As nove entrevistadas são jovens, corajosas, já caíram e levantaram. São, certamente, pessoas privilegiadas, que puderam estudar, morar e trabalhar no exterior. Mas ainda assim reclamam da falta de acesso a capital, dos vieses culturais negativos, do machismo estrutural. Todas precisaram empreender, e a maioria uniu amor e dor nessa jornada quase sempre solitária. Algumas ainda precisam dividir seu tempo com filhos pequenos. Além de dividirem todas essas características, essas mulheres superpoderosas têm outra coisa em comum: querem mudar o mundo.
Stéphanie tem 37 anos, nasceu em Goiânia, e se orgulha de vir de uma família de mulheres fortes e batalhadoras. Fez muita coisa na vida, inclusive fora do Brasil. Em 2020, viu seu mais recente empreendimento, a fintech DinDin, ser comprada pelo Bradesco. Com a venda, virou diretora do banco.
Por que decidiu empreender?
Em 2015 eu conheci um aplicativo nos Estados Unidos que facilitava a tarefa de pagar e cobrar amigos e familiares – eu já tinha passado bastante por situações semelhantes, sempre levando um calote aqui e outro ali. Achei a ideia incrível, o projeto da minha vida. Me associei a duas amigas, Juliana e Bruna, e criamos nossa Female Tech, o que sem dúvida alguma era bastante inédito no Brasil, e até no mundo. Menos de um ano depois, a gente tinha colocado o aplicativo na rua, e tudo com dinheiro nosso, todas as nossas economias; e enfrentamos preconceito de pessoas que enxergavam como fracasso, dizendo que um grupo de mulheres não iria pra frente, ninguém investiria, ninguém acreditaria.
Como enfrentou as barreiras?
Captar investimento sendo mulher já é difícil no exterior, e no Brasil, onde realmente a cena de venture capital é ainda mais restrita e mais masculina, imagina. É incontestável que existe um viés sim, consciente ou inconsciente, depende realmente do interlocutor. A impressão que dá é que existe uma escadinha de respeito para ser levado a sério; se você é um homem mais velho, está no topo; se você é um homem já com um pouco de experiência ou ainda se você é um homem supernovo mas acabou de sair de uma FGV, Stanford ou Harvard (ou então é bem relacionado, filho de alguém que conhece alguém), OK. Depois dessa escadinha vem talvez uma mulher mais velha, com experiência, ou que venha do mercado, ou que também conhece alguém. A gente era assim um peixe fora d’água total, porque éramos mulheres, novas, sem experiência em startups. Tínhamos uma carreira bem sucedida e respeitada em outros ramos, nacional e internacionalmente, as parecia que isso não valia nada. E é um absurdo não valer, todo mundo fala em hard skills e soft skills, mas quando se trata de investimento de venture capital, as pessoas estão olhando só os seus hard skills, onde você foi bem-sucedida fora dali. Eu brinco hoje que dá vontade de chegar, bater lá e falar assim: e agora, meu track record é bom o suficiente? É complicado sim, como mulher, não vou te dizer que foi fácil.
Onde quer estar daqui a dez anos?
Por enquanto, quero digerir e aproveitar o fato de estar sentada nessa cadeira, sendo diretora do Bradesco, um dos maiores bancos do país. Pois sei que estou, não sou diretora. Quero aprender muito. Estou bastante contente com esse final ou começo feliz.
Larissa, 41 anos, é casada, mora em São Paulo e tem dois filhos. Ela enfrenta preconceito desde cedo: escolheu fazer engenharia, profissão tradicionalmente vista como masculina. Talvez exatamente por isso, hoje se declare uma “feminista de carteirinha”. Também se autodefine como workaholic – e talvez sem esse traço, não tivesse chegado tão longe. Muitos homens conseguem, mesmo sem ser. Depois de trabalhar em grandes multinacionais, ser expatriada, decidiu ser dona do próprio negócio.
Por que decidiu empreender?
Eu trabalhei em várias multinacionais, inclusive no exterior. Mas brinco que quando a mulher faz 40 anos dá um clique e ela acha que ela é capaz de muito mais do que ela já era, foi aí eu me permiti empreender. Eu disse a mim mesma “eu conheço o mercado, eu conheço finanças, vou acreditar no meu sonho e vou empreender.”
Como enfrentou as barreiras?
Meu último emprego foi na Syngenta. Fiquei dez anos lá, atuei em 12 posições diferentes, e tive muitos obstáculos – não só por não conhecer o setor profundamente, poia é um setor extremamente particular do ponto de vista de finanças, tem uma série de regulações, uma série de particularidades do mercado que requerem bastante esforço e dedicação para você se familiarizar. Mas também por ser mulher, é um mercado machista, finanças é um setor onde a maioria dos executivos são homens, e eu fui a primeira CFO mulher do Brasil na Syngenta – e sentei na cadeira com 36 anos, então também fui uma das mais jovens, tenho muito orgulho de ter conquistado essa posição. Mas eu sou uma feminista de carteirinha. Eu acho que a gente pode escolher ser vítima do machismo estrutural e não sair do lugar, ou encarar isso como um obstáculo a mais, como tantos outros, e lutar para superar.
Onde quer estar em dez anos?
Quero um mundo menos machista. Eu participo de um grupo chamado Women Fintech, são várias empreendedoras do Brasil, e de outro grupo de meninas mais jovens que não necessariamente são empreendedoras, mas que atuam em diversos setores de multinacionais, consultorias, enfim, e a gente se reúne uma vez por mês para fazer troca de experiência, e assim, suportar uma a outra mesmo, dividir e entender como crescer com aquela experiência e passar aquele obstáculo, e não ficar numa posição passiva. O mundo é machista, é difícil entrar, mas não vamos deixar para lá: vamos achar uma forma e vamos chegar lá.
Dani tem 42 anos, é jornalista de formação e empreendedora por vocação. Abriu a primeira empresa aos 19 anos, seguida de outras 10, nas áreas de comunicação, conteúdo e edtech. Ela é CEO da agência PROS e fundadora do Movimento Aladas, criado durante a pandemia para apoiar o empreendedorismo feminino. Paulistana, é mãe de três meninos.
Por que decidiu empreender?
Porque o desafio me move todos os dias. Desafio de ser melhor, de encantar clientes, de formar equipes, de fazer algo de uma forma nova, de poder pensar diferente e agir no meu ritmo e segundo os meus valores.
Como enfrentou as barreiras por ser mulher?
Empreender é gostar de enfrentar barreiras e não temer os desafios. Eu enfrento barreiras todos os dias. Erro muito e aceito errar como parte do processo, desde que seja um erro diferente dos já cometidos. O que me ajuda muito é um networking de valor que criei ao longo da minha jornada e que ativo constantemente. Mentoria também é uma estratégia muito eficaz para encurtar a curva de aprendizado, reduzir o a solidão de empreender e compartilhar as angústias e dúvidas diárias. Mas posso dizer que enfrentei as barreiras de frente e sem olhar para trás com remorso dos erros cometidos.
Onde quer estar daqui a dez anos?
Meu desejo, em dez anos, é poder participar da jornada de outras empreendedoras, como conselheira ou investidora e, quem sabe, ainda empreendendo em paralelo.
Carol tem 24 anos, é paulistana, co-fundadora do agregador de salões gal, e da fintech LaPag – uma maquininha específica para salões de beleza, pensada para proporcionar eficiência operacional e tributária nos recebíveis dos gestores e profissionais do setor. A LaPag foi acelerada pela Visa e recebeu investimentos do fundo Canary. Formada em Administração pelo Insper em 2018, foi presidente da Liga dos Empreendedores da instituição até agosto daquele ano.
Por que decidiu empreender?
Não nasci empreendedora, na realidade, sempre quis trabalhar no mercado financeiro. Me tornei empreendedora quando cheguei na minha principal conclusão até hoje: ganhos marginais < impacto. Empreender é meu veículo para causar impacto. A LaPag nasceu em 2016, depois de um ano pesquisando o mercado de beleza e ouvindo mais de 200 profissionais do setor., como salões de beleza, barbearias, clínicas de estética e estúdios de tatuagem. Nosso objetivo é fazer diferença na vida de pequenos e médios empreendedores.
Como enfrentou as barreiras?
O sentimento de dor sempre causará afastamento. Este afastamento pode se dar no movimento de fuga, ou no movimento de ação. Tendo consciência disso, sempre escolho, racionalmente, a ação.
Onde quer estar daqui a dez anos?
Com orgulho dos últimos dez anos.
Carioca, Luciana é médica e criou a Medicinae por acreditar que os pagamentos de clínicas, hospitais e laboratórios deveriam ser facilitados. Por isso, construiu um produto para dar autonomia e previsibilidade aos prestadores de serviços de saúde, usando dados de sua operação e disponibilizando seus pagamentos de convênios e cartões em até 24h. A fintech recebeu investimentos do fundo especializado em fintechs da Bossa Nova Investimentos e foi acelerada pela Visa.
Por que decidiu empreender?
Eu sempre fui muito questionadora e adorava descobrir como as coisas funcionavam, não à toa escolhi a Cirurgia Geral como especialidade. Mas além de “consertar” as coisas, me incomodava muito com fazemos a mesma coisa do mesmo jeito, sem poder fazer diferente, e muitas das vezes até melhor. Aquela resposta de “Eu sempre fiz assim” me matava, se não houvesse uma explicação lógica sobre essa rotina assumida, eu simplesmente tentava de outra forma. Esse inconformismo foi o primeiro passo para sair da minha zona de conforto. Aliado a um momento profissional onde eu me encontrava dentro de uma grande empresa que passava por sérias dificuldades, recebi O chamado – e fui empreender. Já havia tido uma empresa de auditoria médica antes e não havia dado certo por eu não me dedicar integralmente. E nesta segunda oportunidade fui de peito aberto e me dedico exclusivamente a Medicinae há quatro anos. Temos momentos de euforia, assim como alguns momentos bem difíceis, mas o saldo é positivo. Deixar para o mundo a sua contribuição de mudança é apaixonante.
Como enfrentou as barreiras?
Com persistência e resiliência. Isso é o que me faz transpor barreiras e é o que todo empreendedor deve ter como característica. As dificuldades existem, e agora temos uma luz maior na diversidade de gênero, como nunca houve. Isto não vai fazer sua luta mais fácil, mas vai em alguns casos tirar o peso que nos colocavam da não capacidade. Já tive uma promoção que não veio pela explicação de ser muito nova, mas na verdade eu era a única mulher na disputa. Fui ser chefiada por uma pessoa que não tinha capacidade de estar no cargo. Mas não fiquei na empresa mais muito tempo para poder avaliar esse colega. Meu conselho é: não se acomode. Busque por lugares onde o gênero não seja fator decisivo para o seu crescimento. Medo de mudança todos temos, é humano. Mas não se deixe dominar, ele acorrenta o seu crescimento.
Onde quer estar daqui a dez anos?
Eu quero ter ajudado a humanizar a cadeia assistencial da saúde com entregas pautadas em inteligência de dados, tecnologia e racionalização de custos. Estamos em profunda mudança na saúde. Quero ser um agente dessa mudança. Até onde isso vai me levar? Ainda não sei onde, mas espero ter aprendido muito nessa jornada.
Monica tem 43 anos, é formada em Relações Públicas com especialização em marketing, mora atualmente um pouco em São Paulo e um pouco em Poços de Caldas (MG) com seu filhote Chico, “um bulldog francês lindo que já tem oito anos”. Os sócios da Grão eram donos da corretora online Rico, comprada pela XP.
Por que decidiu empreender?
Porque sonho e quero transformação. Quero transformar a vida das pessoas e fazer a diferença. O que move a gente é mostrar que poupar pode ser muito mais fácil do que você imagina. E que tirar seus planos do papel não é um sonho distante.
Como enfrentou as barreiras?
Empreender é enfrentar barreiras. Faz parte do dia-a-dia enfrentar desafios, incertezas, dúvidas e ao mesmo tempo uma satisfação enorme de transformação.
Onde quer estar daqui a dez anos?
Daqui a dez anos quero estar com minha família e ter um orgulho enorme da diferença que fizemos na vida dos clientes da Grão.
Com apenas 25 anos, a empreendedora paulistana Nani Gordon assumiu um cargo de liderança e passou cinco anos coordenando equipes de até 100 pessoas. Ter a chance de tão jovem assumir essa função fez com que estudasse sobre outras áreas e criasse uma responsabilidade intrínseca em entregar resultados. Depois dessa experiência, todos os negócios e empreendimentos em que fez parte sempre trouxeram um desafio e a ideia de que é preciso ter retorno e olhar para as necessidades individuais de cada mercado. Fundadora e Co-CEO da Cash.in, a veia empreendedora de Nani começou em Chicago e se expandiu até o Qatar. Ao acompanhar o marido em uma das maiores cidades dos Estados Unidos, a empresária começou a auditar aulas na Kellogg School of Management, onde ele era aluno – assim ela podia assistir matérias selecionadas. Despertou então a vontade de estudar temas como administração, contabilidade, recursos humanos e ingressou em um curso na DePaul University, além de um fazer estágio na BucketFeet, onde criava estratégias de atacado para novos mercados e/ou melhorias onde já atuavam.
Por que decidiu empreender?
Depois de uma experiência no Qatar, com uma sócia que havia conhecido nos EUA, voltei ao Brasil em 2019 e comecei uma nova empreitada. Ao lado da minha nova sócia, Luciana Ramos, fundamos a Cash.in, fintech que otimiza o pagamento de prêmios de incentivos e bônus. A ideia surgiu após Luciana identificar a falta de digitalização dentro das empresas. Juntas, estudamos o mercado e descobrimos que as empresas ainda pagavam premiações com cupons físicos, sem controle de entregas, utilizando logística e gastos com papéis e burocracia. Dentro da plataforma Cash.in, é possível transacionar valores para o pagamento de boletos, saques em lotéricas, transferências bancárias (sem a necessidade de o usuário possuir conta em banco) e resgate de cupons em lojas parceiras como Americanas, C&A e Netflix. A fintech é uma das pioneiras nesse segmento; esperamos fechar 2020 com mais de R$ 50 milhões transacionados na plataforma.
Como enfrentou as barreiras?
Tudo é uma evolução, crescimento, e nós, mulheres, já mostramos que representamos um ativo gigante no mercado. Já nos conectamos a líderes de grandes empresas como Tânia Constantino na Microsoft, startups bem sucedidas com CEOs femininas, como Maria Teresa Fornea da BCredi e empresas disruptivas como o NuBank fundado também pela Cristina Junqueira. Busco exemplos positivos e mulheres fortes para me espelhar, além de ter como sócias mulheres fortes e incríveis como Carla e Luciana.
Onde quer estar daqui a dez anos?
Nossa! Dez anos é muito tempo, principalmente hoje com a Cash.in com quase dois anos de operação. Consigo pensar em cinco anos a frente onde nos vejo como uma empresa robusta – levando acesso digital, facilidade e muito mais felicidade ao lidar com o dinheiro. A meta é agressiva e em cinco anos devemos ser 50 vezes melhores!
Nascida em Belo Horizonte, Rafaela, 35 anos, três filhos, é advogada especialista em direito societário e tributário e em fusões e aquisições. Também é mestre em administração pela Harvard University, tem experiência profissional em uma companhia global investida por grandes fundos, em consultoria estratégica, como diretora em startup apoiada pela Endeavor e como empreendedora no setor de alimentação saudável. Também faz parte da sociedade da B2Mamy, primeira empresa que capacita e conecta mães ao ecossistema de inovação e tecnologia. Ainda atua como investidora anjo e mentora de startups e em iniciativas de suporte ao empreendedorismo, como a Womby. A Wishe é um grupo de investimento focado em startups inovadoras lideradas por mulheres que tem como objetivo eliminar o gap de gênero no ecossistema de startups, levando capital para empresas fundadas por mulheres com alto potencial de crescimento, oferecendo educação e conexão para quem investe e gerando valor econômico e impacto social.
Por que decidiu empreender?
Desde que me formei fui trainee em várias empresas em São Paulo, mas acabei escolhendo a Magnesita em Belo Horizonte. Como advogada atuei em fusões e aquisições, mas chegou uma hora que tive vontade de estar do lado do negócio, não só como assessora. Fiz cursos nos Estados Unidos e voltei a trabalhar com consultoria, mergulhada dentro das empresas. Depois de um tempo, entrei em crise: comecei me perguntar a quem minhas 20 horas por dia de trabalho estava dando dinheiro. Foi quando conheci a Endeavor e fui trabalhar numa startup de saúde. Continuei trabalhando muito e depois da primeira filha decidi empreender. Mais de 50% das mulheres que empreendem o fazem depois da maternidade. Tive uma empresa de alimentação saudável por quatro anos; quando fundei o Wishe me conectei de novo com meu propósito no mundo, com o que eu quero deixar de legado: meu proposito é ajudar mulheres . Acredito que quando uma mulher cresce, todos crescem. Nós mulheres precisamos seim de apoio, mentoria, exemplos, mas principalmente de dinheiro. Quero democratizar o acesso ao investimento em startups no Brasil; a Wishe é um hub de investimentos. Oferecemos três modelos: uma plataforma de equity crowdfunding; um grupo de investidores anjo com cheques maiores; crowdfunding convencional focado em MVP de startups de mulheres. No ano que vem, vamos captar um fundo estrutural. Ou seja, fomentamos MVP, tração e crescimento; serão quatro modelos de negócios para acompanhar a jornada toda. Nossa tese é agnóstica, o único requisito é ser uma startup ser liderada por mulheres, de prefereência as que buscam impacto positivo.
Como enfrentou as barreiras?
Além das inerentes ao próprio negócio de startups, diversos estudos mostram que as mulheres recebem no máximo 5% de todos os investimentos realizados por firmas de Venture Capital; o resto vai para empresas com homens no comando. Mulheres têm mais dificuldade porque começaram a empreender depois, são menos arrojadas e têm menos anos de estudo, o mercado financeiro é dominado por homens brancos; por entrar mais tarde, elas não têm tanto networking – não conheceram pessoas na faculdade que hoje seriam seus portenciais investidores – e os investidores tendem a buscar seus semelhantes. Sem investimento, essas startups femininas não criam relevância, e tendem a morrer mais cedo. Mas quero falar também sobre o que tem sido empreender na pandemia: é devastador para todos, mas para as mulheres foi pior no mundo todo; passamos da jornada tripla para a jornada infinita, a quarentena acabou ou reduziu muito a rede de apoio (funcionários, avós, escolas…) e as mulheres passaram a ter que atuar até como professoras dentro de casa. Empreender no caos é muito desafiador, mas sairemos melhores e mais fortes.
Onde quer estar daqui a dez anos?
Eu realmente gostaria de ver um mundo em que os dados relacionados a equidade de gênero fossem muito diferentes; com grandes empresas, inclusive bancos, lideradas de fato por mulheres; um mercado de trabalho com outras políticas públicas mais adequadas, com licença parental em vez de licença maternidade. E eu, pessoalmente, queria ter sido um agente importante nessa transformação à frente da Wishe.
Ariane tem 29 anos, é psicóloga e gaúcha – mas atualmente mora em Jundiaí, SP com seus três “filhos de quatro patas”. Empreendedora serial há mais de 11 anos nas áreas de cleantech, fintechs, operações, mercado B2B e B2C, é vencedora de competições de startups no Brasil e América Latina. É também co-fundadora da fintech iUPay, startup focada em B2B que desenvolveu o Boletix, um agregador de todas as cobranças bancárias para melhorar a experiência no pagamento de contas para clientes de bancos digitais e fintechs.
Por que decidiu empreender?
Comecei a empreender com 17 anos e há mais de 11 anos estou nessa jornada. Desde pequena vi meus pais empreendendo e já tinha o desejo de empreender, tanto que fazia desenhos em papel e tentava vendê-los para ter minha própria renda. Quando conheci meu marido, em 2009, começamos a trabalhar juntos e empreender em casal desde então. Tivemos uma empresa de material gráfico e uma loja de aluguel de trajes para casamentos e festas. Em 2010, começamos no ecossistema de startups com o Piipee, um produto que substitui a descarga e proporciona economia de água em sanitários. Em 2016, através de uma dor própria, por ser empreendedora, não ter renda fixa e encontrar dificuldades com fluxo de caixa e pagamento das contas mensais, tivemos a ideia do Boletão, uma fintech de meio de pagamento e crédito. Nessa época, comecei a empreender no ecossistema de fintechs. Convidei minhas duas sócias para empreenderem comigo no Boletão, a Aline e a Fernanda. O mercado financeiro é predominantemente masculino e temos esse grande diferencial de sermos uma fintech formada somente por sócias mulheres, o que sempre nos destacou no mercado. Nesse ano de 2020, me tornei co fundadora da fintech iUPay, focada em B2B, que tem como clientes bancos digitais e fintechs, e desenvolveu o Boletix, um hub de cobranças bancárias, onde usuários de bancos digitais e fintechs tem acesso a todas as cobranças bancárias mensais, para ter uma melhor experiência no pagamento de contas.
Quais barreiras enfrentou ?
Empreender sempre foi o que me motivou e uma das maiores paixões da minha vida. Empreendendo alcancei inúmeras conquistas pessoais e profissionais, conheci pessoas e lugares, cresci em conhecimento, experiência e como pessoa. Ao longo dessa jornada encontramos inúmeros desafios, desde divulgar e vencer a barreira da inovação até gerenciar os negócios e ter a habilidade de fazer inúmeras coisas ao mesmo tempo. Para empreender, devemos ter a capacidade de cuidar de várias áreas da empresa e gerenciar diversas demandas diferentes. Também encontrei diversas dificuldades por ser mulher e por empreender em casal (no caso da Piipee, que fundei com meu marido). Desde ter que provar o meu potencial e mostrar que era capaz de fazer aquilo que estava me propondo a fazer, até mostrar o meu real papel dentro da startup e a importância da minha participação.
Onde quer estar em dez anos?
A motivação e o propósito pelo que fazemos o que fazemos é o que nos move e o que nos faz recomeçar sempre que necessário, e nos dá forças para empreender a cada dia. Sempre me baseio no propósito, e sempre enfatizo o propósito de cada negócio e de cada ação que irei fazer. E a visão de futuro também é algo muito importante para caminharmos na direção para onde queremos chegar. Quando empreendemos buscamos melhorar algo no nosso mundo atual, trabalhamos e lutamos para isso! Para desenvolver algo importante para o planeta, para as pessoas, para nosso cotidiano… Para o futuro, quero ver que toda essa construção realmente fez a diferença na vida das pessoas e alcançou aquilo a que se propôs lá no início.