Fintech sergipana iCred aposta em "agentes autônomos" para crescer na antecipação do FGTS e no consignado do INSS

Com mais de 1 milhão de clientes, empresa prevê atingir uma carteira de crédito de R$ 2,5 bilhões até o fim de 2024, diz o CEO Túlio Matos

Fundada há dois anos, em Aracaju, capital de Sergipe, a iCred tem como carro-chefe a antecipação de saque do FGTS. Com mais de 1 milhão de clientes em 5.248 municípios brasileiros (94% do total no país), já originou mais de R$ 1 bilhão nessa linha e prevê atingir uma carteira ativa de pelo menos R$ 2,5 bilhões até o fim de 2024 — hoje são cerca de R$ 800 milhões. “É ousado”, reconhece Túlio Matos, CEO e cofundador da fintech. 

Em entrevista exclusiva ao Finsiders, numa de suas passagens pela capital paulista, o empreendedor não esconde a empolgação com o crescimento do negócio criado por ele e os três irmãos — Júlio, Pedro e Thiago. Até hoje, a fintech vem sendo financiada por recursos da família, gera caixa e dá lucro desde agosto de 2022, segundo Túlio.

Em meio a fortes concorrentes como C6 Bank, Banco Pan e Safra, entre outros, a iCred aposta no que chama de rede de “agentes autônomos de crédito” para crescer em modalidades de empréstimo pessoal com garantia. O modelo se assemelha ao desenhado pela XP e depois seguido por diversos players da indústria de investimentos.

No caso da iCred, os agentes são correspondentes bancários, empresas contratadas por bancos e outras instituições financeiras reguladas pelo Banco Central (BC) para prestar serviços a seus clientes. Hoje, são 25 mil parceiros com a ambiciosa expectativa de chegar a 100 mil até o fim do ano. De acordo com Túlio, dos 10 maiores originadores desse mercado, 7 já são parceiros da iCred

“Nosso papel é fazer a curadoria dessas empresas. Aqui a regra é clara: quando errou, eu bloqueio e pergunto depois. O que é errar? Venda mal feita, ou seja, sem explicar todos os detalhes do produto para o cliente”, explica o CEO. “Desde o D0, colocamos o ‘bode na sala’, enviando mensagem para os clientes não aceitarem nenhuma cobrança adicional, por exemplo.”

Evolução

Com essa rede B2B2C, a iCred soma atualmente mais de 1 milhão de clientes ativos, de uma base total de mais de 4 milhões de cadastrados. Ao todo, essas pessoas já fizeram mais de 13 milhões de simulações, o que gerou cerca de 2 milhões de propostas de crédito. “Só originamos se vemos que a pessoa tem capacidade de pagar. Leia-se, saldo no FGTS ou margem necessária junto ao INSS”, afirma o CEO.

Com quase 6% de penetração no público que já antecipou o saque do FGTS no Brasil, a iCred entrou no consignado para aposentados e pensionistas do INSS no ano passado, mas com cautela. “Liberamos em grupos de controle para ir modelando o produto porque é um ‘bicho mais nervoso’ em qualidade de originação”, diz Túlio. 

O plano neste ano é ganhar corpo nesta modalidade, que tem Pan e Safra como alguns dos principais players no canal correspondente bancário. “Vamos incomodar até o fim do ano”, enfatiza o CEO. Além disso, a intenção é lançar novos produtos, como o refinanciamento em fevereiro, a portabilidade de crédito entre março e abril e o cartão de crédito consignado no segundo semestre. 

Esse último projeto, aliás, estava previsto para 2023, mas não rolou. “Foi muito ambicioso colocar como meta para o ano passado”, reconhece Túlio. “Esse produto tem uma camada regulatória mais densa porque não é só crédito consignado, é um meio de pagamento, com todo um ecossistema: bandeira, processamento etc.”, diz o empreendedor.

Novo FIDC

Para avançar na originação de crédito, a iCred vem fortalecendo as estruturas de funding (financiamento). Em outubro do ano passado, anunciou a captação de um FIDC de R$ 100 milhões. Agora, está em fase de estruturação de um novo fundo, sua primeira oferta pública, com previsão de lançamento em março. “Será o primeiro produto dessa natureza a receber rating de uma casa internacional”, afirma Túlio. 

Além disso, o CEO diz que vem conversando com casas especializadas em captação e M&A para avaliar oportunidades de levantar recursos, via equity (vendendo participação no negócio) ou dívida. 

Em outra frente, a iCred está testando uma ferramenta para atendimento aos clientes por meio do WhatsApp. A solução combina o Flows, recurso da Meta que permite às empresas construírem experiências nativas no app de mensagens, com a inteligência artificial (IA) generativa do Chat-GPT, da OpenAI. “Em fevereiro, sairá da versão beta”, revela o CEO.

De pai para filhos

Novata como plataforma, a iCred é uma evolução da promotora de crédito Vida Nova, fundada pelo engenheiro Júlio César Cardoso de Matos, pai de Túlio, em 2005 na cidade de Nordestina (BA), com 13 mil habitantes e a 259 km da capital Salvador. 

Hoje, o Grupo Vida Nova (GVN) está em mais de 400 cidades com sua rede de marketing de afiliação que supera 27 mil membros. A própria iCred mantém uma forte relação com a “empresa-mãe” — 40% dos negócios ainda são originados pela GVN. Mas a fintech espera continuar cortando o “cordão umbilical”. Assim, a intenção é chegar a uma participação de 15% a 20% até o fim do ano, diz Túlio.

Trabalhando desde os 15 anos no negócio da família, o empreendedor acompanhou o desenvolvimento do mercado de crédito consignado, criado em 2004, e seu impacto num pequeno município. “O consignado foi transformacional principalmente para quem está nos rincões do país. Era a única chance para muitas pessoas de comprar a primeira geladeira, por exemplo”, relembra.

Mercado atraente

Atualmente, o consignado representa 70% do saldo de crédito pessoal com recursos livres no Brasil, conforme dados do Banco Central. Juntos, as linhas para servidores públicos e INSS respondem por mais de 93% desse mercado. Desde setembro de 2022, a inadimplência tem se mantido próxima a 2%, o que justifica o apetite de um grupo cada vez maior de fintechs.

Uma delas é a soteropolitana Konsi, que montou um comparador de crédito consignado público. “Os correspondentes bancários, via de regra, têm call center para sustentar, e não oferecem autosserviço. No nosso caso, a própria pessoa simula e contrata o crédito pelo app. Cabe a nós acompanhar a operação”, disse o co-CEO Bruno Barreto, em entrevista ao Finsiders há cerca de quatro meses.

Grandes players, como Nubank e PicPay, também vêm aumentando a ofensiva no mercado de consignado público.

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