Mais da metade das fintechs atendem empresas, aponta pesquisa ABFintechs/PwC

Mais da metade (51%) das fintechs brasileiras atendem empresas, com predomínio (41%) de PMEs, enquanto 43% das fintechs atendem pessoas físicas. É o que aponta a pesquisa Fintech Deep Dive 2020, que a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e a PwC Brasil divulgam nesta quarta-feira (23), e cujos dados estão sendo antecipados pela Finsiders.

O foco exclusivo no atendimento a empresas também aumentou de 29% para 40%, indicando uma maior confiança dos clientes corporativos nas fintechs. A evolução da pesquisa ao longo destes três anos também registra o amadurecimento do mercado: no primeiro ano, as empresas com faturamento inferior a R$ 350 mil anuais representavam 51% das participantes. Atualmente, somam 42%.

Conforme a pesquisa, cerca de dois terços das fintechs brasileiras financiam as operações com capital próprio e não receberam investimentos em 2019. Entre as que receberam aportes no ano passado, metade delas captou entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões. Na edição anterior do estudo, esse percentual foi ligeiramente maior: 53%. Quase um quarto (24%) das empresas recebeu um investimento internacional, percentual inferior aos 30% da pesquisa anterior.

Falta de exposição da marca e crise econômica/política são os fatores que mais desafiam as fintechs na busca por capital. Outro dado interessante é que diminuiu a parcela de empreendedores que pensam em vender sua fintech para um investidor estratégico.

IPO no Brasil é citado apenas por 14% dos founders, enquanto a oferta pública no exterior é mencionada por 11%. Ao mesmo tempo, aumentou a fatia de fundadores que pretendem manter a empresa sob controle próprio ou estão inseguros sobre o que fazer.

Sobre aquela velha história de banco como competidor ou parceiro de negócios, ao que tudo indica essa discussão ficou realmente para trás. Segundo a pesquisa, os bancos são encarados como parceiros por 75% das fintechs, enquanto 10% enxergam as grandes instituições como competidoras, e outros 15% citam os bancos como possível comprador estratético.

Como esperado, as fintechs pretendem surfar a onda do Pix e do open banking. Nada mais natural. De acordo com a pesquisa, 73% das fintechs desenvolvem soluções para o sistema de pagamentos instantâneos e/ou para o open banking, sendo que 76% das empresas esperam colher benefícios das duas iniciativas logo no primeiro ano — 13% ainda fornecem um serviço não disponível no sistema bancário.

Diversificação

Historicamente, o segmento de meios de pagamento domina a atuação das fintechs brasileiras. Mas parece que o jogo virou. Na nova edição da pesquisa da ABFintechs e da PwC, o segmento de créditos, financiamentos e negociação de dívidas representa 21% das fintechs no país (contra 19% na pesquisa anterior), enquanto as empresas em meios de pagamento somam 16% (ante 21% do levantamento anterior).

O setor está mais diversificado. Além de crédito e meios de pagamento, ganham força soluções de gestão financeira (9%), bancos digitais (9%) e empresas com tecnologias como open banking e BaaS (7%).

“Entre 2019 e 2020, pudemos perceber algumas mudanças em relação às fintechs e a forma como atuam, confirmando o fortalecimento do mercado. As empresas estão se diversificando mais, trabalhando com outros públicos, oferecendo outros serviços — algo que só se torna possível a partir do momento em que o empreendimento não é uma aposta de risco. A chegada de novas possibilidades digitais, como o PIX, abre ainda mais opções, e devemos observar esses resultados já ao longo do próximo ano”, analisa Luis Ruivo, sócio da PwC Brasil.

Gestão e internacionalização

Das empresas consultadas, 35% foram fundadas há cinco anos ou mais, com 39% em processo de expansão ou consolidação. Empresas que têm ao menos uma fundadora mulher tendem a ser mais duradouras: das fintechs com 5 anos ou mais, 42% contaram com ao menos uma mulher em sua fundação, contra 29% das fundadas apenas por homens.

Os planos de expansão para mercados internacionais estão a todo vapor. Quase um quarto (24%) das fintechs afirmam já atuar no exterior, sendo os principais destinos: México, Colômbia, Argentina, EUA, Chile e Peru.

Dentre as que não atuam, 30% possuem planos de internacionalização, com foco direcionado principalmente para os EUA (40%), seguido por México (33%), Argentina (29%), Portugal (21%), Chile (19%), Colômbia (17%), Uruguai (12%), Paraguai (10%), Canadá (7%) e Peru (5%).

“O estudo revela um cenário positivo para as fintechs brasileiras. Com toda a inovação incentivada pelas novidades no sistema bancário e a necessidade de reinvenção em meio à uma pandemia global, as fintechs passaram por um longo período de amadurecimento e pavimentaram com disrupção os seus caminhos em meio à crise. Como resultado, temos um setor fortalecido, com atuação mais diversificada, oferecendo novos serviços e alcançando um novo tipo de público”, avalia Diego Perez, recém-eleito presidente da ABFintechs, conforme a Finsiders antecipou.

Apostas tecnológicas para 2021

As três principais tecnologias que as fintechs dominam continuam sendo cloud (55%), data analytics (51%) e mobile (51%). Entre as tecnologias que pretendem dominar estão inteligência artificial (45%), machine learning (36%) e data analytics (30%).

A terceira edição da pesquisa da ABFintechs e da PwC Brasil foi realizada a partir de respostas de representantes de 148 fintechs, no período entre 21 de setembro e 30 de outubro de 2020. A amostra inclui empresas de diferentes portes e setores.

Leia a pesquisa na íntegra.