No competitivo e cada vez mais ‘comoditizado’ mercado de infraestrutura em serviços financeiros, a startup Lerian aposta em um ledger para core bancário no modelo open source (código aberto). Espécie de “coração” das instituições financeiras, o ledger é um banco de dados onde as transações são gravadas, reconcilizadas e auditadas. Ele compõe o core bancário, junto com a chamada mensageria, que conecta os participantes ao regulador.
O Midaz, nome do ledger, é a primeira solução da Lerian, consultoria de produtos de tecnologia fundada no ano passado pelos ex-Dock, Fred Amaral e Jefferson Rodrigues. O sistema está em fase final de desenvolvimento, e a previsão da empresa é lançá-lo entre julho e agosto, conta Fred, cofundador e CEO da Lerian, com exclusividade ao Finsiders Brasil.
“À medida que as empresas crescem, as plataformas de banking as a service (BaaS) passam a não atendê-las como gostariam. Quando vão buscar um core bancário de mercado, por exemplo, não encontram flexibilidade no roadmap de produtos, além de esses sistemas terem uma estrutura de custo que não é alinhada com a geração de receita do cliente”, explica Fred. “Na minha visão, o futuro do core bancário é open source.”
Na indústria de tecnologia, modelos open source são comuns, basta lembrar de casos como o sistema operacional Linux e o navegador Mozilla Firefox. “Não estamos reinventando a roda. A evolução da tecnologia caminha para open source. Estamos levando isso para a parte ‘hard core’ da infraestrutura em serviços financeiros”, diz o CEO. “Damos flexibilidade para que as empresas construam em cima, e cobramos por serviços de suporte, customização e funcionalidades específicas.”
Efeito de rede
Neste momento, a Lerian está desenvolvendo um pedaço crucial da sua tecnologia que é um marketplace de plugins para conectar diversos provedores de produtos e serviços financeiros, num efeito de rede. Inicialmente, o foco está em recursos como Pix, pagamento de contas, emissão de boletos, TED e liquidação de recebíveis. “Desses cinco, o Pix é, sem dúvida, o mais importante”, crava Fred.
Na mira da startup estão, principalmente, fintechs que já passaram do estágio inicial e precisam de mais velocidade para escalar, assim como instituições financeiras e de pagamento que já possuem plataforma de core bancário, mas buscam mais flexibilidade. Fred argumenta que o objetivo não é competir com os players de BaaS — há, inclusive, conversas para se integrar com alguns. “Nossa intenção é permitir conectividade com qualquer um do mercado.”
Sem abrir mais detalhes, o CEO diz que há 11 potenciais clientes para a primeira versão do Midaz. Muitos deles, inclusive, já vêm recebendo consultoria da Lerian nos últimos meses. “Ao longo de oito meses, atendemos seis clientes diferentes. Percebemos que para todos esses clientes um problema era comum: ter autonomia com relação a esse banco de dados transacional”, conta.
Desafios e próximos passos
Depois de ir a mercado com o ledger, o passo seguinte da Lerian é desbravar a parte de mensageria. “Queremos atacar esse lado de mensageria em geografias específicas na América Latina, quebrando a dinâmica de se cobrar pela movimentação de dinheiro, mas por serviço”, diz Fred.
Como toda tecnologia, os softwares open source não estão imunes a problemas de fraudes. Para o empreendedor, o modelo permite encontrar mais facilmente brechas nos sistemas. “Quanto mais olhos nos códigos, melhor”, argumenta Fred. “Diversas pesquisas mostram que os códigos abertos têm os problemas de vulnerabilidade resolvidos mais rapidamente.”
Outro desafio no caminho da Lerian é convencer investidores sobre o negócio. “Tecnologia de código aberto é uma tese profunda, não tão fácil de ser digerida”, diz Fred. Por enquanto, a startup dá seus primeiros passos com recursos dos sócios e o dinheiro que vem dos projetos de consultoria. “Vamos assim até o momento em que o mercado de investidores entender o que estamos fazendo.”