Em 2014, a Ewally começou oferecendo conta digital e cartão pré-pago para desbancarizados, num momento em que a concorrência entre fintechs e bancos digitais ainda não era tão grande — depois virou um “oceano vermelho” e você sabe disso. Tanto é que nos últimos anos a empresa decidiu dar foco para um modelo B2B2C, com uma plataforma de banking as a service (BaaS), montando ecossistemas financeiros para empresas de setores como varejo, automotivo e educação.
A fintech — que teve 49% do seu capital comprado pelo Carrefour em outubro de 2019 com uma opção de adquirir o controle após três anos — agora dá mais um passo para se posicionar como um player relevante de BaaS. A empresa está lançando um novo serviço, o split de pagamentos, uma tecnologia que divide de maneira automática recebíveis em marketplaces.
Em entrevista exclusiva ao Finsiders, Rafael Lanna, Chief Revenue Officer (CRO) da Ewally, conta que o split de pagamentos já está sendo usado pela CotaBest, plataforma que reúne mais de 300 ‘sellers’, entre eles, os supermercados (adivinha!) Carrefour e Atacadão.
Além da CotaBest, outros quatro marketplaces “relevantes” também já estão conectados à nova solução, diz o executivo, sem abrir os nomes. Atualmente, a fintech negocia com cerca de 20 empresas — dessas, sete estão em estágio mais avançado para fechar contrato, cita Rafael.
“O split, basicamente, reduz ou desonera fiscalmente uma operação”, explica o executivo. “O marketplace poderia receber toda a receita, naturalmente teria tributação, e também ele precisaria emitir nota para os ‘sellers’. Dentro do conceito do split, reduzimos a bitributação, pois a receita é dividida no momento do processamento da venda, sem intermediação. Tudo auditado e com segurança operacional entre as partes.”
O serviço de split funciona para quaisquer métodos de pagamento aceitos por sellers e marketplaces, como Pix, boleto e cartão de crédito, ou mesmo transferências entre contas. “Fazemos o split na origem, e isso dá uma segurança operacional para o processo, que é auditável”, diz o CRO. Segundo ele, não é obrigatório que os vendedores plugados aos marketplaces clientes da Ewally tenham conta digital na fintech.
O split complementa o portfólio de produtos e serviços dentro do guarda-chuva de BaaS da Ewally, como emissão de cartões e boletos, saque nacional e internacional, link de pagamento, extrato bancário, transferências P2P, pagamento de contas, TED, DOC, Pix, conta ‘escrow’, mPOS e recargas (de celular e transporte). “Vamos entrar em microcrédito. Fechamos parceria com um grande banco e uma empresa de tecnologia”, revela Rafael, sem citar os nomes.
Neste ano, a fintech soma um volume total de pagamentos (TPV) de R$ 7 bilhões. Nos últimos três anos, processou quase R$ 10 bilhões. Atualmente, as soluções da Ewally são utilizadas por cerca de 50 clientes, como Carrefour, CotaBest, NovaDAX, Solfácil, BrasilCash, entre outros. “Neste momento também estamos ajudando uma das cinco maiores montadoras a lançar uma ‘wallet’”, conta Rafael, que não pode revelar o nome da companhia por questões contratuais.
A tendência, inclusive, é que a fintech amplie ainda mais o portfólio de soluções financeiras no ano que vem, quando estiver conectada diretamente ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Isso porque, no mês passado, a Ewally recebeu autorização do Banco Central (BC) para operar como uma instituição de pagamento (IP) regulada, nas modalidades de emissor de moeda eletrônica e iniciador de transação de pagamento (ITP). “Estamos em fase de homologação para se conectar diretamente ao SPB.”
Concorrência
Não faltam competidores à Ewally. Na arena do varejo, todos os grandes players se movimentaram nos últimos anos para construir soluções dentro de casa ou adquirir negócios em serviços financeiros. Para citar alguns exemplos, a Via conta com o banQi; Magazine Luiza tem a Fintech Magalu (que também oferece uma plataforma de BaaS); e Americanas possui a Ame Digital.
A concorrência também é grande no mercado de BaaS. A lista de players que oferecem soluções nessa frente inclui nomes como BMP, Bankly (do Grupo Méliuz), Biz, Celcoin, Dock, FitBank, Matera, QI Tech, Swap, Zoop, entre outros. Grandes bancos como BV, BTG Pactual e Itaú também apostam nessa estratégia.
Conforme o último relatório do Gartner, “Hype Cycle for Digital Banking Transformation”, divulgado em setembro, o BaaS atingirá ampla adoção no mundo todo dentro de dois anos. Pesquisa realizada pelo Introspective Market Research (IMR) aponta que o Brasil o país representa 73% do mercado de BaaS na América do Sul.
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