A Hunter Pay, fintech da locadora de carros carioca Hunter, prepara-se para uma nova fase. A partir do ano que vem, começará a captar investimentos via Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). Com o FIDC, a empresa quer consolidar seu modelo de negócios que conecta motoristas de aplicativos a investidores interessados em rentabilidade por meio da locação de veículos.
“Nossas operações de investimento vão ser lastreadas em emissões de CCBs, que por sua vez serão vendidas a um FIDC”, explica Iago Iule, sócio-fundador e diretor de Marketing do grupo. CCBs são Cédulas de Crédito Bancário, título que pode ser emitido por pessoa física ou jurídica e representa uma promessa de pagamento em favor de instituições financeiras. Em entrevista exclusiva ao Finsiders Brasil, Iago explica que o contrato hoje ainda funciona como mútuo conversível. Mas com as emissões CCBs, a Hunter espera entrar no oceano mais tradicional dos investimentos. “Vamos competir com as grandes de peito aberto”, diz.
Microcrédito para motoristas
A Hunter Pay conta com a infraestrutura de Banking as a Service (BaaS) fornecida pela Celcoin. E também se apoia na parceria com a Dimensa, joint-venture entre a Totvs e a B3, para gerenciar de forma independente suas transações financeiras. A empresa não exige comprovação de renda ou nome limpo, facilitando o acesso ao crédito para motoristas de aplicativos. Concedemos crédito a quem normalmente não tem acesso, reforçando nosso compromisso social”, afirma Iago. Segundo ele, a Hunter está se tornando uma especialista em microcrédito para o nicho de motoristas. “A gente quer realmente se transformar numa instituição financeira com essa expertise“.
“Nosso motorista não tem crédito facilitado no mercado. Na concorrência, ele precisaria de nome limpo e uma boa margem de crédito para alugar um carro no mesmo padrão. Conosco, ele pode acessar o carro mesmo com restrições no nome”, explica Iago. O processo de adesão é automatizado, com uma análise social feita por meio de chatbot no WhatsApp, que verifica o perfil do motorista, histórico de corridas, tempo de trabalho no aplicativo e residência em apenas dois minutos. “Um motorista que está há menos de seis meses de aplicativo, com menos de mil viagens, está fora do nosso alvo”, exemplifica.
Oportunidade de renda
Esse modelo garante aos motoristas a possibilidade de adquirir o carro ao fim do contrato, algo que não é comum no mercado de locação tradicional. Ao final de um período de quatro a seis anos, o motorista pode comprar o veículo sem acréscimos financeiros. Essa possibilidade cria um incentivo para que os motoristas mantenham o contrato, mesmo em momentos de dificuldades financeiras.
“O carro representa para eles uma oportunidade de renda que muitas vezes é a única. Por isso, ele se torna parte essencial para a estabilidade financeira da família”, diz. A empresa também adota uma política de pagamento flexível, permitindo renegociações em casos de inadimplência, algo que diferencia a Hunter Pay das locadoras tradicionais.
A Hunter Pay também tem uma parceria com a Uber, que permite à fintech acessar diretamente os rendimentos dos motoristas na plataforma, utilizando esses valores para garantir o pagamento das parcelas de locação. “Tudo o que o motorista fatura no cartão de crédito, por exemplo, a Hunter tem acesso antes do motorista. Se semanalmente ele fez R$ 1 mil de cartão e isso foi para dentro da conta Uber dele, a Hunter tem acesso primeiro do que ele”, explica. Esse mecanismo ajuda a manter a inadimplência sob controle e fornece uma segurança adicional para os investidores, já que os ganhos dos motoristas são priorizados para cobrir os custos do aluguel.
Planos de expansão
A Hunter Pay é uma espécie de spin-off da Hunter, que começou em 2019 como uma locadora de veículos voltada para motoristas de aplicativo. Inspirada na informalidade do mercado em que pessoas físicas alugavam carros para conhecidos, a Somos Hunter formalizou esse modelo por meio de uma plataforma que conecta motoristas e investidores. Iago revela que inicialmente, as operações eram “simples e quase artesanais”, com contratos manuais e processos adaptados. Mas o crescimento constante da demanda levou a empresa a profissionalizar e expandir a operação, o que culminou na criação do braço financeiro Hunter Pay.
A fintech conta atualmente com mais de 100 mil motoristas cadastrados em sua base, atuando principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo Iago, desde o início das operações, a Hunter Pay já pagou aproximadamente R$ 38 milhões em dividendos para os investidores. A captação chegou a R$ 23 milhões em 2024, até outubro. Com uma equipe composta por cerca de 500 pessoas, entre funcionários, fornecedores e parceiros, a empresa projeta dobrar sua captação em 2025, passando para R$ 50 milhões nos primeiros meses do ano.
Para 2025, a Hunter Pay também planeja expandir ainda mais seu portfólio de serviços e fortalecer o vínculo com a base de motoristas, com a criação de um clube de benefícios, além da ampliação para outros estados brasileiros.