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“Não tenho tempo para o supérfluo”, diz Jimmy Lui, o responsável pela inovação aberta do Banco BV

Honrando a tradição cultural do país onde nasceram seus pais – a China – o superintendente de Inovação e Open Finance no Banco BV Jimmy Lui é superfocado em trabalho. Em entrevista exclusiva a Fintechs Brasil, na sede do banco, Lui foi logo avisando: “Se é para trabalhar, conte comigo. Só não tenho tempo para o supérfluo”. Foco é um dos segredos da sua bem-sucedida carreira; mas sua crença no método científico e em “give first” foram fundamentais para o avanço da inovação no BV.

Desde 2021 até agora, o BV contratou 13 startups para desenvolver soluções a quatro mãos; entre elas, há pelo menos duas fintechs: a israelense Innovative Assessments (IA), de score psicométrico para análise de crédito; e a brasileira Klavi, de Open Finance.

Recentemente, o BV lançou seu Programa de Inovação Aberta (PIA), que até 7 de maio está recebendo inscrições de startups para resolver 10 desafios de 32 áreas diferentes do banco.

Inovação aberta é uma das três frentes que o BV trabalha para chegar a soluções inovadoras; as outras são as áreas de Corporate Venture Capital (que faz aportes nas startups) e de Banking as a Service (BaaS). Ao todos, são mais de 450 startups e 38 áreas do BV conectadas, No mundo de fintechs, o banco tem atuado mais com investimento/parceria para distribuição de produtos ou novos canais (ver quadro abaixo).

A herança oriental também rendeu a Lui outro atributo: ele não aparenta idade, mas tem 20 anos de experiência em consultoria de tecnologia e mercado financeiro (com passagens por multinacionais como a Accenture e pelo Itaú). Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

FINTECHS BRASIL: Como sua área incentiva a inovação no banco?

JIMMY LUI: Eu lidero as equipes que fomentam a inovação aberta e desenvolvem as estratégias de aplicação do Open Finance nos processos e negócios do banco. No BV, preferimos fazer junto que comprar pronto. Muito se fala em criatividade e espírito empreendedor como principais motores da inovação, mas eu não acredito em nada sem método científico. Inovação aberta requer método. É preciso formular uma teoria e testá-la. Nosso método é focado em protótipos.

FINTECHS BRASIL: E como funciona o funil da inovação dentro do BV? Como mobilizar os colaboradores a inovar?

JIMMY LUI: De fato, inovação muitas vezes aparece como mais uma demanda entre as atribuições das áreas, e uma que não é prioridade – daí o desafio de engajar. Eu acredito muito no “give first”, ou seja, a gente oferece ajuda antes de pedir colaboração. Primeiro, a gente ia pelas beiradas: pedia para as áreas levantarem algum problema não urgente para que a gente pudesse ajudar a resolver buscando soluções inovadoras no mercado de startups. Inovar é sobre mudar processos, sair do conforto, isso assusta. Mas aos poucos fomos comprovando a eficácia e chamando a atenção pelo sucesso. Assim geramos demanda espontânea. Vem dando certo.

FINTECHS BRASIL: Poderia citar algum exemplo recente envolvendo fintechs?

JIMMY LUI: A área de crédito tinha o desafio de conseguir aprovar mais limites para os clientes sem, claro, aumentar o risco de inadimplência. Encontramos a solução Worth Credit da IA, um score psicométrico baseado em Inteligência Artificial. Em seis meses, conseguimos ampliar em R$ 65 milhões o volume de financiamento de veículos. Com a Klavi, especializada em Open Finance, conseguimos interpretar os dados dos clientes que compartilharam suas contas em outras instituições conosco. Não basta ter acesso aos dados, cada um trata os dados de um jeito; a Klavi consegue “traduzir” e colocar todos numa base que o BV consegue analisar e interpretar. Com isso, ampliamos em 30% o limite dos clientes que compartilharam seus dados.

FINTECHS BRASIL: Em relação ao PIA, lançado recentemente, quais são os desafios e quantas startups devem ser chamadas a desenvolver soluções em conjunto com o banco?

JIMMY LUI: O programa foi lançado no SXSW em março, no Texas, e as inscrições estão abertas até 7/5. São 10 desafios, contemplando temas como experiência dos clientes em canais digitais, ecossistema automotivo, inovações em conta digital e cartão, novos canais de distribuição, garantia de recebíveis corporate, inovação em marketing, segurança da informação e uso de dados para experiência do cliente. Podem se inscrever startups que estejam em plena operação e tenham soluções de acordo com os temas em destaque e descrição dos desafios.

FINTECHS BRASIL: As startups selecionadas receberão investimentos ou aportes do BV?

JIMMY LUI: Não, a gente apoia com o time de inovação e as startups que passarem no desafio podem ou não serem contratadas posteriormente, conforme o regulamento. É preciso deixar claro que uma coisa é escolher uma startup para ser parceira no desenvolvimento de uma solução; outra é o banco decidir investir nela.

FINTECHS BRASIL: Mas já houve casos em que a parceria inicial se transformou em sociedade?

JIMMY LUI: Sim, no caso de fintechs temos o exemplo da Klavi. Mas também há casos em que a startup não entra pela porta da inovação aberta e é investida, como a Dr. Cash. O primeiro case de parceria com startup foi com o Portal Solar, em 2018. Em agosto de 2021, o BV comprou a parte do Portal Solar na fintech Meu Financiamento Solar por R$ 45 milhões.