Em outubro de 2020, a Afya, grupo educacional com foco em saúde, fechou a compra do software de gestão iClinic. Em março do ano seguinte, foi a vez da fintech Medicinae Solutions ser comprada pelo grupo. Dois movimentos que sinalizaram claramente uma estratégia de construção de um ecossistema de serviços digitais.
Um dos planos do iClinic para este ano é acelerar a oferta de produtos e serviços financeiros. Em setembro último, começou a rodar o iClinic Pay, meio de pagamento para médicos e clínicas, utilizando a experiência e tecnologia construída pela Medicinae, que tinha desenvolvido soluções de pagamento e controle de faturamentos, recebimentos e glosa, além de antecipação de recebíveis.
“Logo após a aquisição pela Afya, já nos integramos ao iClinic e aí teve desenvolvimento da solução, que lançamos em setembro. Mas este ano estamos colocando efetivamente o carro na rua”, explica Rafael Coda, o fundador da Medicinae e atual líder da tribo de fintechs do iClinic, em entrevista ao Finsiders. É a primeira vez que ele abre mais detalhes sobre o iClinic Pay.
Com a solução de pagamentos, a ideia é manter a jornada do médico dentro de uma mesma plataforma, que já tem serviços de agendamento, atendimento a pacientes, prontuário eletrônico, prescrição digital e gestão financeira, por meio do iClinic. “Faltava o médico poder receber e cobrar os pacientes sem precisar ter várias soluções fragmentadas”, diz Coda.
Segundo ele, trata-se de uma solução embarcada no software de gestão que inclui maquininha com contactless, link de pagamento, pagamento via WhatsApp, Pix.
A empresa também oferece uma linha de antecipação de recebíveis de cartões e lançou, ainda, uma modalidade inédita de antecipação de faturas de plano de saúde, em parceria com a gestora Galapagos Capital. “É um produto novo que tem potencial de facilitar o recebimento dos médicos”, afirma Coda.
Sem abrir detalhes, Coda diz que a empresa está desenvolvendo “inovações” em soluções de pagamento. “Tudo que for para tirar fricção, a gente está olhando, com o conceito de o cliente conseguir pagar pelo serviço médico”, explica, de maneira enigmática.
Perguntado sobre a possibilidade de uma solução de pagamento parcelado no modelo que agora se popularizou no mundo como ‘buy now, pay later’ (BNPL), ele conta que não há um produto desenvolvido nesse sentido, mas é “algo que nos interessa”.
Coda não fala em números transacionados, mas diz que o iClinic tem uma base com cerca de 20 mil médicos e o ecossistema Afya soma mais de 200 mil médicos, potenciais usuários das soluções de pagamento. “Com a fintech, a gente entende que tem oportunidade de aumentar a receita média por usuário em 2x a 3x. Com a solução de antecipação, a receita quase que triplica”, aponta.
A tese do iClinic Pay bebe da fonte do ‘embedded finance’, uma tendência mundo afora que vem ‘embutindo’ produtos e serviços financeiros em plataformas de varejistas, operadoras de telecom, empresas de logística, transportes e, claro, de companhias em saúde e educação, só para citar alguns exemplos.
“Em 2022, vamos focar em escalar os produtos de pagamento e antecipação de recebíveis que temos dentro de casa, mas tudo o que for para melhorar o core business dos médicos, estamos olhando.”
Por falar em ‘core business’, o iClinic entende mesmo é da jornada do médico, e suas dores para gestão, inclusive dos recebimentos. Por isso, a estratégia é utilizar uma plataforma de banking as a service (BaaS) como infraestrutura de pagamentos. Uma parceria com a Zoop, que já prestava serviços para a Medicinae, foi mantida, segundo Coda. “Temos SaaS, muita inteligência de dados e conhecimento do médico. Geramos valor em UX, produto, atendimento e canal de distribuição.”
Setor gigante
Tamanho de mercado e ineficiências do setor justificam o avanço de players como o iClinic em serviços financeiros para saúde. O bolo é grande e vem atraindo outros competidores, inclusive fintechs como Dr. Cash, que se posiciona como um ‘one-stop-shop’ para a saúde e tem como investidores a Bossanova Investimentos e o fundo japonês Incubate Fund.
Também em estágio inicial, a Axxes se coloca como uma ‘finhealthtech’ com soluções de pagamento para médicos e clínicas via Flip Saúde, e crédito parcelado por meio da Pulsar Crédito, com foco em especialidades como odontologia, oftalmologia, cirurgia plástica e estética, entre outras.
Em novembro, como você leu em primeira mão no Finsiders, a startup levantou R$ 1,6 milhão com investidores-anjos liderados pelo GVAngels, grupo formado por ex-alunos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com participação do Fundo Anjo, gerido pela Domo Invest, além do Distrito.
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