Sinapse, que automatiza gestão financeira para PMEs, faz 1ª aquisição

Com a compra da UpTick, consultoria e escritório de contabilidade, a expectativa é aumentar em 30% a receita recorrente mensal

Os paulistas Diogo Martins (à direita da imagem) e Walter Cavalcante (no centro) se formaram em contabilidade, mas não chegaram a atuar no segmento. Cada um seguiu um caminho profissional. Enquanto o primeiro montou uma consultoria de inovação para startups, o segundo fez carreira no mundo de fusões e aquisições (M&A). Até que se tornaram sócios e fundaram, no início de 2018, a Sinapse Finance, de olho na gestão financeira automatizada para pequenas e médias empresas (PMEs). 

Certo, mas o que toda essa história tem a ver com contabilidade? Tudo. Agora, a dupla se reencontra com a área. Isso porque a plataforma da Sinapse está avançando para ser um ‘one-stop-shop’ de finanças para PMEs, e nesse quebra-cabeça faltava justamente a “peça” do serviço contábil. “Imagine as rotinas do financeiro e de contabilidade na mesma plataforma”, diz Walter. 

Para concretizar essa visão, o empreendedor conta com exclusividade ao Finsiders que a Sinapse acaba de comprar 100% da UpTick, consultoria e escritório de contabilidade voltado para PMEs e startups. A transação está sendo realizada via troca de ações. O valor do negócio não foi divulgado, mas Walter diz que a empresa pagou um múltiplo de 1,4x receita, o que ele considera “acima da média” para carteiras de escritórios de contabilidade. 

Com a aquisição, o fundador da UpTick, Fernando Martins Ribeiro, se junta ao time da Sinapse e ficará responsável por liderar o produto de contabilidade. A equipe de 25 pessoas do escritório também passa a fazer parte da fintech. O deal adiciona 55 clientes à base da Sinapse, que passa a ter uma carteira com 170 PMEs. O foco é atender companhias que faturam até R$ 50 milhões por ano. 

Evolução

A expectativa é que o negócio com a UpTick aumente em 30% a receita recorrente mensal (MRR, na sigla em inglês) da empresa. “Este ano, nosso faturamento deve encostar em R$ 10 milhões. Em 2022, fizemos R$ 5 milhões”, conta Walter. “Estamos fazendo a integração de operações e sistemas. Com a ‘casa arrumada’, o próximo passo é ir ao mercado para levantar mais capital”, complementa o fundador.

Em abril do ano passado, a fintech levantou a primeira rodada de investimentos, no valor de R$ 4,4 milhões. O aporte foi liderado pelo grupo BR Angels e teve participação da Aimorés Investimentos e de investidores-anjos como Paulo Silveira (Alura), Guilherme Décourt (ex-Monashees e hoje sócio da École 42), Rudy Tarasantchi (diretor de tecnologia da Flash Benefícios) e Karen Kanaan (ex-Endeavor e também sócia da 42).

Segundo o CEO, a aquisição é transformacional para a Sinapse. Criada há mais de cinco anos com uma solução de ‘CFO as a service’, a startup evoluiu para uma plataforma que automatiza os processos financeiros de PMEs. “No início, oferecíamos um serviço e não tinha tecnologia. A primeira versão da plataforma foi lançada no meio de 2021”, conta Walter.

Agora, a ideia é agregar o serviço de contabilidade, até então realizado por meio de escritórios parceiros. “O que estamos propondo agora é outro nível de produtividade, com uma visão ‘one-stop-shop’ de soluções financeiras para as empresas”, diz o fundador. 

Ele diz que o objetivo não é concorrer com os ERPs. Muito pelo contrário. “Não substituímos o ERP, e sim operamos com nossa tecnologia rodando em cima dos sistemas de gestão”, explica. Nesse sentido, a Sinapse está integrada a players como Omie, Bling, Oracle NetSuite e Senior Mega. 

Além disso, a startup montou um ecossistema de parceiros, no qual revende produtos e serviços e fica com um ‘fee’. Ao todo, são mais de 100 soluções parceiras atualmente — de consultoria jurídica a soluções de crédito, meios de pagamento, câmbio e investimentos. “É a receita que mais cresce. Perto de 1 quinto da nossa receita vem do marketplace. Hoje, 70% dos nossos clientes já contrataram soluções pelo ecossistema”, conta Walter.

IA

Em outra frente, a Sinapse está testando o uso de inteligência artificial (IA) com grandes modelos de linguagem (LLM, na sigla em inglês), tecnologia baseada em algoritmos de machine learning (aprendizado de máquina). A ideia é facilitar e automatizar processos operacionais, tais como: contas a pagar, contas a receber, classificação de lançamentos e captura de informações. O modelo está em fase final de desenvolvimento e deverá ser lançado nos próximos meses.

“A ideia é ter um assistente virtual que capture dados com as comunicações dos clientes e consiga responder perguntas como Ebitda do mês passado, ou que ações tomar para melhorar o meu resultado”, exemplifica Walter. Isso não significa, contudo, substituir os humanos. “São tarefas que nosso time faz e ainda continuará fazendo. O robô ainda tem problemas de contexto.”

Second-time founders

Ambos alunos de escola pública, oriundos da periferia de São Paulo e formados pela FEA-USP, Walter e seu sócio Diogo são empreendedores de segunda viagem, os chamados ‘second-time founders’. Depois de trabalhar na assessoria financeira Upside, Diogo fundou a Supernova consultoria focada em financiamento de projetos de inovação para startups e que atendeu clientes como VTEX, Involves, Omie, Social Miner e Braile Biomédica

Walter, por sua vez, cofundou e presidiu a Liga de Mercado Financeiro da FEA-USP entre 2008 e 2009. No ano seguinte, fundou o Agrupe, um dos primeiros sites brasileiros de compras coletivas (lembra deles?), que chegou a ter mais de 100 mil inscritos. O negócio foi vendido para o empresário e apresentador de televisão Carlos Massa, o Ratinho. Com o exit, Walter embarcou no mundo de M&A e passou a trabalhar no Pátria. Depois, foi CFO do software de gestão ERPFlex e, em 2018, se juntou a Diogo na Supernova, o berço da Sinapse

Concorrência

Pelo tamanho do mercado de PMEs no Brasil, naturalmente a Sinapse não é a única startup a se propor a resolver as dores de gestão financeira desse segmento. Um de seus principais concorrentes é a BHub, fundada por Jorge Vargas Neto, que aposta em uma solução de ‘backoffice as a service’ e já atende mais de 1 mil empresas.

A Kamino, por sua vez, recentemente repaginou sua oferta para impulsionar seu crescimento, principalmente de olho nas PMEs. O movimento ocorreu meses depois que a fintech incorporou a startup Nimbly, especializada na gestão e execução de pagamentos.

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