Denise Ramiro
Fintechs especializadas em planejamento, educação ou assessoria financeira estão se antecipando ao Open Banking e acelerando sua integração com bancos. Nessa semana, a Mobills anunciou parceria com o Nubank – e promete estender essas integrações a outras instituições em breve. A Vista está em fase de testes e deve lançar a sua em duas semanas. O Guiabolso, pioneiro nessa integração mesmo antes do Open Banking, fechou mais uma parceria, com o Banco PAN. Com a integração, as fintechs têm acesso a dados e aos produtos contratados pelos seus clientes em diversas instituições, o que ajuda na missão de orientar e administrar o dinheiro dos usuários.
Desde o começo da pandemia, que deixou muita gente desempregada, mais endividada ou mesmo em dúvida sobre como cuidar do dinheiro no “novo normal”, educação financeira se tornou um assunto ainda mais relevante – e um negócio cada vez mais disputado pelas fintechs. Segundo estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em janeiro 66,5% dos brasileiros estavam endividados. De acordo com dados do Serasa, até dezembro de 2020, cerca de 61,4 milhões de brasileiros estavam negativados.
Hoje, as fintechs de finanças pessoais se dividem em diversas categorias – além de gestão financeira e apoio a planejadores, com uso mais ou menos intensivo de tecnologias de ponta, há as que oferecem curadoria de produtos e serviços e, até, as focadas em melhorar a saúde financeira dos funcionários de empresas.
Esse último é o nicho do Grupo H, que presta serviços de educação financeira às empresas para orientar os seus funcionários na hora da tomada de crédito. “Muitos pegam crédito por impulso e depois não conseguem pagar”, diz Roberto Ferraz, CO e CEO do Grupo H, fintech brasileira especialista em venda de crédito consignado para funcionários de empresas privadas. Há três anos, ele agregou ao seu produto o serviço de educação financeira.
Ferraz cita pesquisa do The Employer’s Guide to Financial Wellbeing, que mostra que funcionários com dívidas produzem 15% menos. Segundo pesquisa do próprio Grupo H, 67% dos colaboradores estão endividados, sendo que 80% das dívidas estão atreladas ao cartão de crédito, um dos maiores custos do mercado. “Mostramos aos nossos clientes que o endividamento pode reduzir a produtividade”, explica Ferraz. Com uma carteira com 120 clientes e público potencial de 300 mil colaboradores, Ferraz diz que a empresa já impactou a vida de 40 mil colaboradores.
O executivo conta o caso de um colaborador que ligou para o Grupo H pedindo crédito para comprar um carro. O atendente perguntou a ele porque não ia direto na concessionária, que tem custo três vezes mais baixo. Ele disse que não podia porque estava com o nome sujo no Serasa. O atendente, então, sugeriu que ele tomasse o crédito consignado, quitasse a dívida e assim pedisse crédito mais barato na concessionária para comprar o carro. “Muitas vezes, acertar as contas é uma questão de renegociar uma dívida cara por uma mais barata”, diz Ferraz.
Por trás das escolhas erradas, está a falta de educação financeira do brasileiro. Pesquisa recente encomendada pelo C6 Bank ao Ibope Inteligência mostra que só 21% dos brasileiros das classes A, B e C, com acesso à internet, tiveram introdução à educação financeira durante a infância e 14% só aprenderam finanças pessoais depois dos 25 anos. “Esse número é muito baixo e demonstra o quanto o brasileiro não sabe como cuidar do seu dinheiro corretamente. Mas não é irreversível, nunca é tarde para aprender”, diz Alberto André, cofundador e CEO do Plusdin, uma fintech de indicadores de serviços financeiros.
Segundo André, a proposta da Plusdin é ajudar as pessoas a tomar decisões mais inteligentes quando contratam serviços financeiros. A fintech faz isso através da análise e comparação de todos os 500 produtos financeiros disponíveis no mercado brasileiro. O empreendedor diz que em menos de um ano, já ajudou mais de 10 milhões de brasileiros a tomar decisões financeiras mais inteligentes. A Plusdin tem parcerias com cinco grandes instituições financeiras e fintechs de diferentes campos de atuação, e espera dobrar o faturamento até final de 2021.
A plataforma de assistência financeira Olivia, por sua vez, usa inteligência artificial e a economia comportamental para orientar as pessoas a gastarem melhor e economizarem. Os usuários fazem o download gratuito do aplicativo e conectam no app suas principais contas, cartões e contas de investimentos. A Olivia, então, aplica inteligência artificial e aprendizado de máquina para aprender com o passado financeiro das pessoas, prever futuras compras e recomendar formas mais inteligentes de gastar e gerenciar o dinheiro. Os usuários têm acesso ainda a uma rede social feita exclusivamente para debater finanças pessoais, tirar dúvidas, compartilhar dicas e opiniões sobre investimentos, mercado, empréstimos, renda, gastos, entre outros.
A Olivia já ajudou usuários, por exemplo, a identificar vazamento de água em casa, cobrança duplicada de aplicativo de comida ou o dia da semana mais barato para ir ao supermercado. “Acreditamos que a educação financeira é a base para o setor de fintechs se desenvolver e esse é o pilar central dos produtos que construímos”, diz Lucas Moraes, cofundador da Olivia, que têm como investidores o banco BV, XP e o fundo de Venture Capital BR Startup.
Educação financeira
Depois da integração com o Nubank, os usuários com conta e cartão de crédito no ‘roxinho’ poderão acompanhar seus gastos registrados de forma automática, facilitando o controle financeiro. A fintech afirma que esse é só o primeiro passo para automatizar a sincronização da plataforma e que, em breve, outros bancos e instituições financeiras também serão integrados. Sediada em Fortaleza, a Mobills foi fundada em 2014 e tem mais de oito milhões de downloads do aplicativo. Além de se propor a facilitar a gestão das finanças, a Mobills também produz conteúdo sobre educação financeira, de e-books e calculadoras automatizadas, além de cursos que ensinam a tirar do papel as lições sobre finanças pessoais.
A Vista, inaugurada em agosto de 2020, já começou atuando com educação, mas focada no planejador financeiro, uma das carreiras do futuro. De olho nesse nicho, a Vista estreou no mercado oferecendo uma plataforma tecnológica para apoiar esse profissional. Desde o final do ano passado, a empresa passou a oferecer também treinamentos virtuais online e ao vivo, agora disponibiliza também o curso 100% online, com 8 horas de duração, dividido em 8 módulos, com horário livre. “Nosso objetivo é desenvolver e fomentar o planejamento financeiro pessoal no Brasil, oferecer uma alternativa de trabalho para planejadores e uma opção de planejamento financeiro para a população sem venda de produtos, conflito de interesses e mais clara e honesta”, Luiz Fernando Schvartzman, CEO da empresa. A startup soma R$ 350 milhões em patrimônio cadastrado no sistema, 400 famílias atendidas e 110 planejadores financeiros.