No ano passado, quando entrou em vigor o novo limite da tarifa de intercâmbio nos cartões pré-pagos, muitas fintechs brasileiras precisaram rever seus modelos de negócio, inclusive buscando novas linhas de receita. Foi o que fez a Conta Simples, plataforma de gestão de despesas e cartões corporativos para pequenas e médias empresas (PMEs). A fintech, que tinha planos de entrar em crédito desde 2021, decidiu dar foco para esse tipo de produto.
Em fevereiro de 2023, a Conta Simples colocou no ar seu primeiro cartão de crédito, com limite flexível. E praticamente no encerramento do ano, obteve a sua tão aguardada licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD), o que lhe permite conceder crédito com recursos próprios. Nos próximos meses, a fintech planeja lançar uma linha de parcelado sem cartão, ou buy now, pay later (BNPL), por meio do Pix.
“O BNPL é o próximo passo que vamos dar. A ideia é lançar provavelmente entre junho e setembro”, revela Taeli Klaumann, CFO da Conta Simples, ao Finsiders Brasil. “Muitos fornecedores só aceitam pagamento por estruturas que não são cartão de crédito, e o financeiro das empresas prefere organizar as despesas 2 ou 3 vezes por mês. Então, estamos desenvolvendo um produto que entrega flexibilidade”, diz a executiva, que chegou à fintech em novembro de 2022.
Dentro de casa
No mês passado, a Conta Simples também passou a disponibilizar um modelo de crédito voltado para startups, que funciona como um mix entre a linha de crédito com garantia e o cartão de crédito com limite flexível. “Hoje trabalhamos com garantia de cash que é o que o Banco Central permite. Para operar com outros tipos de garantia, precisamos de outras licenças”, diz a CFO.
Ela cita, ainda, que a empresa chegou a rodar testes com empréstimos com prazos mais longos no ano passado, mas optou por focar nos cartões de crédito. “Achamos melhor deixar de lado porque era uma modalidade que conversava pouco com a jornada do financeiro das PMEs”, explica a executiva.
Em contrapartida a concorrentes que pisaram no acelerador para conceder crédito nos últimos anos, a Conta Simples optou por dar passos mais lentos nessa seara, em meio às incertezas que ainda rondavam o país. “Todo mundo saiu dando crédito, e talvez de uma maneira ansiosa e precipitada. No nosso caso, assumimos uma postura mais de observação”, conta. A estratégia, diz ela, foi construir internamente todo o motor de crédito. “Se ninguém sabe direito dar crédito para PME, então falamos: ‘vamos aprender dentro de casa’.”
Nesse sentido, a empresa também foi na contramão de muitas fintechs de crédito. Em vez de montar um FIDC ou outra estrutura de financiamento, a Conta Simples opera até agora 100% com caixa próprio como funding das operações. “Queremos ficar muito bons com esse motor, virar referência. Aí depois começamos a montar os veículos para conseguir dar mais crédito”, afirma a CFO.
Crescimento ‘saudável e consistente’
Com mais de 30 mil usuários ativos, a Conta Simples atingiu em 2023 um volume total de transações (TPV, na sigla em inglês) de R$ 18 bilhões, sendo R$ 5 bilhões em cartões de crédito. Ao todo, a empresa soma mais de 500 mil cartões emitidos. A fintech não revela a receita, mas diz que cresceu quase 3x em 2023. Neste ano, a expectativa é dobrar de tamanho, segundo a CFO.
No ano passado, a companhia alcançou o breakeven, que vem sendo perseguido por 10 entre 10 startups e fintechs. No entanto, Taeli argumenta que atingir o equilíbrio financeiro não é algo difícil. “Dá para fazer breakeven de uma operação só cortando despesas, mas isso tem um limite. Crescer de maneira saudável é aumentar não só a receita, mas também margem de contribuição.”
De acordo com a CFO, a Conta Simples seguirá a expansão de maneira saudável e consistente. “Não adianta crescer 10 vezes no ano e enxugar o tamanho da sua operação no ano seguinte.”
Além de investir em novos produtos e tecnologia, em 2024 a Conta Simples quer ampliar sua atuação com soluções complementares ao core business. “Já temos uma que é a parte de anúncios, segmento no qual compramos a Hackr Ads no passado [2022]. Em breve, devemos ter novidades sobre isso”, diz a CFO. “O caminho é olhar por verticais para poder ajudar os clientes com mais profundidade. Por exemplo, folha de pagamento é algo super complexo. Gestão de viagens é a mesma coisa”, afirma.
Mercado
Em gestão de despesas corporativas, a Conta Simples enfrenta concorrentes também capitalizados para crescer. É o caso da Clara, que tem no Brasil seu principal alvo de expansão. O plano é dobrar a base de clientes e multiplicar por 6x o volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês) em 2024.
Já em produtos bancários e de crédito para PMEs, a relação de bancos digitais e fintechs é grande. O Nubank, por exemplo, acaba de lançar o capital de giro para o segmento PJ, no qual soma 4 milhões de clientes. A Open Co, por sua vez, revelou recentemente que vai lançar o BNPL para PMEs.
Sim, o mercado é grande. Afinal, há mais de 21 milhões de empresas ativas no país, sendo mais de 93% de micro e pequeno porte. A pergunta que resta é: tem “pejotinha” para todo mundo?