O adiamento do lançamento do foguete Artemis I hoje (29/8), frustou as expectativas da comunidade científica, da mídia mundial e dos futurologistas. Mas, enquanto as atenções estão voltadas para uma missão projetada para fazer da Lua um lugar habitável, há quem sonhe ainda mais alto.
“O céu não é o limite”, diz o engenheiro mexicano especializado em robótica Eduardo Guizar, que está convencido de que Marte, o misterioso planeta vermelho, é a próxima morada da humanidade. Guizar foi quem projetou os motores das seis rodas do robô Curiosity, enviado pela agência espacial norte-americana à Marte em 2012.
“Já estamos conseguindo transformar dióxido de carbono em oxigênio; o próximo passo é produzir em larga escala”, avisou Guizar, durante sua palestra “Marte, a nossa próxima morada” no Digitalks, evento realizado em São Paulo no dia 24 de agosto. Ele, que foi colaborador da Nasa por oito anos, até 2015, e fundou em 2021 o Cluster Aeroespacial de Sinaloa, é um apaixonado por robôs desde quando assistiu ao primeiro filme da saga Start Wars, em 1977.
Do sonho à realidade
Durante sua palestra, o engenheiro revelou ainda que diversos drones estão realizando voos em busca de restos de outros artefatos terráqueos enviados ao planeta Marte: “Estamos estudando como reciclá-los, pois precisamos manter nossa próxima morada limpa. Há muitos minerais puros que não podem ser contaminados”, disse, de forma didática e coloquial, para a plateia que ouvia atenta e impressionada. Afinal, as revelações podem não ser inéditas para quem vive no mundo da Lua – desculpe o trocadilho! – mas ali os ouvintes eram, no máximo, entusiastas de tecnologia e futuro.
O palestrante deu vários outros exemplos para tornar sua futurologia mais concreta. Um deles foi a cooperação internacional entre governos, universidades e iniciativa privada para produção de alimentos típicos liofilizados – o objetivo é conseguir reproduzir, em Marte, tudo de bom que temos aqui, incluindo a diversidade de recursos, usos e costumes.
E quem ouviu Guizar levou da palestra mais do que uma interessante visão da tecnologia de última geração e do que nos reserva o futuro: saiu com a sensação de que sonhos podem, sim, virar realidade. “Nunca desistam deles. Por muito tempo sonhei um dia projetar robôs que desbravassem planetas no espaço, como os do filme de George Lucas – R2D2 e C3PO. Dez anos atrás, consegui ajudar a levar à Marte um deles”.
Quatro curiosidades
1- Água
Um dos principais legados que o Curiosity vai deixar para a posteridade é a descoberta de que a Cratera Gale, seu local de pouso de 154 km de largura, já abrigou um sistema de lagos e riachos num passado muito distante.
2- Metano
Partículas de metano apareceram pelo menos seis vezes nos sistemas de detecção do robô desde que ele pousou em Marte. Os cientistas se mostraram bastante animados com a descoberta, já que quase todo o metano presente na atmosfera da Terra tem origens biológicas. Segundo os pesquisadores, essa assinatura de metano pode ser uma chave para o encontro de sinais de vida em Marte.
3- Transição climática
Em algum momento de sua história, Marte deixou de ser um ambiente úmido e propenso à vida, passando a se tornar um lugar seco e hostil. E o Curiosity pode ter encontrado indícios do que pode ter motivado essa transição climática.
4- Energia eólica
No fim do ano passado, o Curiosity capturou lindas imagens da atmosfera marciana: nuvens à deriva que passavam sobre seu local de exploração no Monte Sharp (Aeolis Mons). O registro tem como objetivo medir a velocidade dessas nuvens.
Por que parou?
Artemis I é o primeiro passo na próxima era da exploração humana. Juntamente com parceiros comerciais e internacionais, a Nasa estabelecerá uma presença sustentável na Lua para se preparar para missões a Marte.
O maior e mais poderoso foguete da história da Nasa não decolou de Cabo Canaveral, na Flórida, por conta de “problemas técnicos”. O primeiro voo de teste não será tripulado, mas o objetivo, para os norte-americanos, é enviar astronautas de volta à Lua em 2025 para “colonizar” o asteroide, e preparar uma missão, num futuro próximo, em direção ao inexplorado Marte.
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