Por Helen Child*
Os olhos do mundo estão no Brasil. A implementação do Open Banking começou no país sul-americano há menos de um ano, mas esta nação dinâmica e inovadora agora está sendo vista como líder global.
Então, o que pode ser aprendido com o Brasil e como os pioneiros do Open Banking de outras partes do mundo podem colaborar e se inspirar nos principais players de seu ecossistema? Para responder a essas perguntas, a Open Banking Excellence realizou um Campfire bilíngue em inglês e português que discutiu como o Brasil estava “quebrando barreiras” e ajudando a construir o futuro do setor financeiro.
A indústria ao redor do mundo está observando o que está acontecendo no Brasil. Todos no ecossistema devem estar incrivelmente orgulhosos da infraestrutura que está sendo construída e da diferença que está fazendo na vida real das pessoas.
O Brasil está no meio de uma fase de implementação que trará a maior mudança até o momento: a regulamentação da iniciação de pagamentos em qualquer plataforma online. Isso dará aos brasileiros a capacidade de pagar por um produto ou serviço usando a plataforma de pagamento instantâneo Pix sem entrar em um aplicativo bancário. Depois, em 2022 temos a implementação dos pagamentos por transferência bancária.
O Pix foi lançado em 16 de novembro de 2020 e agora é o método de pagamento mais utilizado no país. Isso é um progresso surpreendente, mas é apenas o começo da adoção da nossa família brasileira ao Open Finance. O Brasil tem a taxa de adoção de Open Banking mais rápida de qualquer país na história, que é apenas uma das muitas razões pelas quais o mundo está prestando muita atenção.
Especialistas do setor em todo o mundo estão agora falando do Brasil como líder do Open Banking ao lado do Reino Unido, Europa e outros pioneiros. No Brasil, tanto o governo quanto o Banco Central (BC) estão trabalhando para construir o ambiente regulatório que permita o crescimento do Open Banking. Fundamentalmente, as autoridades também estão recuando para deixar o mercado fazer sua mágica e impulsionar novas ideias por meio da colaboração e da competição.
Steve Smith, Chief Engagement Officer, Global Open Banking da Finicity Mastercard participou do campfire da OBE, colocando o crescimento do Open Banking no Brasil dentro de um contexto global.
“Há agora algum nível de atividade associado ao Open Banking em 60 países”, disse ele. “Nos EUA e Canadá, há uma abordagem mais laissez-faire, liderada pela indústria, com organizações que trabalham com bancos para defender a melhor tecnologia da categoria e eliminar o atrito do processo.”
“Na Europa, onde houve uma liderança significativa, tem sido mais uma abordagem de regulamentação em primeiro lugar e a adoção ficou para trás dos EUA. No entanto, o ritmo da inovação está aumentando em um nível notável agora, principalmente no Reino Unido, mas se espalhando pela Europa à medida que bancos e fintechs criam integrações e oferecem tecnologia em um nível mais alto de qualidade e capacidade.”
“Então você tem a América Latina e especialmente o Brasil, onde o ritmo do marco regulatório e do desenvolvimento de padrões é de tirar o fôlego. Acreditamos que a adoção ocorrerá em um ritmo significativamente mais rápido no Brasil do que em outras áreas líderes em todo o mundo.”
Uma revolução em fases
No Brasil, o Open Banking está sendo implementado em quatro fases. A primeira delas teve início em 1º de fevereiro de 2021, regulamentando o compartilhamento de Open Data de instituições financeiras por meio de APIs, como número e endereços de agências, serviços oferecidos e taxas cobradas. Na segunda fase, foram compartilhados dados cadastrais e transacionais, como contas e operações de crédito.
A fase 3 concentra-se na iniciação de pagamentos. Foi lançada em outubro e está dividida em cinco etapas. A primeira estabelece pagamentos instantâneos de qualquer plataforma online. A segunda etapa será lançada em 2022, permitindo o início do pagamento por meio de transferências bancárias.
Durante a terceira etapa da fase 3, a comunicação entre as instituições de crédito e seus correspondentes digitais será padronizada para facilitar as propostas de crédito. Por fim, a quarta e quinta etapas possibilitarão o início do pagamento por meio de boletos, seguido de débito em contas.
A fase 4 começou em dezembro e amplia o escopo para abranger dados sobre investimentos, seguros, previdência social, contas salariais e serviços de câmbio.
A velocidade de implementação é muito ambiciosa. No Reino Unido, os padrões do Open Banking foram introduzidos em 2018 e o período de implementação deve terminar no final de 2021 ou início de 2022. O período de implementação do Open Banking Brasileiro visa completar quatro fases em um ano.
A fase de iniciação de pagamento
O Campfire concentrou-se na fase de iniciação de pagamentos do lançamento do Open Banking, com a discussão moderada por Edlayne Altheman Burr, diretora-executiva e líder de pagamentos da Accenture. Para ela, “os próximos anos prometem ser realmente muito empolgantes”.
Janaína Pimenta Attie, chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central (BC), disse que essa fase é uma parte “muito importante” da estratégia geral.
“Ela une dois projetos estratégicos com alto potencial transformador aqui no Banco: Open Banking e Pix”, afirmou. “A iniciação de pagamento é um serviço que visa possibilitar a realização de pagamentos que acessam diretamente a conta do cliente. Isso reduz o atrito e torna a experiência de pagamento mais fácil e ágil. Também possibilita o surgimento de uma maior diversidade de modelos de negócios. Essa é sempre uma meta do Banco Central.”
Janaína também apresentou as medidas de segurança que estão sendo implementadas no Brasil. As instituições participantes do serviço devem ser autorizadas pelo Banco Central, inclusive o banco onde o cliente possui conta corrente ou poupança, e também participar do Pix, o que significa que passaram por um processo de adesão. Por fim, as instituições devem implementar APIs padronizadas.
Estanislau Bassols, gerente-geral da Mastercard no Brasil, disse que a fase de iniciação de pagamentos melhoraria o desempenho do Pix, mostrando como um serviço já eficiente pode ser atualizado e aprimorado para eliminar atritos.
“Usando o Pix como exemplo, ele precisa seguir cerca de sete etapas para poder concluir o pagamento”, disse ele. “Isso vai ser reduzido a três etapas. A quantidade de ideias que podemos visualizar surgindo no mundo do consumidor, bem como dentro de pequenas, médias e grandes empresas é muito, muito ampla.”
A colaboração entre os players do ecossistema será vital para a fase de iniciação de pagamentos, bem como para o futuro do Open Banking.
Carlos Carneiro, chefe de estratégia de Open Finance do Itaú Unibanco, revelou que mais de 500 pessoas em sua instituição estão envolvidas na “implementação, coordenação e orquestração” do Open Banking e disse que as instituições financeiras devem continuar trabalhando juntas para impulsionar o progresso e a inovação.
“Um bom procedimento de coordenação é fundamental para que a mudança aconteça da melhor maneira para nossos clientes”, disse. “Sinto que o mercado está muito motivado para fazer o Open Banking e a iniciação de pagamentos acontecerem.”
Segurança e proteção
O Campfire também discutiu segurança e dados como “vistos através das lentes de um consumidor”, com Izabela Silva, gerente de desenvolvimento de negócios de serviços financeiros do governo do Reino Unido (DIT) no Brasil, atuando como moderadora.
O Brasil adotou a API de grau financeiro (FAPI) do OpenID, uma especificação técnica projetada para aumentar a segurança da API, além de outras estruturas que garantem privacidade e segurança de dados.
Danillo Branco, CEO e cofundador da Finansystech, disse: “O Brasil é pioneiro. Estamos fazendo algo que é mais do que confiável, mas na verdade é uma inovação dentro dos protocolos. Vejo o Open Banking no Brasil como um exemplo para o mundo.”
A confiança é uma parte vital do Open Banking, porque os consumidores precisam saber que seus dados estão seguros para sentirem-se confiantes quando esses dados forem compartilhados entre os serviços.
“O consentimento também é muito importante quando pensamos no consumidor permitindo que os bancos usem seus dados”, destacou Izabela Silva.
Tiago Aguiar, superintendente de novas plataformas da TecBan, disse que o Brasil é “um dos países que mais investe em sua segurança” e afirmou que os dados pertencem ao cliente e só podem ser compartilhados com consentimento.
“O Open Banking está aqui para o bem maior dos consumidores”, acrescentou. “Há muito trabalho técnico pela frente, mas veremos uma enorme diferença em dois ou três anos.”
O povo brasileiro está vendo agora os enormes benefícios do acesso a pagamentos rápidos, seguros e baratos. Existem 34 milhões de adultos não bancarizados no Brasil – o que significa que aproximadamente uma em cada sete pessoas não tem acesso a modelos de finanças tradicionais. Isso significa que o Open Banking pode impulsionar uma mudança social real, acolhendo as pessoas no sistema financeiro pela primeira vez.
Leandro Pupe Nóbrega, líder de operações de produtos na América Latina da Belvo, disse: “Com o Open Banking e o Open Finance compartilhando dados em torno desses três princípios, podemos ver a melhoria da experiência dos clientes.”
*Helen Child é fundadora da Open Banking Excellence (OBE), comunidade global de conhecimento sobre Open Finance.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado, e não a do Finsiders.
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