A biometria facial seguirá evoluindo em meio ao avanço da Inteligência Artificial (IA) e poderá contar com um “empurrão” regulatório futuramente. A previsão é de Eládio Isoppo, CEO da Payface, startup catarinense especializada em identificação e autenticação por reconhecimento de rosto. “Consigo imaginar um futuro em que todas as transações, por força de regulação, precisem de biometria facial. Aí o mercado vai crescer 20 vezes”, diz.
De acordo com Eládio, as fraudes não se concentram apenas na abertura de contas (onboarding), mas ocorrem no uso contínuo delas. “É aí que a autenticação segura se torna fundamental”, afirma. Para isso, Eládio acredita na complementaridade com outras biometrias, como leitura da palma da mão e da íris. “Mas a biometria facial está num estágio de maturidade que vai crescer ainda mais.”
Além dos aplicativos financeiros, as tecnologias de impressão digital e reconhecimento facial estão presentes em edifícios residenciais e corporativos, aeroportos, entre outros estabelecimentos. A Payface acredita na expansão da biometria facial no varejo físico, por meio dos cartões de loja (private label). Na esfera pública, as movimentações também acontecem. No último dia 30/7, por exemplo, o Governo Federal anunciou que a autenticação biométrica será obrigatória para o acesso a benefícios sociais.
Globalmente, a consultoria Juniper Research projeta 46 bilhões de transações em pontos de venda (POS, na sigla em inglês) com uso de biometria até 2028, movimentando US$ 1,2 trilhão. As maiores bandeiras de cartões também veem um futuro sem senhas.
‘Human techs’ e Pix
Com o avanço célere da IA – cujos efeitos colaterais incluem a criação dos famosos deep fakes -, Eládio acredita que as soluções de biometria serão as principais formas de garantir a identidade, mas não só isso. “Serão fundamentais para identificar se aquela interação é humana ou não. Enxergo as IDTechs caminhando para algo como ‘human techs‘”, aponta o fundador.
Nos pagamentos com Pix, a implementação da Jornada Sem Redirecionamento (JSR) via Open Finance pode levar a um salto das transações usando reconhecimento facial ou digital, enxerga Eládio. A funcionalidade, que habilita o Pix por Aproximação e por Biometria, estreou em fevereiro deste ano e, a partir de 2 de janeiro de 2026, será obrigatória a todas as instituições detentoras de conta no arranjo Pix.
A própria Payface está de olho no avanço da JSR. Isso significa que a empresa não abandonou o plano de lançar o pagamento com rosto via Pix. “Não largamos, queremos retomar [esse projeto], mas estamos esperando uma condição mais propícia de mercado. Agora já estamos crescendo muito no arranjo fechado”, diz o CEO.
Estratégia
Eládio se refere à estratégia de private label, mercado no qual a Payface ingressou na segunda metade de 2023, com a compra da SmileGo. “Um único varejista com cartão próprio traz mais transações do que todo o arranjo aberto que tínhamos antes”, afirma ele. Atualmente, a Payface tem sua tecnologia em nove redes varejistas de médio e grande porte. A meta é chegar a 15 marcas até o fim de 2025, diz o CEO.
No ano passado, Payface decidiu diversificar o perfil de clientela e as receitas, com o lançamento de uma tecnologia de reconhecimento facial, fruto de um investimento de mais de R$ 20 milhões. A solução permite a bancos, seguradoras, certificadoras digitais, empresas de apostas online gerenciarem os dados biométricos de seus usuários. Hoje, segundo Eládio, mais de 40 empresas já usam o sistema, com milhões de transações mensais.