(Diferentemente do que foi publicado, com base em entrevista com a empresa, a a55 não espera originar R$ 400 milhões com a nova linha, e sim R$ 70 milhões. O texto está corrigido a seguir)
Em agosto do ano passado, a fintech a55 colocou para rodar uma nova linha de crédito com foco em startups early-stage. Sem alarde, de lá pra cá, já emprestou cerca de R$ 5 milhões e agora planeja acelerar a originação. O objetivo é chegar até o fim do ano com cerca de R$ 70 milhões em crédito concedido nessa nova modalidade, conta André Luiz Silva, COO da a55, com exclusividade ao Finsiders.
“A gente premia o crescimento, dando mais dinheiro para [a startup] crescer. Queremos estar durante todo o ciclo de vida da startup”, explica Jayme Canhada, head of digital partnerships da a55. Ex-Stone, ele chegou à a55 em fevereiro do ano passado para liderar a área de parcerias.
O novo produto tem como público-alvo startups de diferentes verticais e setores. “Nossa ideia no futuro é poder atender empresas menores”, diz André.
Os tíquetes podem atingir até R$ 1,55 milhão, mas em geral as operações têm ficado em cerca de R$ 450 mil. As taxas de juros começam em 3% ao mês. O prazo de pagamento é de até 24 vezes, com carência de seis meses. A fintech não pede garantias reais para a aprovação do crédito.
A nova modalidade chega para atender startups que estejam com necessidade de capital para crescer, inclusive investindo em marketing e aquisição de clientes. “O mercado de dívida serve muito bem para que o empreendedor possa captar recursos sem aumentar sua diluição”, aponta André.
Ele faz questão de ressaltar que o produto não é um Venture Debt. Inclusive, desde a sua fundação, a a55 como um todo vem sendo comparada erroneamente a estruturas de Venture Debt.
“Nosso produto enxerga uma liquidez maior, e são tíquetes mais pulverizados. De fato, estamos preocupados com a operação da empresa. Trabalhamos com startups ‘VC-backed’ [investidas anteriormente por fundos de Venture Capital) ou não.”
Perguntado sobre as verticais de atuação das startups atendidas pela linha de crédito, André diz que a ideia é ser ‘data-oriented’, não ‘niched-oriented’. “Quanto mais dados a gente conseguir fazer a correlação, melhor. Diga-se de passagem, o produto analisa dados em tempo real.”
Crescimento
O apetite pela nova modalidade é grande, a julgar pelas projeções da a55 para 2022. Neste ano, a fintech prevê chegar a R$ 1 bilhão em crédito originado. Até hoje, já emprestou R$ 400 milhões para mais de 500 empresas.
“Essa frente [para startups early-stage] já é responsável por 80% do faturamento da empresa”, revela André. “Estamos trabalhando neste exato momento numa plataforma em que vamos interagir com a comunidade de startups”, diz o empreendedor, sem entrar em detalhes. Hoje, a a55 tem contato próximo com investidores e os principais fundos de Venture Capital no país.
As parcerias são uma das principais estratégias de crescimento da fintech, que tem atualmente oito acordos fechados com empresas dos ecossistemas de e-commerce e recorrência, como marketplaces, ERPs, gateways, entre outros players. Entre os parceiros estão Galax Pay (comprado recentemente pela Celcoin), Loja Integrada, Magis5 e BWC. “O pipeline tem mais de 30 empresas”, revela Jayme.
Recentemente, a a55 anunciou a primeira operação de crédito usando um protocolo de DeFi (sigla para finanças descentralizadas) baseado na rede de blockchain da Solana, numa parceria com a fintech belga Credix, que chegou ao Brasil oficialmente em dezembro do ano passado, conforme mostrou o Finsiders. “A ideia foi pegar um pool de stablecoins, usando tecnologia da Solana, num ‘backend’ descentralizado”, explica André.
Ciência de dados e blockchain são dois grandes focos da a55, como ele e Hugo Mathecowitsch – cofundador e CEO – já haviam contado em sua última entrevista ao Finsiders. “Estamos reforçando o time de tecnologia com expertise em blockchain. Estamos fazendo parcerias com alguns players de mercado, que ainda não podemos falar os nomes, para fazer emissão de NFT para captação de clientes”, conta André.
Trajetória
Fundada em 2017 por Hugo e André Wetter, a a55 nasceu com um produto de crédito para empresas com receita recorrente, no modelo conhecido como ‘revenue-based financing’ – e não Venture Debt.
No início, a fintech emprestava a partir de R$ 500 mil, mas nos últimos anos foi reduzindo os tíquetes e hoje libera recursos a partir de R$ 30 mil, podendo chegar a R$ 5 milhões.
No segundo semestre de 2020, a fintech lançou uma solução de crédito para financiar campanhas de marketing digital. O serviço funciona a partir da conexão das contas das empresas no Google Ads, Facebook Ads, Google Analytics e dados transacionais de faturamento do cliente em um único cadastro.
Desde o começo do negócio, a a55 já levantou US$ 58,8 milhões, conforme dados disponíveis no Crunchbase. O último cheque recebido, no valor de US$ 17 milhões (equivalente a R$ 92,8 milhões, no câmbio da época), foi liderado pela Movile, com participação do Mouro Capital (antigo fundo Santander InnoVentures), que já era investidor da fintech.
No captable, a a55 tem também Accial Capital, E3 Negócios, TM3 Capital, SaaSholic, Alma Capital (Nova York), além da investidora-anjo Camila Farani via G2 Capital.
Mercado
Costuma-se dizer que onde existe problema haverá oportunidade para startups. Justamente por isso a a55 não é a única a desbravar o mercado de crédito para startups, empresas de tecnologia e negócios de receita recorrente, como software as a service (SaaS). Há competidores por todos os lados, embora essa segmentação ainda não seja algo tão disseminado no Brasil quanto lá fora.
Apesar do modelo diferente, o Venture Debt é o que mais se aproxima do business da a55. A lista de players atuando com essa linha ainda é pequena, e inclui nomes como boostLAB, do BTG Pactual — que também tem uma linha de crédito específica para startups –, Galapagos Capital, Brasil Venture Debt (que está captando novo fundo) e Alfa Collab (do banco Alfa).
O Itaú BBA já começou a oferecer a modalidade para seus clientes de tecnologia, conforme o Finsiders revelou. E a Genial se prepara também para lançar uma operação nesse formato, como Venancio Velloso ao Finsiders em dezembro.
Os concorrentes da a55 também aparecem no produto com foco em financiamento de campanhas digitais. Nesse segmento, está o Divibank que tem plano de lançar em 2022 uma solução para empresas de receita recorrente – no ano passado, a fintech aumentou em mais de 15x o volume de recursos originados.
A V4 Company, rede de assessoria de marketing digital com mais de 3 mil clientes ativos no Brasil e no mundo, lançou no mês passado seu braço de serviços financeiros, o V4 Bank, que prevê conceder R$ 22 milhões em crédito no primeiro ano de atuação.
Em janeiro, o grupo de comunicação VCRP também resolveu entrar na ‘brincadeira’ e lançou em janeiro uma linha de crédito de até R$ 5 milhões para startups investirem em anúncios, branded content, brand publishing e e-books.
A criação de modelos de negócio cada vez mais específicos em crédito, caso do ‘revenue-based financing’ e da linha com foco em startups, é mais uma prova da evolução do mercado de crédito brasileiro e do próprio ecossistema de fintechs no país. Com o Open Finance, a tendência é que essa maior especialização ganhe ainda mais força.
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