NEGÓCIOS

ZiliCred negocia captação para escalar consignado imobiliário 'pay per use'

Fintech que opera como SCD há um ano adaptou a linha de home equity comum nos EUA e Canadá para a realidade brasileira

Fundadores da ZiliCred, da esq. para a dir.: Antonio Lima, ⁠Daniel Berenguer, ⁠Leandro Britto e ⁠Claudio Omagari - Imagem: divulgação
Fundadores da ZiliCred, da esq. para a dir.: Antonio Lima, ⁠Daniel Berenguer, ⁠Leandro Britto e ⁠Claudio Omagari - Imagem: divulgação

Cerca de um ano depois de receber licença do Banco Central (BC) para atuar como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), a ZiliCred se prepara para escalar as operações. A fintech de consignado imobiliário (explico melhor isso mais à frente) está negociando a captação de um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) e uma rodada de equity

Financiada até o momento com capital dos sócios, a empresa espera levantar em breve um FIDC de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões para reforçar o funding das operações de crédito. Ao mesmo tempo, há conversas em andamento com investidores para aportar recursos no negócio em troca de uma participação acionária na companhia. 

“Devemos finalizar as captações nos próximos 60 dias. Os prazos das duas são bem parecidos”, revela Claudio Omagari, CEO e cofundador da ZiliCred, ao Finsiders Brasil. “Já montamos as estruturas lá fora para a captação de equity”, diz ele, agora em sua primeira jornada como empreendedor. Com 35 anos de mercado financeiro, Claudio fez carreira no Citibank e foi diretor do BR Partners. 

Durante a pandemia, Claudio foi estudar diferentes modelos no mercado de crédito e percebeu o sucesso do chamado Heloc (sigla em inglês para linha de crédito de home equity), principalmente nos Estados Unidos e no Canadá.

No mercado norte-americano, por exemplo, essa modalidade existe pelo menos desde a década de 1950. Já no país vizinho da terra do Tio Sam, esse tipo de crédito surgiu no início dos anos 2000 e chegou a representar quase metade das dívidas dos canadenses, segundo Claudio.

Tropicalização

Foi, então, que o executivo viu a oportunidade de trazer esse produto ao Brasil, mas com adaptações ao sabor dos consumidores locais. A ZiliCred bebeu, sim, da fonte do Heloc, mas combinou o conceito com características de produtos como consignado, cartão de crédito e cheque especial

Ao lado de Claudio, como fundadores da fintech estão os também veteranos do setor financeiro Antonio Lima (ex-Citi), Daniel Berenguer e Leandro Britto (ambos ex-ICAP). 

“Fizemos uma experiência que o cliente não tem em lugar algum, reunindo coisas que o brasileiro está acostumado a usar. Usamos o conceito de aniversário que existe na fatura de cartão de crédito, ou seja, quando paga a parcela, o limite volta. [A linha] é fácil de contratar e está sempre disponível, como acontece no cheque especial. E tem o comportamento de um consignado, acompanhando o cliente pela vida toda”, explica o CEO.

Conforme o modelo construído pela ZiliCred, batizado de “consignado imobiliário”, é possível contratar uma linha de crédito com garantia de imóvel, utilizando os recursos segundo a necessidade. Ou seja, não é preciso tomar todo o limite, como ocorre no home equity tradicional. E os clientes pagam os juros apenas sobre o valor utilizado. “É o famoso pay per use”, diz Claudio.

A linha de crédito tem validade inicial de cinco anos, com possibilidade de renovação anual após uma nova reavaliação do cliente. A fintech libera empréstimos entre 20% e 50% do valor do imóvel. Segundo o CEO, os limites variam conforme uma série de aspectos, entre eles, tipo do imóvel (casa ou apartamento), localização, além da análise do perfil do cliente. O prazo máximo é de 240 meses e as taxas de juros iniciam em 0,99% ao mês + CDI. 

Potencial

Num mercado como o Brasil, cujo saldo de crédito com garantia imobiliária é de pouco mais de R$ 21 bilhões de acordo com dados da Abecip, a oportunidade é grande, afirma Claudio. Estima-se um potencial inexplorado entre R$ 400 bilhões e R$ 500 bilhões. 

“No Canadá, por exemplo, o Heloc trouxe um aumento anual de 0,5% ao PIB. Pelas nossas contas, só o desenvolvimento desse produto no Brasil pode fazer as pessoas economizarem R$ 3 bilhões em juros por ano”, aponta o CEO.