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Sabe a tendência de hiperespecialização dos serviços financeiros? Pois bem, o novo alvo é o mercado de franquias — que faturou R$ 167 bilhões em 2020, segundo a ABF, associação do setor. A 300 Franchising, aceleradora e holding de franquias, se uniu à holding de investimentos Multiplicar, para construir o banco digital especializado em franquias 300 Bank, lançado oficialmente nesta terça-feira (1º).
Com investimento de R$ 10 milhões, o 300 Bank mira inicialmente um universo de 4,7 mil unidades franqueadas ligadas às mais de 60 marcas debaixo do guarda-chuva da 300 Franchising — hoje, essas unidades, somadas, têm faturamento anual no cartão de crédito de aproximadamente R$ 1 bilhão. Mas o potencial é maior: pelo menos 100 mil clientes, nos cálculos das duas empresas por trás do projeto.
O 300 Bank planeja planeja movimentar R$ 800 milhões até o fim de 2021. Para o ano que vem, a estimativa é que a operação dobre de tamanho, já que a 300 Franchising incorpora cerca de 450 novos franqueados por mês. É esse público que o 300 Bank pretende atingir, oferecendo desde serviços financeiros básicos até capital de giro, antecipação de recebíveis e consignado para os funcionários das franquias.
Toda a infraestrutura de serviços financeiros é da Multiplicar, que fornece uma solução de banking as a service (BaaS). Ao contrário de outros players de BaaS, que montam dentro de casa uma instituição de pagamento (IP) ou se conectam a alguma plataforma já existente que tenha uma IP regulada, a Multiplicar diz se plugar a diversas instituições financeiras e FIDCs.
“Viramos um intermediário. Fazemos a nossa própria liquidação, e somos plugados em instituições financeiras, FIDCs, consumindo serviços dos mais variados, e capilares. Somos especialistas em montar arranjos de pagamentos e ecossistemas de pagamentos. Atuamos como subadquirentes, num ambiente de conciliação entre IP, bancos liquidantes e clientes na ponta final”, explica Daniel Corrêa, CEO da Multiplicar Investimentos.
Segundo ele, essa característica permite à empresa modular sua oferta de BaaS. “Conseguimos emitir boleto por um banco liquidante, e fazer Pix por outro”, diz. Toda a parte regulatória, proteção contra lavagem de dinheiro (PLD) e compliance, é feita pela Multiplicar.
Por que o setor de franquias? Além do tamanho de mercado, Leonardo Castelo, CEO da 300 Franchising, destaca o volume de dados e informações que circulam em sua base.
“A verdade é que os grandes bancos, apesar de terem áreas dedicadas ao setor, não conhecem a dor dos franqueados”, diz.
E isso significa, inclusive, desenvolver produtos e serviços subsegmentados, ou seja, com foco em determinados ramos do franchising. “Temos um big data enorme. Nossa proposta de valor é ter boas taxas, ser atrativo, mas acima de tudo, ter velocidade e produtos customizados e nichados para franquias”, aponta.
O 300 Bank inaugura sua operação com aplicativo e internet banking, que reúnem transações básicas, como pagamento de boletos, transferências via TED e Pix, recarga de celular, além de cartão de crédito, capital de giro e antecipação de recebíveis, com base no faturamento das franquias. A ideia não é parar por aí. “Começamos a homologação agora. Vamos performar nos próximos três meses, e podemos desenvolver outros produtos de crédito, como funding específico para expansão e compra de maquinários”, afirma Corrêa, da Multiplicar.
Pelo acordo firmado entre as empresas, a 300 Franchising fica responsável por 100% da parte comercial, venda e implementação de maquininhas nos pontos de venda (POS), e cuida da inteligência de dados. Já a Multiplicar assume a gestão da plataforma, além de atendimento ao cliente e todo o back-office, bem como manutenção dos serviços.
“Banco digital nasceu para ser nichado. É muito mais compreensível e inteligente quando nicha, como é essa movimentação do que ir para o front e competir com bancos liquidantes que têm funding infinito”, avalia Corrêa. No caso do 300 Bank, o potencial de crescimento é claro.
Além dos 4,7 mil franqueados de largada, a base cresce de 300 a 400 unidades/mês. “Além de clientes, o franqueado tem funcionários para fazer conta salário, conseguimos montar consignado, capital fumaça”, exemplifica o empreendedor. A expectativa das empresas é ter o ‘payback’ em um período entre 12 e 14 meses. “A projeção é chegarmos a 18 meses de implantação, com praticamente duas a três vezes o valor inicial investido”, prevê Corrêa.
As duas empresas não são as únicas a apostarem no franchising para ofertar serviços e produtos financeiros, desde empréstimos no modelo P2P até home equity, assim como recuperação das vendas com cartão de crédito. Além dos grandes bancos de varejo — principalmente Santander e Bradesco, que têm áreas robustas para atender ao setor –, fintechs como Kavod e Pontte já fazem empréstimos para franquias.
Na Kavod, liderada por Renato Douek, mais de 60% das captações já realizadas foram para financiar franquias. A fintech tem parceria com algumas redes de franquias, mas também financia diretamente franqueados. Entre os nomes atendidos estão marcas como KFC, Sterna Café, China in Box, Maple Bear e outras.
A F360º, por sua vez, tem uma plataforma de gestão financeira com conciliação automática de vendas por cartão de crédito para o pequeno e médio varejista. Cerca de 6 mil franqueados utilizam a plataforma, criada em 2013 por Fernando e Henrique Carbonell (pai e filho) e Luiz Fernando Payolli.
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Danylo Martins é jornalista com dez anos de cobertura de finanças, empreendedorismo e inovação no setor financeiro. Com MBA em mercado de capitais, é vencedor de quatro prêmios de jornalismo econômico e colabora com o jornal Valor Econômico há oito anos. Teve passagens por Folha de S.Paulo e revista Você S/A.
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