'Lego' da Celcoin ganha uma nova peça: fintech compra Flow Finance

Quando levantou sua última rodada de captação, em julho do ano passado, a Celcoin deixou claro que o crescimento se daria de forma orgânica e também via aquisições, num movimento de consolidação. No mês passado, a fintech – que fornece infraestrutura de tecnologia bancária e financeira – anunciou a compra da Galax Pay, startup mineira de cobrança recorrente.

Agora, a empresa fundada por Marcelo França e Adriano Meirinho avança mais em sua estratégia para ser um ‘one-stop-shop’ de serviços financeiros abertos. A fintech está comprando a Flow Finance, startup fundada em Florianópolis (SC) que fornece infraestrutura de crédito para fintechs, bancos e demais credores.

A transação, de valor não revelado, está sendo paga em dinheiro e troca de ações. Os fundadores da Flow, os jovens empreendedores André Fellin e Gustavo Macedo, se tornam acionistas da Celcoin e vão liderar a nova vertical de crédito da fintech. Os 15 funcionários da Flow passam a integrar a equipe da Celcoin, hoje com mais de 200 pessoas.

Fundada em 2019, a Flow tem soluções que permitem às empresas criarem produtos de crédito em diversas modalidades, como capital de giro, crédito consignado privado, empréstimo pessoal, financiamento no modelo ‘buy now, pay later’ (BNPL), entre outros. A plataforma atende companhias que tenham licença ou não de instituição financeira e SCD (Sociedade de Crédito Direto).

Em outras palavras, a tecnologia construída pela startup permite que empresas de diferentes setores ofereçam crédito por meio de APIs (sigla em inglês para interface de programação de aplicações). Atualmente, a Flow tem uma carteira com dezenas de clientes, entre eles, a fintech de crédito LinKapital, de Renato Hersz.

Desde a fundação, a startup recebeu investimentos da aceleradora Darwin Startups, da financeira Biorc (recém-adquirida pela Neon) e do multi-family-office Somma Investimentos. Com a aquisição pela Celcoin, os investidores – com exceção da Darwin – deixam o captable.

Infraestrutura de serviços financeiros

Na agenda de M&A desenhada pela Celcoin, a compra da Flow faz todo sentido. Trata-se de uma solução complementar ao conjunto de APIs para habilitar transações de Pix, Open Banking, pagamento de contas, tributos, recargas de celular e gift cards, débito automático, saques em ATMs e transferências.

Com a recente aquisição da Galax Pay, a fintech passou a oferecer também APIs de cobranças recorrentes. E no início deste mês, também lançou uma API para consulta e pagamento de débitos veiculares, conforme noticiou o Finsiders em primeira mão.

“Encontramos [na Flow] um produto 100% aberto, funcionando via APIs, adaptável para diferentes modalidades de crédito, como consignado, empréstimo pessoal e BNPL”, explica Marcelo França, em entrevista ao Finsiders. “Temos uma grande capacidade de cross-selling.”

Para André Fellin e Gustavo Macedo, cofundadores da Flow, a complementaridade das soluções foi que aproximou os empreendedores da Celcoin. “Este acordo nos dá uma excelente vantagem competitiva, poupando anos de desenvolvimento de ambas as empresas”, dizem.

Segundo ele, a ideia é começar a oferecer as soluções da Flow a partir de março, tanto para os mais de 200 clientes da Celcoin – fintechs e bancos digitais, como Inter, Ebanx, PagBank, entre outros – quanto para a base de mais de 1,8 mil clientes da Galax Pay, que incluem varejistas, indústrias, escolas, academias, entre outros.

“Queremos ter uma infraestrutura completa para dar crédito, da emissão de CCB até cobrança. O objetivo é ser essa infraestrutura financeira e bancária completa, com tudo o que se vê nos grandes bancos, mas podendo ser usada por APIs, para que empresas possam embutir ou agregar novas funcionalidades.”

Estratégia

Para chegar a esse objetivo, a Celcoin continuará de olho em potenciais aquisições, com foco em ampliar suas verticais de atuação. “Estamos bem ativos. Vontade não falta”, diz Marcelo, sem dar pistas sobre novos deals. Dinheiro não será um problema, garante o empreendedor. “A empresa está ‘breakeavada’. Este ano é um ano de consolidação.”