que vendem “proteção veicular” — a atividade não é autorizada pela Susep e, portanto, esses serviços atuam ilegalmente.
Brasil e Colômbia são metade do faturamento
Somadas, as operações da Compara no Brasil e na Colômbia representam praticamente metade do faturamento da companhia — a startup não revela números. O Chile, onde fica a sede da empresa, permanece como o maior mercado.
Segundo Marchetti, a operação brasileira ainda tem espaço para avançar, assim como a Colômbia, onde há uma baixa penetração de seguro online. O maior desafio é ganhar mercado na Argentina. “Nossa CTO é argentina, isso até ajuda a entrar no país, mas tem muita intervenção estatal ainda.”
Reposicionamento de marca
No ano passado, a startup mudou a marca de ComparaOnline para Compara, numa estratégia para se tornar a principal referência de marketplace de comparação de seguros e outros produtos financeiros na América do Sul. Hoje, a fintech tem como principal foco o seguro de automóvel. No Chile, por exemplo, a operação está cada vez mais verticalizada.
“No Chile, fazemos a coleta de pagamentos, gestão de vistorias, e também passamos a fazer gestão das assistências.”
Perguntado se seguiria a mesma estratégia no Brasil, o executivo acredita que é mais difícil por conta de travas da Susep, mas também porque cada seguradora tem uma forma de pagamento e parcelamento. “São muitos processos diferentes, com pouca integração.”
Foco na carteira
Durante a pandemia, a Compara freou os planos de novas linhas de produtos. No ano passado, em entrevista ao Valor, o executivo havia sinalizado a intenção de lançar seguro residencial e odontológico. Com a queda nas vendas em viagem e auto, a startup priorizou a rentabilidade da carteira atual, com aumento da penetração nos clientes atuais.
“Namoramos dental, e também plano de saúde, mas brecamos totalmente. Vimos que o mercado está bem mexido do ponto de vista de plano de saúde. Preferimos ficar olhando de longe, antes de entrar.”
Para Marchetti, o seguro auto cobrado por quilômetro rodado avançou no Chile, puxado pela Seguros SURA. No Brasil, o executivo avalia que ainda não existe uma demanda pela modalidade. Isso porque muitos clientes se sentem inseguros e o produto é de “difícil compreensão” para o consumidor. “Só vai funcionar quando seguradoras tradicionais se posicionarem com força.”
Crédito e conta digital
Apesar de seguro dominar a carteira, a Compara também atua com comparação de linhas de crédito, em parceria com grandes bancos como Santander e fintechs, caso da Creditas e da Bom Pra Crédito.
Durante a pandemia, houve um aumento grande na procura de empréstimos por motoristas de aplicativos, diz Marchetti. Mas as instituições fecharam a torneira, e a conversão diminuiu basatnte.
Outro movimento observado nos últimos meses foi a busca por contas digitais oferecidas por fintechs e bancos digitais, como Neon, Inter e Original.