A VERT Capital, especializada em soluções financeiras para o mercado de capitais, trabalha neste momento na estruturação de três operações para financiar carteiras de crédito consignado privado. Juntas, elas chegam a cerca de R$ 1 bilhão, entre debêntures de securitização e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). “Não posso abrir os nomes porque [as operações] estão sendo estruturadas, mas são duas fintechs e um banco grande”, diz Gabriel Lopes, sócio da VERT, em conversa com o Finsiders Brasil.
De acordo com o executivo, é grande o apetite dos investidores por empréstimo consignado, o que inclui não apenas o privado, mas principalmente o consignado público para aposentados e pensionistas do INSS e a antecipação de saque-aniversário do FGTS. “Mais da metade do volume que fizemos neste ano vem de crédito consignado nessas diferentes modalidades”, afirma ele.
Com expectativa de atingir R$ 10 bilhões em recursos administrados até o fim do ano, a VERT liquidou 60 operações até o início de agosto e projeta fechar 2025 com 120 a 130, diz Gabriel. Segundo ele, as fintechs representam aproximadamente um terço do total de operações e pelo menos 30% do volume financeiro total. No primeiro semestre deste ano, a VERT atendeu nomes como Agibank, Creditas, iFood e Zippi, entre outros.
Fundada em 2016 por Fernanda Mello, Victoria de Sá e Martha de Sá, a VERT começou como securitizadora com foco no agronegócio. Foi pioneira no mercado brasileiro de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). Nos anos seguintes, a casa ampliou sua atuação para setores como mercado imobiliário e tecnologia – nesse último, atendendo principalmente fintechs. De lá pra cá, já estruturou operações para empresas como OpenCo, Gyra+, Koin, Money Money Invest, Pravaler, Parcelex e outras.
FIDCs e debêntures securitizadas
No desenho das captações, fintechs de crédito optam por dois formatos, principalmente: debêntures securitizadas ou FIDCs. Segundo Gabriel, as debêntures costumam ser a “porta de entrada” para as fintechs acessarem recursos (funding) no mercado de capitais. Isso porque têm um custo de manutenção menor comparado aos FIDCs. “Geralmente, as fintechs começam com operações menores – R$ 20 milhões, R$ 30 milhões, via debêntures de securitização, e depois partem para FIDCs de R$ 100 milhões, R$ 150 milhões.”
No caso dos FIDCs, o executivo reconhece que a cobrança de IOF está impactando a procura por esse tipo de fundo. Com o Decreto nº 12.499/2025, o Governo Federal introduziu IOF de 0,38% sobre a aquisição primária de cotas de FIDCs subscritas até 13/7/25. No dia 16/7, em decisão monocrática, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes manteve a validade do decreto do governo Lula.
“Existe uma defesa dos agentes do mercado de capitais para que não tenha incidência de IOF sobre FIDCs. Temos esperança de que esse dispositivo seja revisto”, diz Gabriel. Por enquanto, segundo ele, o que se vê é o avanço de estruturas alternativas, como as próprias debêntures de securitização.
Competição na infra
Com a evolução tecnológica e as mudanças regulatórias no setor financeiro, há um movimento crescente de embedded finance (finanças embarcadas). Por meio dele, empresas de diferentes setores plugam produtos e serviços financeiros em suas plataformas digitais para atender clientes, funcionários, parceiros e fornecedores. Ao mesmo tempo em que traz mais players para o ecossistema financeiro, essa tendência acirra a competição nos “bastidores”, ou seja, entre quem fornece infraestrutura tecnológica e regulatória, inclusive para operações de crédito.
A própria VERT, que nasceu como securitizadora e passou a operar como gestora de fundos e Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), estuda a entrada no mercado de bancarização de títulos de crédito, revela Gabriel. “Temos discutido a bancarização dentrro da VERT, é um projeto que temos aqui”, diz o executivo, sem abrir mais detalhes. “O que notamos é mais e mais players se verticalizando. É um mercado bastante aquecido inclusive em termos de M&A [fusões e aquisições], mas tem espaço para todo mundo.”
De fato, a concorrência está forte. Alguns exemplos recentes ilustram isso. Em maio deste ano, a Vórtx, de infraestrutura para o mercado financeiro e de capitais, fechou a compra da Grafeno, de soluções financeiras digitais para credores e empresas. Foi mais um movimento para avançar na infra de crédito, após ter recebido a licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD) em dezembro de 2023.
Como o Finsiders Brasil revelou em fevereiro, a BYX Capital, especializada em infraestrutura para crédito consignado, comprou a Nvio SCD, que pertencia à Bitso. A operação ainda precisa de aprovação do Banco Central (BC). Já em abril, como mostrou o site NeoFeed, a Dock comprou a DM SCD.