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Está sentindo um vento mais gelado por aí? Os termômetros marcam um inverno rigoroso para startups e empresas de tecnologia, inclusive fintechs, que se acostumaram a períodos de tempo aberto, no estilo sol, praia e água fresca, saca?
O cenário, definitivamente, mudou. Nos últimos meses, as ações de empresas de tecnologia têm caído, numa correção de preços que reflete um contexto de inflação alta, aumento dos juros e, por óbvio, as incertezas decorrentes da guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia.
Em sua newsletter (assinem!), Lucas Abreu dá o exemplo da VTEX, multinacional brasileira com foco em e-commerce, que no IPO (em julho/21) os investidores a precificaram com um múltiplo de valuation a 22x receita estimada para 2022, dando um valor de mercado de US$ 3,5 bilhões para a empresa. Hoje, a companhia vale pouco mais de US$ 762,2 milhões. Inclusive, ontem anunciou quase 200 demissões, conforme noticiou o site Startups.
Maior fintech brasileira, que ganhou ainda mais holofotes em dezembro do ano passado com seu IPO simultâneo na Nyse e na B3, o Nubank é outro que vem sofrendo uma baita correção de valor nos últimos meses.
O banco digital estreou na bolsa norte-americana avaliado em US$ 41,5 bilhões, na época se tornando o banco mais valioso da América Latina, superando Itaú Unibanco e outros bancões brasileiros.
Desde o início do ano, as ações do Nu caem mais de 62% e hoje são cotadas abaixo de US$ 4. O valor de mercado não passa de US$ 17 bilhões. No balanço do primeiro trimestre, o banco apresentou o melhor resultado de sua história, mas analistas demonstraram preocupação com o aumento da inadimplência em 1,5 ponto percentual ano contra ano, para 4,2%.
Uma análise feita por Justin Kahl e David George, sócios do VC norte-americano a16z, mostra que os valuations medianos das empresas de software públicas caíram de 12x a receita futura para 5x ou menos, desde as altas registradas em outubro de 2021.
O report mostra uma queda mais acentuada justamente nos valuations das fintechs, que recuaram de 25x a receita futura em outubro de 2021 para 4x a receita futura em maio deste ano (veja gráfico abaixo).
Começam a aparecer casos de down round. A Klarna, fintech mais valiosa da Europa — que se notabilizou por liderar a onda de ‘buy now, pay later’ (BNPL) no mundo –, está captando uma nova rodada, mas precisará ajustar o valuation para US$ 30 bilhões, conforme reportagem do jornal The Wall Street Journal, citando fontes familiarizadas com o assunto. Na ocasião, a Klarna negou a informação.
Desde o início do negócio, a fintech já levantou US$ 3,7 bilhões, segundo dados do Crunchbase. Nesta semana, a empresa engrossou a lista das startups fazendo demissões e cortou 10% da sua força de trabalho.
Atenção, atenção!
Em carta divulgada na semana passada, a aceleradora Y Combinator deu um recado para as startups: “O movimento seguro é se planejar para o pior”. Ou ainda como escreveu David Sacks, cofundador e sócio da Craft Ventures, em um tweet no início do mês: “O sentimento dos investidores no Vale do Silício é o mais negativo desde o crash das pontocom.”
Outros VCs renomados, como Sequoia Capital, fizeram alertas para as startups do portfólio. A gestora norte-americana — que tem no currículo nomes como Google, Apple e Airbnb — deu a dica, em carta obtida pelo site The Information: “Este não é um momento para entrar em pânico. É tempo de pausar e reavaliar”, escreveu a Sequoia.
João Kepler, CEO da Bossanova Investimentos — pre-seed VC mais ativo na América Latina conforme o PitchBook –, diz ao Finsiders que ainda não sentiu o impacto. “No early-stage, os valuations são muito pé no chão, senão o cara não recebe o cheque”, afirma ele, que está nesta semana em Miami na segunda edição do VC Latam Summit.
“As startups nas quais investimos já estruturam essa queima de caixa, se é que tem, num período específico até a próxima rodada”, afirma. “E nosso investimento é de longo prazo, para dez anos.”
Como em toda crise, existem (adivinha?) oportunidades. “Acho que estamos vivendo um momento de desaceleração momentânea. O fato da bolsa ter caído e juro subindo faz empresas na bolsa terem valuations mais atrativos. Do nosso lado, a demanda está enorme”, diz ao Finsiders Oscar Decotelli, CEO da DXA Invest, gestora de private equity com cerca de R$ 1,1 bilhão sob gestão, a maior parte (90%) de investidores globais.
Enquanto o inverno segue assolando o ecossistema (e os valuations), os empreendedores terão de preparar suas “mantas” (ou seriam coletes estilo Faria Limer? risos) para enfrentar uma nova realidade, que vai exigir bastante resiliência.
Leia também:
VTEX demite pouco mais de 10% dos funcionários, por Startups
A nova realidade do Venture Capital, por Lucas Abreu
The upside of a downturn, por Lightspeed Venture Partners
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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.
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