LUCROS

Nubank, Stone e mais 4 fintechs deixam passado de prejuízos para trás

A única do grupo que ainda não atingiu o breakeven foi a Creditas

Nubank, Stone e mais 4 fintechs deixam passado de prejuízos para trás

Atualizada em 26/3 às 12h com posicionamento do Inter sobre quantidade de clientes*

Em 2023, seis das sete maiores fintechs brasileiras deixaram para trás o passado de prejuízos. A única do grupo que ainda não atingiu o breakeven foi a Creditas. Pelos resultados e pelos tamanhos que alcançaram, pode-se dizer que essas fintechs deixaram para trás, também, o status de startups.

PicPay e C6 ainda não divulgaram seus balanços – o prazo vence em 31/3. Mas, ao incluir seus números com base em previsões, teríamos sete de nove com lucro – o C6 faria companhia à Creditas, e o PicPay estaria no azul.

A diferença entre os resultados dessas fintechs em 2022 – quando cinco delas fecharam no vermelho – e os de 2023 é expressiva: quase R$ 10 bilhões. A melhora foi puxada principalmente pela performance surpreendentemente positiva do Nubank e pela recuperação da Stone, que veio de dois anos anteriores difíceis. Mas Inter também contribuiu, revertendo o prejuízo.

Essa foi a primeira vez que o Nubank, fundado em 2013, entregou lucro anual para os acionistas. A quantidade de clientes chegou a 94 milhões, considerando os três países onde tem negócios. No Brasil, a base de clientes atingiu 87,8 milhões no final do trimestre.

Em termos ajustados – quando a comparação exclui eventos extraordinários em ambos os períodos – o Nu já estava no azul em 2022: US$ 204 milhões. Por esse critério, o resultado de 2023 foi de US$ 1,2 bilhão.

O Inter também entrou no azul: depois de apresentar prejuízo de R$ 14 milhões em 2022, registrou lucro líquido de R$ 352 milhões no ano passado. Na apresentação dos resultados, o banco citou o aumento de 26% da carteira de crédito em 12 meses como um dos responsáveis pela recuperação.

Inter no azul

Em janeiro último, o Inter captou R$ 800 milhões com uma oferta de ações em Nova York, mesmo já tendo um nível forte de capitalização. No começo do ano passado, o Inter havia apresentado o Plano de Negócios 60-30-30, que tem como objetivo chegar a 60 milhões de clientes até 2027, mantendo uma eficiência de 30% e alcançando um retorno sobre o patrimônio de 30%. 

Já a Creditas, embora siga no vermelho no ano, já apresentou lucro em dezembro. “O ano 2023 foi de muitas conquistas para a Creditas”, definiu a empresa em nota que acompanhou o balanço anual de resultados. A conquista do tão esperado breakeven (equilíbrio financeiro), no entanto, ainda vai demorar um pouco mais. No último ano, a fintech de crédito com garantia contabilizou perdas de R$ 385 milhões. O resultado representa uma redução de 64% na comparação contra 2022, quando registrou prejuízo líquido de R$ 1,07 bilhão.

Assim como a Creditas, a Stone também considerou 2023 um ano de “muitas conquistas”. O lucro líquido de R$ 1,6 bilhão reverteu o prejuízo de mais de R$ 520 milhões registrado em 2022. Na época, as perdas foram causadas em grande parte pela venda da participação da Stone no Inter. Mesmo sem considerar essas perdas, o resultado de 2022 foi muito menor do que o do ano passado. Por esse critério (lucro liquido ajustado), o aumento em um ano foi de 279,4%. Em novembro, a Stone havia declarado aos investidores que a meta era atingir lucro líquido de R$ 1,9 bilhão em 2027.

PagBank, Pan e XP

O aumento de 20% n o lucro líquido do PagBank foi resultado direto da receita líquida, que subiu a R$ 15,9 bilhões, “um dos indicadores mais importantes da nossa saúde operacional”, diz a fintech do grupo UOL. O volume total de pagamentos em adquirência chegou a R$ 394 bilhões.

Na XP, a alta foi de 9%. Segundo a corretora digital, o período também foi marcado por um aumento de eficiência. As receitas de varejo – cartões, crédito, seguros e previdência -, cresceram 43%, na mesma base de comparação, para R$ 1,7 bilhão. Em 2023, as novas verticais como um todo contribuíram com 17% da receita bruta da XP. A diversificação de portfólio ajudou a empresa a compensar a queda da receita institucional (21%, para para R$ 1,5 bilhão), “em função de volumes menores na B3”, segunda a XP.

No Pan, o lucro de 2023 ficou praticamente estável, frustrando as previsões dos analistas. Isso, apesar de o banco ter aumentado sua carteira de crédito em 7%, para R$ 41,8 bilhões. O banco também aumentou a base de clientes em 18% em um ano, para 28 milhões. Segundo relatório do Bank of America divulgado em outubro, o Pan (que é do BTG) deve elevar seu retorno sobre patrimônio para 17,6% em 2026. E, também, registrar aumento de 14% na receita com tarifas e serviços

Atrasados

Embora não precise apresentar balanços trimestrais, o PicPay costumava fazê-lo quando estava planejando lançamento de ações na Bolsa. A obrigação é de publicar balanços semestrais – o prazo para apresentar os resultados do segundo do ano passado vence em 31/3. No primeiro semestre de 2023, apresentou ganho líquido de R$ 58 milhões.

O banco Original anunciou oficialmente em 15/6 a migração das suas 2,5 milhões de contas de pessoas físicas para o PicPay. O PicPay e o Original são controlados pela J&F Participações, holding que detém as empresas financeiras do grupo J&F. O Orignal também não divulgou balanço até agora.

“À medida que os negócios se desenvolveram, entendemos que era hora de ampliar a expertise de cada uma das companhias no seu segmento core e expandir ainda mais as operações”, afirmou em nota , na ocasião, José Antônio Batista, presidente do conglomerado financeiro do grupo J&F.

O caso do C6 é semelhante. O banco comemorou em novembro o primeiro lucro mensal da sua história, de R$ 15 milhões. Mas, em dezembro, o CEO Marcelo Kalim disse à Reuters que o banco provavelmente apresentará um prejuízo de R$ 1,2 bilhão em 2023. Esse valor é metade do prejuízo de R$ 2,4 bilhões registrado no ano passado. No primeiro semestre de 2023, o C6 teve prejuízo ajustado de R$ 285,3 milhões, 51% menor do que a perda do mesmo período de 2022, já mostrando sinais de “virada de chave”.

Lucros x clientes e reclamações

Mas, lucro não é tudo. Cinco bancos exclusivamente digitais – PagBank, Inter, C6, Neon e Original – entraram na lista dos 10 com mais reclamações no último trimestre de 2023, segundo o Banco Central. E três deles aparecem entre os cinco primeiros.

A classificação considera a quantidade de reclamações por total de clientes. Bradesco, Caixa e Itaú, embora tenham mais reclamações procedentes, têm muito mais clientes. O maior índice foi do BTG/Banco Pan.

E conforme pesquisa mensal do Bank of America, em fevereiro o Nubank ganhou 1 milhão de novos usuários, enquanto o Inter perdeu 808 mil clientes em um mês; o C6, que perdeu 426 mil usuários no período; e o Pan, que encerrou o mês com 368 mil clientes a menos que em janeiro. O número total de downloads de aplicativos dos neobanks também caiu, de 15,2 milhões em janeiro para 14 milhões em fevereiro.

*O Inter informa que, pelos seus cfritérios, não tem perdido clientes ativos: “O número de clientes ativos teve seu 8º trimestre de crescimento consecutivo e vale destacar que, assim como o mercado, o Inter considera clientes ativos aqueles que geraram receita para a companhia nos últimos 90 dias.”