Economia em processo de digitalização, altos índices de acesso a smartphones e à internet, grande parcela de população jovem e uma enorme lacuna no financiamento a pequenas e médias empresas (PMEs) formam uma combinação favorável para a expansão das fintechs B2B na América Latina nos próximos anos.
A conclusão é do estudo “Latin America: Future of B2B Fintech”, que acaba de ser lançado pela Latitud. O recorte de fintechs B2B faz parte de um report maior produzido pela plataforma de tecnologia com foco em sete indústrias diferentes, o “The LatAm Tech Report”, divulgado nesta semana.
O estudo aponta um conjunto de tendências globais em cinco áreas: pagamentos (processamento de pagamentos e soluções de pagamento B2B); empréstimos (financiamento baseado em receita e B2B ‘buy now, pay later’); Open Banking (infraestrutura e software bancário baseado em APIs); ferramentas de software para PMEs (softwares de gestão, contabilidade, despesas e compras); e “payroll” e benefícios (adiantamento de salários e programas de recompensas para funcionários).
Conforme a análise, existem alguns segmentos de fintechs B2B que se destacam e estão impulsionando mudanças profundas na região, por exemplo, “enablers” e players “invisíveis” nos espaços de Open Banking, APIs e banking as a service (BaaS). “À medida que as colaborações e parcerias entre empresas incumbentes e fintechs se consolidam, essas empresas de infraestrutura se tornarão essenciais para tornar essas alianças o mais suaves e sem atrito possível”, aponta o estudo.
Um movimento que deve continuar crescendo é o chamado “embedded finance” (serviços financeiros embutidos), que vem ganhando força mundo afora, inclusive no Brasil. Na prática, empresas não financeiras estão apostando cada vez mais na oferta de soluções de pagamentos, empréstimos e processamento aos seus clientes, com o objetivo de reduzir o “churn” e aumentar o lifetime value (LTV) da sua base.
Não à toa, o capital de risco passou a se interessar por fintechs B2B. Dos US$ 12,9 bilhões captados por startups de serviços financeiros na América em 2021, as fintechs B2B responderam por US$ 5,7 bilhões, ou 44% do total.
Algumas “trends”
Uma das tendências destacadas pela Latitud é a modalidade de financiamento baseado em receita (“revenue-based financing”). “Este financiamento sem diluição é projetado para fornecer liquidez para capital de giro, marketing e outras despesas gerais que não exigem um grande volume de caixa inicial”, cita o estudo.
Com uma taxa de crescimento anual de 61,8%, o mercado global de “revenue-based financing” valia US$ 901 milhões em 2019 e deve chegar a US$ 42 bilhões até 2027. Não à toa, fintechs nesse segmento captaram US$ 2 bilhões somente em 2021, de acordo com dados do Dealroom, citados pela Latitud. No Brasil, destacam-se players como Divibank e a55.
O “buy now, pay later” (BNPL), com foco no B2B, é mais uma tendência na América Latina, segundo a Latitud, por se tratar de um mercado ainda relativamente inexplorado. Um dos fatores que pode ajudar a impulsionar esse tipo de solução é o crescimento expressivo do e-commerce na região.
“Com o aumento das transações de comércio eletrônico B2B, devemos esperar que as soluções BNPL neste segmento cresçam”, diz o estudo. “As PMEs em geral, mas especialmente na América Latina, sofrem com uma enorme lacuna de financiamento de cerca de US$ 1,2 trilhão.”
As PMEs continuarão no radar das fintechs, dado o baixo acesso a serviços financeiros, especialmente crédito, por esse perfil de clientela. As oportunidades incluem cartões corporativos, soluções de gerenciamento de despesas, softwares de gestão e FP&A. O estudo cita, inclusive, alguns players bem conhecidos, como Clara, Tribal. Brex, Ramp e BHub.
O aumento do acesso aos smartphones e à internet também foi percebido nas empresas, e isso criou uma oportunidade de atendê-las por meio de soluções financeiras digitais. “Isso começou com big techs fornecendo software de contabilidade, gestão e ‘procurement’ para grandes empresas, mas vimos um movimento de fintechs fornecendo esses softwares para PMEs, com micro, pequenas e médias empresas e seus proprietários cada vez mais digitalizados nos últimos anos”, explica a Latitud, ao Finsiders.
Open Banking e ‘embedded finance’
As fintechs de infraestrutura estão começando a se tornar uma tendência real globalmente e especialmente na América Latina, aponta a Latitud. Na prática, esse tipo de solução tem permitido o avanço de novos entrantes, que não atuavam no setor financeiro, aumentando a competição. Um movimento que tende a se acentuar com a implementação do Open Banking em alguns países da região, incluindo o Brasil, onde o escopo é ainda maior com o Open Finance.
O mercado de banking as a service (BaaS) gerou US$ 2,41 bilhões em 2020 e deve atingir US$ 11,34 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual (CAGR) de 17,1% entre 2021 e 2030. Já uma pesquisa da EY mostrou que 68% dos consumidores estão dispostos a considerar produtos e serviços financeiros oferecidos por empresas não financeiras.
O Open Banking, aliás, abre oportunidade para fintechs com soluções e softwares bancários baseados em APIs. “O Open Banking valia US$ 7,2 bilhões em 2018 e deve chegar a US$ 43 trilhões até 2026, com um CAGR de 24,4%”, diz o estudo.
Em resumo, diz a Latitud, à frente só há oportunidades para fintechs B2B na América Latina.
Leia também:
A nova (e multi-trilionária) fronteira das fintechs de pagamento B2B
Fintechs representam quase 80% dos aportes em startups latinas em outubro