Enquanto o mercado de investimentos vem sendo disputado a tapa pelas plataformas, a indústria de previdência privada atraiu até agora poucos novos entrantes. Não por falta de oportunidade ou tamanho de mercado. Estamos falando de um setor que encerrou 2020 com mais de R$ 1 trilhão em reservas, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), volume que representa um incremento nominal de 7%.
Dados de junho do órgão apontam quase 18 milhões de participantes em previdência complementar aberta, incluindo PGBL e VGBL. São pessoas que contratam produtos principalmente de seguradoras ligadas a grandes bancos — somente a Brasilprev, ligada ao Banco do Brasil, detêm mais de R$ 310 bilhões em ativos sob gestão, ou seja, mais de 30% de market share.
A Saks quer mudar esse quadro. Sem alarde, a fintech recém-criada colocou nas lojas seu aplicativo em março e vem agregando novas funcionalidades nos últimos meses. A mais recente foi lançada hoje: um serviço de portabilidade da previdência diretamente pelo app, novidade revelada com exclusividade ao Finsiders. O processo vale para planos dos principais bancos e seguradoras.
Para investidores que tenham produtos de previdência da Brasilprev, inclusive, a fintech está ‘antecipando’ o Open Finance, com o preenchimento automático dos dados necessários para migrar o plano para a Saks, por meio de uma parceria com a fintech Belvo. Nos próximos meses, a ideia é ampliar essa facilidade para outras instituições.
Mas por que alguém mudaria seu PGBL ou VGBL para a Saks? A fintech aposta numa plataforma em que a contratação do plano de previdência é feita de forma 100% digital, da simulação à assinatura do contrato.
“A pessoa consegue contratar previdência a partir de R$ 200 — nosso objetivo é levar esse valor mínimo para R$ 50 até o fim do ano. Não tem taxa de carregamento, nem taxa de saída, e uma plataforma ampla de fundos de várias seguradoras”, explica o founder e CEO Luiz Bacellar.
Bacellar foi sócio até dezembro de 2020 da EQI Investimentos, um dos maiores escritórios de agentes autônomos (AAIs) que trocou a parceria com a XP pelo BTG Pactual, com quem terá uma sociedade numa nova corretora. Antes, o empreendedor também atuou como sócio da DM10, marketplace de seguros comprado em junho do ano passado pela XP. Ao lado de Bacellar, como founder está Felipe Talhari, também ex-sócio de EQI e DM10. O head de investimentos e portfolio manager da Saks é Paulo Sobral.
“Cerca de 70 milhões de brasileiros não têm previdência e dependem do INSS. Além disso, brasileiro quando quer juntar dinheiro, paga para juntar dinheiro, comprando cotas de consórcio ou título de capitalização. O melhor produto para guardar grana com recorrência e benefício fiscal é a previdência. Nenhuma das grandes seguradoras tem um aplicativo para contratação de previdência”, justifica Bacellar, sobre a dor que o motivou a construir a Saks.
A empresa opera como corretora de seguros e acaba de receber aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Anbima para sua gestora de recursos, a Saks Asset Management. Hoje, além de se plugar a três seguradoras parceiras (Zurich, SulAmérica e Icatu) — que têm sua prateleira de fundos de previdência de diversas assets –, a Saks possui um fundo de fundos (FoF). “Temos uma ‘superprevidência’, uma carteira composta por mais de dez fundos, com perfil moderado”, afirma.
Pelo app, explica ele, é possível ainda acompanhar o rendimento do investimento, simular o desempenho futuro, dividir em objetivos o dinheiro acumulado e conferir a carteira detalhada de cada um dos fundos disponíveis. “A gente aposta que o mercado, principalmente o varejo, vai conseguir acessar [previdência] com valor baixo, sem precisar de ajuda de consultor, agente autônomo ou corretor de seguros”, aponta.
O empreendedor antecipa mais um lançamento, previsto para este ano. A fintech está desenvolvendo um sistema de inteligência artificial para ajudar o investidor a definir o plano mais adequado ao seu perfil, levando em conta mais de 50 variáveis. Quem conhece previdência sabe que a escolha entre PGBL e VGBL ou tributação regressiva ou progressiva não é algo tão trivial.
“Nosso objetivo é ajudar pessoas que têm dificuldade para investir.”
Do início do ano até agora, a fintech soma 7,5 mil clientes, com expectativa de levar essa base para 100 mil até o fim de 2022 e 1 milhão até 2027. A Saks também estuda o mercado de criptoativos. Depois do criptoback (cripto + cashback), seria a vez da ‘criptoprev’?
Outro projeto é o que ele chama de ‘previdência global’. “Estamos vendo como fazer, do ponto de vista regulatório”, diz Bacellar. O plano é poder oferecer produtos de previdência que acessem outros mercados, a exemplo do que ocorre hoje principalmente no mercado de ações, com players como Stake e Avenue Securities, que facilitam o acesso dos brasileiros às ações nos Estados Unidos. “O problema é que o brasileiro está muito no trading, está pulando a etapa do ‘saving’.”
Há um mês, a fintech também lançou uma plataforma B2B2C, em que corretores de seguros podem usar a tecnologia desenvolvida pela empresa para acessar as seguradoras. “Temos cinco parceiros já plugados, e pretendemos ampliar esse canal nos próximos meses.”
A Saks não é a única fintech a tentar ajudar o brasileiro a guardar dinheiro. A Monis aposta em um modelo de assinatura no cartão de crédito. Já a Grão tem um aplicativo que permite investimentos a partir de R$ 1 e funciona como um primeiro passo na jornada de aplicações financeiras.
Outro player é a Onze, que busca reinventar a previdência corporativa e recebeu em maio um cheque de US$ 10 milhões (R$ 53 milhões) numa rodada Série A com o fundo Ribbit Capital.