Pix | Imagem: Adobe
Pix | Imagem: Adobe

Os pagamentos recorrentes no Brasil entram numa nova era, mais democrática, a partir do Pix Automático. É a expectativa do Banco Central (BC) com a funcionalidade lançada em junho deste ano. De acordo com relatório da consultoria GMattos sobre os cinco anos do Pix, a modalidade tem potencial para “agregar R$ 4 trilhões anuais na substituição do débito em conta”. O estudo destaca, no entanto, que a migração do débito automático para o Pix Automático não será tão imediata, acontecerá gradativamente. 

Percebido pelo mercado como a evolução dos pagamentos recorrentes, o Pix Automático abre uma nova onda de inclusão no segmento de recorrência, serviços digitais e relações de pagamentos com estabelecimentos que têm planos de assinatura. A GMattos destaca os ganhos efetivos na adesão ao Pix Automático, sobretudo na redução de custos para empresas e bancos e pela praticidade sob o ponto de vista do consumidor.

Por outro lado, o relatório da consultoria mostra que “o tracionamento do Pix Automático é ainda pouco percebido no mercado. Processadores indicam informalmente que a operação não está 100% refinada, com várias falhas percebidas no fluxo em alguns bancos”. Para Marcelo Martins, CEO e fundador do Iniciador, fintech especializada em infraestrutura de Open Finance e soluções de Pix, o Pix Automático tem potencial para substituir o débito automático. Mas ainda é muito recente, e o mercado ainda está se adaptando à funcionalidade.

“Existe essa expectativa, mas não será no curto prazo, acontecerá no médio prazo. Em meios de pagamento, não há uma revolução, há evolução. As mudanças não acontecem do dia para noite. Com certeza, ainda há usuários que gostam de usar cheque, por exemplo. O Pix Automático terá uma parcela maior do mercado de recorrência, mas está muito no começo”, diz.

Na avaliação de Marcelo, a nova funcionalidade é ainda melhor para casos de recorrência variável. Por exemplo, contas de concessionárias de serviços públicos, como fornecimento de energia elétrica e abastecimento de água. “Sei que companhias de energia e de água estão evoluindo para implementação do Pix Automático para cobrar seus clientes dessa forma. É eficiente para essas empresas, porque pagam menos taxas, e para o usuário, que tem mais controle”, afirma. 

Marcelo Martins/Iniciador | Imagem: divulgação
Marcelo Martins/Iniciador | Imagem: divulgação

Diferentemente do débito automático tradicional, o Pix Automático possibilita que o usuário tenha mais controle do que será pago, característica que está em linha com os princípios do Open Finance e da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), observa Marcelo. “O usuário está no controle de tudo e tem a transparência sobre todos os fluxos”, ressalta ele.

Pagamentos por assinatura

Fábio Montanari, CEO da Montanari Tecnologia, reforça o papel inclusivo do Pix Automático. Na visão dele, a recorrência via Pix abre o jogo para os pequenos e médios negócios que nunca conseguiram integrar débito automático tradicional. “Essa funcionalidade deve capturar uma fatia relevante de pagamentos de assinatura (streaming, SaaS, telecomunicações) por ser mais simples e inclusiva e com liquidação instantânea, tem um potencial de redução de inadimplência”, destaca.

Daniel Pisano, responsável por investimentos na empresa de tecnologia 87Labs e líder de Crescimento da plataforma PayLoop, ressalta as oportunidades trazidas pelo Pix Automático para empresas que operam por modelos de assinatura. Entre os pontos positivos, estão a previsibilidade de receita, possibilidade de reduzir fricção, eliminação de processos manuais de cobrança, substituídos por fluxos automatizados e integrados. 

Sob o ponto de vista de quem faz a cobrança, a adoção do Pix Automático traz uma camada de inteligência para o negócio. “O acesso em tempo real a informações sobre falhas de liquidação cria uma nova camada de inteligência financeira: em vez de perder um cliente por falta de saldo, torna-se possível identificar padrões de comportamento e agir de forma proativa, ajustando políticas de crédito, retenção ou renegociação”, afirma Daniel.

No entanto, o uso da funcionalidade exige atenção a práticas de segurança. Um dos pontos sensíveis é a ausência de intermediários. Para Daniel, isso exige novas práticas de segurança, autenticação e governança de dados. “É preciso ainda reforçar cuidados regulatórios para evitar abusos e garantir a proteção do consumidor.”

>> Acompanhe nos próximos dias e semanas uma série de reportagens especiais sobre a evolução e e os novos passos do Pix.

*Especial para o Finsiders Brasil