Fintechs e neobanks avançam em crédito para PMEs e baixa renda

Avanços no uso preditivo de dados, na inteligência artificial (IA) e no Open Finance impulsionam os players no mercado de crédito

As fintechs de crédito provocaram uma revolução no setor financeiro baseadas, principalmente, em promover uma nova experiência ao consumidor. Batendo de frente com um sistema bancário tradicional, caro e burocrático, foram conquistando uma parte do bolo que antes pertencia às grandes instituições.

A trajetória para democratizar o crédito, na visão de agentes deste setor, está apenas começando. Avanços no uso preditivo de dados, na inteligência artificial (IA) e no Open Finance vão possibilitar a construção de novos modelos de negócios. Algumas iniciativas foram apresentadas em painéis durante o FID23 — evento realizado pela Luceat em parceria com o Finsiders — e reforçam o foco em nichos específicos do mercado, por exemplo, a baixa renda e as pequenas e medias empresas (PMEs).

PMEs

Na Finplace, um marketplace de crédito que conecta empresas e instituições financeiras, o desafio foi buscar uma forma eficiente de analisar o crédito das PMEs de forma eficiente e que não excluísse boas oportunidades de negócios por falta de compliances estruturados que permitissem avaliar dados das companhias, algo comum nas empresas de maior porte, mas raro neste nicho.

“Tivemos que desenvolver ferramentas e metodologia para padronizar esta leitura dos dados disponíveis e torná-los mais acessíveis. Nos grandes bancos, uma PME tem que presentear de alguma forma a instituição para manter o crédito, aqui isto não é necessário”, explica Felipe Avelar, CEO da Finplace. A empresa usa informações fiscais das empresas e dos sócios para analisar o rating, encontrar o melhor crédito e a instituição adequada.

“Nós orquestramos um ‘match’. Tivemos desafios de engajamento das duas partes, do cliente e dos fornecedores de crédito, mas fomos superando”, explica o empreendedor, acrescentando que em breve a tendência é a criação de ratings de crédito padronizados para as PMEs.

Ele cita o Open Finance, que levará a um track record histórico no crédito do país. “Em curto espaço de tempo, vamos falar sobre rating de PME como é mais ou menos o que existe para as grandes empresas. A ideia é extrair apenas os fundamentos do balanço e com arcabouço de dados do mundo fiscal e o histórico do Open Finance e dos sócios padronizar um rating de crédito para o segmento.”

Para Eduardo Vils, cofundador da Justa, fintech que oferece soluções financeiras para pequenos e médios varejistas, os principais gargalos dos clientes são crédito e educação financeira. A empresa atende comerciantes com faturamento entre R$ 15 mil a R$ 200 mil por mês. “Nossa plataforma tem que ser fácil de ser usada. O Pix é muito legal. Mas como ele vai fazer um pagamento? Do ar-condicionado, é fácil dizer o que ele precisa”, diz Eduardo.

Com a necessidade dos empreendedores desempenharem diferentes tarefas, o executivo afirma que é comum a dificuldade para lidar com alguns aspectos do negócio, o que a Justa quer auxiliar. “Perder o cliente porque ele conhece as minhas condições e entendeu que outro lugar é melhor é ruim. Mas o problema é quando ele quebra por uma condição errada”, diz.

Na Qista, plataforma de soluções financeiras para pessoas físicas e jurídicas, o CEO Leonardo Grapeia conta ter visto o aumento da demanda por crédito nos últimos anos. “Por sorte, nosso acesso é todo digital. Vimos que houve um avanço na educação de PMEs para usar novas tecnologias. Também houve acréscimo de pequenas empresas pedindo crédito, já que aqui o empreendedorismo é necessidade”, afirma Leonardo.

Segundo levantamento do Sebrae, com a base de dados do Caged, 85% das 241.785 vagas de empregos geradas em fevereiro ocorreram em micro e pequenas empresas. No entanto, sem faturamento ou condições estáveis, elas têm dificuldade para buscar recursos no mercado.

Com a ideia de atacar o problema de crédito e disponibilizar uma solução para impulsionar este nicho da economia, a Qista colocou para rodar um piloto de compartilhamento de dados com clientes que tiveram pedidos de tomada de recursos rejeitados em outras instituições financeiras. Dos 200 clientes selecionados, 83% aderiram ao modelo de dados abertos, com 50% tendo o aval positivo. “De fato, isso gera valor para aprovar a proposta. Acho que o Open Finance vai abrir as fronteiras”, afirma Leonardo.

Foco na baixa renda

Na Jeitto, aplicativo de crédito digital, os desafios para a concessão de empréstimos ao público de baixa renda incluem falta de documentação dos potenciais clientes, ausência de histórico e mesmo de demandas por tíquetes bem baixos, destaca Pablo Gomes, chief marketing officer (CMO) da fintech.

“No modelo consolidado de análise de crédito, olha-se dados no Banco Central e em birôs de crédito, mas para este público foi preciso dar um passo atrás. A gente usa dados alternativos e liberamos o crédito para ir conhecendo o cliente. Na medida em que usa e paga o tíquete vai subindo. Primeiro passo é confiança”, explica Pablo, acrescentando que mesmo no pior momento da pandemia da covid-19 a empresa cresceu atendendo clientes que precisavam de dinheiro e já estavam há dois ou três anos com a Jeitto.

No banco digital will bank, o cliente que abre conta tem automaticamente acesso ao cartão de crédito. “No Brasil, tem mais pessoas sem crédito do que com crédito. Na grande maioria, elas não são nem consideradas pelas instituições. Esse público tem vontade de fazer a roda girar”, diz Alexandre Munhoz, COO do banco digital. “Entendemos crédito como um direito humano, assim como as pessoas deveriam ter acesso à saúde e educação.”

Para avançar, segundo o executivo, o will bank trabalha com um time de ciência de dados e pesquisa que auxilia no direcionamento das necessidades dos consumidores. O resultado? Atualmente, a base soma mais de 4 milhões. Somente no ano passado, a fintech trouxe para dentro de casa 1 milhão de novos usuários e a tendência é adicionar mais 2 milhões até dezembro.

Tecnologia

Para Carlos Augusto de Oliveira, CEO da Certdox e diretor-executivo da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), é preciso levar em consideração os avanços em inteligência artificial (IA). “O uso de dados de forma mais assertiva vai ajudar na construção de negócios específicos para cada segmento de crédito de forma customizada com ganhos para todos”, afirma o executivo.

Na Provenir, plataforma norte-americana de decisão de risco de crédito baseada em IA, o foco é “empoderar instituições com objetivo de ter mais capacidade de inteligência e extrair valor dos dados que ajudem a democratizar o crédito”, conforme explica Ricardo Wodianer, consultor de soluções da companhia.

A empresa, já consolidada fora do país, trouxe seu modelo de análise de crédito baseado em IA para o Brasil em 2021. Aqui, atende fintechs como a própria Jeitto e Provu (antiga Lendico). “Temos uma visão diferente de como analisar os dados alternativos, sempre buscando empoderar as equipes e os gestores de crédito para que entendam melhor o cliente”, explica Ricardo.

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