O mercado nacional ainda é pequeno, perto do americano: as receitas aqui rondam R$ 1 bilhão ao ano, ante R$ 50 bilhões lá. Mas, o potencial de crescimento é grande: segundo pesquisa recente encomendada pela PagBrasil, 88% dos brasileiros pretendem aderir a um novo contrato de serviço ou produto por assinatura. “Vendas por assinaturas aumentam a taxa de retenção e reduzem gastos com marketing para aquisição de clientes. As receitas podem triplicar em pouco tempo. O maior entrave aqui é falta de tecnologia eficiente, principalmente no que diz respeito a oferta de funcionalidades e à experiência do cliente”, diz o CEO e cofundador da PagBrasil, Ralf Germer.
A PagBrasil é especializada em soluções para pagamentos digitais e acaba de concluir a oferta da sua ferramenta PagStream para gestão de assinaturas. Lançada em 2020 em módulos, agora já está 100% disponível – embora “em constante evolução”. “Com o PagStream, qualquer varejista pode explorar um negócio adicional às vendas físicas e eventuais, investindo muito pouco”, diz.
Segundo Germer, grandes empresas que nasceram já focadas na chamada “economia da recorrência”, caso dos streamings de conteúdo em áudio e vídeo como Netflix e Spotify, desenvolveram suas próprias tecnologias e já começam a aceitar formas de pagamentos alem do cartão de crédito.
Ainda de acordo com o CEO, a ferramenta permite aos varejistas oferecerem aos clientes várias opções e formas de pagamento, além da edição de produtos, da periodicidade e suspensão das suas assinaturas: “O PagStream se integra a diversas plataformas de e-commerce das quais somos parceiros (Vtex, SalesForce e outras) no Brasil e em 45 países”, afirma, acrescentando que com ela é possível gerar planos flexíveis e personalizados, assim como automatizar as recorrências para os consumidores.
Germer acredita que o futuro está nos pagamentos digitais: “Máquinas já começam a tomar decisões de compra de forma autônoma – um carro elétrico pode decidir fazer ou não uma recarga enquanto está estacionado, com base em dados como distância de casa, nível de bateria e preço cobrado; quando isso se espalhar, a quantidade de pagamentos digitais tem potencial para se multiplicar por mil”, prevê.
Concorrência do PIX
O advento do PIX, grande sucesso de aceitação no Brasil, também deve contribuir para acelerar essa tendência. As credenciadoras e bandeiras de cartões, por exemplo, estão correndo atrás de soluções para não perder participação no mercado.
A Stone, por exemplo, acaba de anunciar o início de pagamentos para pequenas e médias comerciantes via WhatsApp Pay. “Muitos negócios precisaram se reinventar e oferecer o máximo de soluções de pagamento possíveis é uma forma de impulsionar as vendas. E o pagamento pelo WhatsApp se mostra como uma alternativa segura e eficiente, afinal, já está inserido no dia a dia da maioria dos brasileiros”, disse, em nota, o sócio diretor StoneCo João Misko,
A Mastercard – que tem no Brasil seu segundo maior mercado no mundo – tentou mas não conseguiu ser parceira do Banco Central no desenvolvimento do PIX. E apesar de reconhecer o sucesso do pagamento instantâneo, vinha evitando reconhecer a concorrência direta – afinal, PIX é principalmente para pagamentos de baixo valor. Porém, com as novidades como PIX parcelado, já vem se preparando e investindo mais de US$ 5 bilhões em alternativas de pagamento além dos cartões para criar “novas trilhas” de negócios, como os pagamentos entre contas e o WhatsApp Pay.
Exceção à regra
Germer é alemão, mas morou no Brasil nos anos 1980; depois voltou para a Alemanha, mudou para a Espanha e em 2010 criou a PagBrasil com seu atual sócio, Alex Hoffmann, que é brasileiro. A sede da empresa fica em Porto Alegre mas desde o início havia uma filial em Barcelona. O negócio nasceu para permitir que vendedores internacionais (como ele próprio, que tinha uma empresa de softwares que exportava para o Brasil) recebessem pagamentos de compradores brasileiros. “Eu vivia entre Espanha e Brasil. Com o aumento do interesse dos players brasileiros pela nossa tecnologia, decidimos mudar para São Paulo”, explica.
Adepto do trabalho presencial, ele revela que a empresa acaba de investir em um novo escritório para abrigar seus mais de 70 colaboradores na capital gaúcha.
Outro diferencial da PagBrasil em relação a maioria das startups é ser 100% dos dois sócios. “Nossas decisões podem ser tomadas rapidamente, como uma empresa de tecnologia precisa. E além disso não dependemos de investidores, a empresa é rentável e investe seus lucros no próprio crescimento. Por isso, também, não precisamos recorrer a demissões como várias outras”, explica.
A pesquisa
O levantamento encomendado pela PagBrasil foi realizado neste ano no país pela OnTheGo junto a mais de 400 pessoas com mais de 18 anos, de todas as regiões do Brasil, e renda a partir de três salários-mínimos. A pesquisa mostrou que exclusividade, comodidade e novas experiências são os principais motivadores da contratação dos serviços por assinatura. As principais categorias são entretenimento, saúde e bem-estar e serviços digitais.
Seis em cada dez pessoas investem cerca de R$ 225 por mês no segmento, orçamento que se divide, em média, entre quatro clubes de assinatura por indivíduo. A maior parte dos consumidores que estão aderindo à economia da recorrência se concentra na região Sudeste e têm cerca de 34 anos. Já a renda familiar média dos assinantes é de R$ 9.350. Com relação ao gênero, as mulheres são maioria (53%).
“Empresas de diferentes segmentos passaram a incluir a recorrência nas suas estratégias de negócios como uma forma de potencializar as vendas, fidelizar clientes e garantir uma receita previsível em seus negócios. É uma tendência que veio para ficar e que está transformando a forma de consumir dos brasileiros”, diz o CEO.
Em todos os grupos, o cartão de crédito ainda é o meio de pagamento mais disponibilizado pelos clubes de assinatura e tem a preferência de 70% dos consumidores – mas 55% dos brasileiros já consideram o PIX como uma forma interessante de pagar os seus serviços de assinatura.