A fintech Clara, que possui uma plataforma de cartões e gestão de despesas corporativas, desembarcou no Brasil em dezembro de 2021. Desde então, tem feito movimentos para crescer na América Latina, principalmente em solo brazuca — as outras operações são no México (onde foi fundada) e na Colômbia. Há duas semanas, por exemplo, anunciou a contratação de Francisco Simon (ex-Meta, Uber e Microsoft) como novo country manager da operação no país.
Agora, a empresa avança na estratégia para tornar o Brasil seu maior mercado até o ano que vem. A fintech acaba de receber a autorização do Banco Central (BC) para operar como uma instituição de pagamento (IP), nas modalidades emissor de moeda eletrônica (permite gerir contas de pagamento pré-pagas) e de instrumento pós-pago (cartão de crédito, por exemplo).
Conforme a publicação no Diário Oficial da União desta quarta-feira (9), a IP da Clara nasce com capital social de R$ 112,9 milhões.
Com a licença, a fintech poderá ampliar a oferta de produtos e serviços financeiros para as mais de 2 mil empresas que atende atualmente no Brasil. De largada, a expectativa é lançar uma conta digital que permitirá pagamentos com Pix, boleto e TED — hoje, a plataforma da fintech possibilita a gestão de gastos corporativos por meio de cartões de crédito.
“Com a IP, vamos poder crescer ainda mais nossa solução, com pagamento por TED, boleto, Pix, assim como continuar a operação de cartão pós-pago. Tudo isso conectado à plataforma de inteligência para as empresas”, conta Gerry Giacomán Colyer, CEO e cofundador da Clara, em entrevista ao Finsiders. O próximo passo é integrar o arranjo Pix, um movimento natural na jornada de evolução como IP. “Queremos ser participantes indiretos.”
Novo HQ
Ao mesmo tempo em que recebe o aval para funcionar como instituição regulada no mercado brasileiro, a Clara está anunciando a mudança da sua sede, até então na Cidade do México, para São Paulo. No Brasil, a fintech já soma 100 funcionários, cerca de 30% de toda a equipe.
“A maioria dos times globais ficava na Cidade do México, e agora estará em São Paulo”, diz ao Finsiders Francisco Simon, que recentemente passou a chefiar a operação local, no lugar de Layon Costa, agora alçado a diretor global.
Na visão do executivo, a oportunidade de crescimento no Brasil é grande, dada a combinação do tamanho do mercado com a experiência ainda ruim que as empresas costumam ter na gestão das despesas de seus funcionários. “Para ter um cartão corporativo hoje, é preciso ligar para o banco, emitir cartões um a um, sem contar a dificuldade para obter limites”, diz.
A mudança do headquarter (HQ) do negócio coincide, e não é à toa, com a penetração cada vez maior da solução da Clara em empresas de médio e grande porte. “Temos visto bastante interesse de companhias maiores e ‘enterprises’. Começamos a dar um foco estratégico maior para esse perfil de cliente”, afirma Francisco.
Expansão
Com mais de 10 mil clientes no total, sendo mais de 2 mil no Brasil, a Clara tem na carteira nomes como Amaro, Mapfre, BR Malls, SmartFit, além de startups como Méliuz, Kavak, Bitso, entre outras. “A base de clientes ativos tem ficado cada vez maior e cresce mês a mês”, diz o executivo.
Hoje, o Brasil representa cerca de 30% do volume total de pagamentos da Clara e a expectativa é ultrapassar os 50% até o ano que vem, tornando-se a maior operação da fintech, tanto em TPV quanto em receita.
Em 2022, foram R$ 600 milhões transacionados no país, montante que deve saltar para R$ 2 bilhões em 2024, nas contas da fintech. O crescimento não leva em conta o potencial de movimentação que virá de outros métodos de pagamento, como Pix, boleto e TED. Ou seja, a expansão pode ser ainda maior.
Para trilhar os planos de crescimento, a Clara está capitalizada. Em abril, fechou uma extensão da Série B, no valor de US$ 60 milhões. Desde o início do negócio, em 2020, a fintech já levantou mais de US$ 400 milhões entre rodadas de equity e estruturas de dívidas, de acordo com dados no Crunchbase.
Mas a Clara não está sozinha…
A gestão de gastos corporativos tem atraído diversas fintechs. Entre elas, está a Portão 3, que captou R$ 19 milhões em janeiro em uma rodada seed liderada pelo Better Tomorrow Ventures (BTV), fundo norte-americano especializado em fintechs early-stage. Também num aporte seed, há quatro meses o Banco do Brasil (BB) injetou R$ 4 milhões na Payfy, por meio do BB Ventures.
Há, inclusive, outros competidores gringos dispostos a desbravar o mercado brasileiro. É o caso da norte-americana Jeeves, que aterrissou aqui em março do ano passado. O segmento reúne, ainda, nomes como Conta Simples, Onfly, VExpenses, além de startups de benefícios flexíveis, por exemplo Flash e Caju, que têm ampliado a atuação para também gerenciar despesas corporativas.
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